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A Desumanização: adaptação para os palcos da obra de Valter Hugo Mãe

De em maio 16, 2019

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Maria Helena Chira e Fernanda Nobre protagonizam montagem adaptada do romance

 

Além de inédita no Brasil, a adaptação para o teatro, assinada por Fernando Paz, do romance do escritor português de origem angolana Valter Hugo Mãe, A Desumanização, em cartaz no SESC Santana, é impactante e de extrema sensibilidade.

 

 

Sob a direção de José Roberto Jardim, as atrizes Fernanda Nobre e Maria Helena Chira interpretam a personagem central da obra, Halldora ou somente Halla, uma garota ainda muito jovem que é obrigada a saber lidar com a solidão, com a perda. Na verdade ela precisa aprender a viver após a morte de sua irmã gêmea Sigridur, precisa loucamente descobrir a própria identidade, o seu lugar neste mundo que até então era dividido como um espelho com a irmã.

 

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Atrizes são dirigidas por José Roberto Jardim

 

As cenas iniciais deixam os espectadores em atenção máxima: o palco está dividido ao meio e cada parte é milimetricamente igual a outra, são espelhadas e reproduzem um apartamento. Ao entrarem pela porta da frente, as atrizes, com idênticos figurinos, ambas de cabelos curtos e loiros, executam os mesmos movimentos, têm as mesmas falas e reações. Para amplificar ainda mais esta sensação de espelhamento, elas se dirigem para um canto da sala, ligam pequenas câmeras e continuam seus monólogos e reflexões íntimas diante da lente, cujas imagens são projetadas nas paredes.

 

É desta forma que o espectador entende que está diante de Halla, já adulta, que busca incessantemente a própria identidade. Para isto, ela relembra a infância vivida na Islândia, lembra-se da morte da irmã gêmea, de seu envolvimento com um garoto com problemas mentais, da difícil relação com a mãe, da comunidade opressora em que vivia e, principalmente, da sensação de perda e solidão que teve de aprender a lidar ainda tão menina.

 

Se no romance Halla permanece na adolescência em toda a obra, nesta adaptação teatral ela está adulta e dentre suas indagações sobre a vida ela reflete sobre a passagem da infância para a juventude. Há outros dualismos na obra de Hugo Mãe reforçados na montagem, como morte e vida, novo e velho, passado e presente, o outro e eu. No programa da peça o diretor fala da proposta de adaptação do romance:

 

 

 

“Levar ‘A Desumanização’ para o palco é uma oportunidade única de tocar em profundezas que só a imensidão de Valter Hugo Mãe pode nos revelar. Suas palavras nos conduzem a uma profunda jornada na qual o mundo e suas contradições encontram símbolos e lirismos tão arquetípicos quanto o desejo de Halla em sobreviver ao que ela considera absurdo e, paradoxalmente, belo”, argumenta José Roberto Jardim.

 

Com uma dramaturgia que provoca reflexões filosóficas e existenciais, a montagem sabe usufruir da tecnologia para reforçar a narrativa: o espectador pode tanto se ater à fala das atrizes, como se fixar nas imagens projetadas e gravadas ao vivo. E há ainda a repetição da cena, com as atrizes vivendo uma única personagem, as falas e ações são reiteradas. Destaque ainda para a Iluminação de Wagner Freire, cenografia de Belisa Pelizaro, figurino de João Pimenta e visagismo de Leopoldo Pacheco. Porém toda esta produção só se materializa graças à interpretação contundente e visceral de Fernanda Nobre e Maria Helena Chira, que estão lindas e plenas em cena.

Um dos grandes espetáculos em cartaz, que em função da Virada Cultural não terá sessões neste final de semana, voltando dia 24/05, com temporada até final de junho. Programe-se e não deixe de conferir!

 

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Brilhantes atuações de ambas

 

 


Roteiro
:
A Desumanização. Texto: Valter Hugo Mãe. Adaptação: Fernando Paz. Direção: José Roberto Jardim. Elenco: Fernanda Nobre e Maria Helena Chira. Iluminação: Wagner Freire. Cenografia: Belisa Pelizaro. Figurinos: João Pimenta. Trilha sonora original: Marcelo Pellegrini. Videografismo e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud. Visagismo: Leopoldo Pacheco. Direção de produção: Mônica Guimarães. Fotografia: Victor Iemini.  Idealização do projeto: Maria Helena Chira e MOG Produtora.
Serviço:
Sesc Santana, teatro (330 lugares), Av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. 11  2971-8700. Horários: sexta e sábado às 21h e domingo às 18h. Ingressos: R$ 40, R$ 20 e R$ 12 (credencial plena). Bilheteria: de terça a sexta, das 9h às 21h30; sábado das 10h às 21h e domingo das 10h às 18h45. Duração: 75 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 30 de junho (em virtude da Virada Cultural, não haverá espetáculo nos dias 17, 18 e 19 de maio).


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