Peça: 1984, foto 1

1984: de volta aos palcos montagem sobre o romance de George Orwell

De em outubro 19, 2018

Peça: 1984, foto 1

Carmo Dalla Vecchia e Rodrigo Caetano vivem o opressor e o oprimido da trama

Depois e curta temporada no SESC Consolação, a peça 1984, uma adaptação do romance de George Orwell, está de volta à cidade, agora no Teatro Porto Seguro. Com direção e tradução de Zé Henrique de Paula, a montagem é a versão dos britânicos Duncan MacMillan e Robert Icke da obra de Orwell, publicada em 1949, quando causou grande impacto.

A trama se passa num período do futuro em que a sociedade é controlada pelo Grande Irmão, que assumiu o poder da fictícia Oceânia depois de uma guerra global que eliminou as nações rivais. Sob uma rígida censura, as pessoas são vigiadas a todo instante por teletelas (câmeras) e Winston Smith, vivido por Rodrigo Caetano, trabalha no Ministério da Verdade, onde falsifica registros históricos; no entanto ele escreve um diário com suas ideias contrárias ao sistema.

Peça: 1984, foto 2

Laerte Késsimos, Vecchia, Eric Lenate e Bruno Fagundes no vídeo

 

A montagem do Núcleo Experimental de Teatro, baseada na adaptação britânica, ao contrário do livro, narra os acontecimentos em três dimensões, a realidade, a alucinação e memória. A peça começa com um grupo lendo o diário de Winston, num futuro distante, enquanto ele não sabe se tudo aquilo é real, sonho ou alucinação. Segundo o diretor, a peça questiona as coisas em que as pessoas acreditam e se é possível crer no que elas dizem. Na obra de Orwell, há a novilíngua (supressão de termos para evitar o pensamento) e na peça enfatiza-se o conceito de duplipensamento: será que é possível acreditar em ideias contraditórias?

Winston ganha força quando se apaixona por Julia, interpretada por Gabriela Fontana: ambos acreditam na possibilidade de rebelião popular contra o sistema. No entanto, eles são traídos por O’Brien, papel de Carmo Dalla Vecchia, que lidera a tortura contra Winston.

Em pleno período eleitoral que estamos vivendo, com o país dividido entre ideologias extremas, confesso que a montagem me deixou ainda mais estarrecido com tanta violência, opressão e desrespeito às liberdades individuais — o personagem que encarna a repressão faz o gesto com as mãos e braços imitando arma de fogo, idêntico ao presidenciável da extrema direita! Outro senão do espetáculo, além da ênfase à opressão, é a falta de clareza aos momentos de realidade e alucinação do personagem central; a peça também é muito longa. Entretanto, a obra de Orwell tem sua relevância histórica e literária e esta versão teatral ajuda a compreender a proposta crítica e distópica do autor britânico.

 

Peça: 1984, foto 3

Rogerio Brito, Caetano e Fabio Redkowicz

Roteiro:
1984
Texto: George Orwell. Adaptação: Duncan MacMillan e Robert Icke. Tradução, direção e figurinos: Zé Henrique de Paula. Direção musical: Fernanda Maia. Elenco: Carmo Dalla Vecchia, Rodrigo Caetano, Gabriela Fontana, Eric Lenate, Rogerio Brito, Inês Aranha / Adriana Alencar, Laerte Késsimos, Fabio Redkowicz, Chiara Scallet  e Zé Henrique de Paula (stand in). Preparador corporal: Gabriel Malo. Cenografia: Bruno Anselmo. Iluminação: Fran Barros. Designer de som: João Baracho. Fotografia: Jonatas Marques. Produção: Claudia Miranda. Realização: Núcleo Experimental.
Serviço:
Teatro Porto Seguro (496 lugares), Al. Barão de Piracicaba, 740, tel. 11 3226-7300. Horários: quarta e quinta às 21h Ingressos: de R$ 60 a R$ 20. Bilheteria: de terça a sábado das 13h às 21h e domingo das 12h às 19h. Serviço de vans gratuitas da Estação Luz até o teatro. Duração: 90 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 6 de dezembro.


2 Comentários

Dinah

outubro 19, 2018 @ 16:26

Resposta

Maurício,
Um Ministério da Verdade onde se falsificam registros históricos… em tempos de fake news rolando soltas, isso não nos soa nada estranho, né?
Lendo sua resenha não me dá vontade de ir ver o espetáculo. Já temos opressão demais no momento.

beijo.

Maurício Mellone

outubro 22, 2018 @ 15:04

Resposta

Dinah
Infelizmente a obra de George Orwell
(revisitada no teatro) realmente
ressalta a opressão, o q não podemos nem pensar
que possa existir. Oxalá fique restrita
à literatura e às artes como forma de alerta.
Mais uma vez obrigado pela presença constante
aqui no Favo.
Bjs, obrigado

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