Filme: Além das Montanhas, foto 1

Além das Montanhas: o opressivo interior de um monastério na Romênia

De em janeiro 21, 2013

Filme: Além das Montanhas, foto 1

Cosmina Stratan e Cristina Flutur vivem as amigas que se reencontram no monastério do padre, vivido por Valeriu Andriuta

Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2007 com 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, o diretor romeno Cristian Mungiu novamente foi agraciado com dois prêmios em Cannes no passado com o filme Além das Montanhas (Dupa Dealuri): melhor atriz para as duas protagonistas Cosmina Stratan, Cristina Flutur e melhor roteiro.
Se no primeiro filme o tema era polêmico e ligado à mulher — o aborto —, neste tanto a polêmica como o enfoque feminino permanecem. Duas amigas que na infância se conheceram num orfanato voltam a se encontrar, agora num vilarejo do interior da Romênia. Alina (Cristina Flutur) chega de um período na Alemanha e é recepcionada na estação de trem por Voichita (Cosmina Stratan). Mas já no primeiro abraço Alina percebe que algo mudou na relação delas: Voichita se incomoda com a demonstração de tanto afeto da amiga em lugar público. Pegam o ônibus e a distância entre elas é visível: só no monastério Alina constata que sua amiga quer mesmo se tornar uma freira, já que no quarto elas não dormirão juntas!
Não bastasse certa frieza da relação, Alina começa a vivenciar o cotidiano do monastério e ter de seguir as regras rigorosas, autoritárias e ortodoxas implantadas pelo padre, interpretado por Valeriu Andriuta. O fanatismo religioso só é contestado pela nova integrante do grupo, formado só por freiras e noviças.

Filme: Além das Montanhas, foto 2

Voichita (Cosmina Stratan) deseja se tornar freira e Alina (Cristina Flutur) não se conforma e tenta convencê-la a deixar o monastério

 

Mesmo não concordando com o sistema de vida do monastério — não há luz elétrica e todas as tarefas são executadas pelas mulheres e da maneira mais rudimentar possível, em pleno século XXI —, Alina tenta se adequar às regras e até submete-se ao ritual da confissão ( a lista dos pecados é infindável!). No entanto, a opressão é muito grande, ela surta e tem um ataque de histeria. É hospitalizada, mas ao voltar não vê diferença alguma e contesta com veemência o comando do padre, que acredita que ela esteja possuída pelo demônio. O tratamento imposto à garota vai culminar num desfecho traumático.

 

O diretor, que também assina o roteiro, optou por não tomar partido na polêmica situação criada no monastério. Apresenta o conflito, mas não se posiciona. O fanatismo religioso e o fundamentalismo também são pouco questionados e a relação homoafetiva entre Alina e Voichita é apenas insinuada. O filme retrata uma opressão incomensurável, sem que haja um contraponto à tamanha violência, o que me provocou um distanciamento e certa aversão. Alguns podem pensar que provocar esta reação é ponto favorável, mas me desagradou profundamente.

Filme: Além das Montanhas, foto 3

A relação afetiva entre as duas amigas é apenas insinuada no filme; as atrizes dividiram o prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes/12

 

 

Entretanto, a interpretação, tanto das atrizes Cosmina Stratan e Cristina Flutur como de Valeriu Andriuta, é sem dúvida o ponto forte de Além das Montanhas. Mas confesso que saí da sala de exibição um tanto incomodado com tanta opressão.

Fotos: divulgação


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