Peça: A Propósito de Senhorita Júlia, foto 1

Alessandra Negrini protagoniza adaptação de clássico de Strindberg

De em abril 25, 2013

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Na adaptação da obra do dramaturgo sueco, Alessandra Negrini é Júlia, filha de um rico deputado brasileiro

Os conflitos gerados pelas diferenças de classe social e os atritos entre o homem e a mulher em função da estrutura de poder reproduzida na relação afetiva são temas universais e atemporais. Partindo deste pressuposto que José Almino e o diretor e cineasta Walter Lima Jr resolveram adaptar o clássico escrito por August Strindberg em 1888, Senhorita Júlia, para o início do século XXI.
Assim surgiu A Propósito de Senhorita Júlia, que acaba de estrear no CCBB-SP, e traz Alessandra Negrini na pele da protagonista Júlia, filha de um rico e corrupto deputado federal que promove uma festa para os empregados da mansão exatamente no dia da posse do ex-sindicalista Luiz Ignácio Lula da Silva na presidência da república. Embriagada, Júlia faz questão de dançar com o motorista de seu pai, Moacir, interpretado por Eucir de Souza, e o envolvimento deles é o que move toda a trama. Como contraponto desta história, há a personagem vivida por Dani Ornellas, a cozinheira da mansão Cristiane, que é a noiva de Moacir.

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Eucir de Souza dá vida ao motorista Moacir, que se envolve com a filha do patrão e é noivo da cozinheira


Tudo acontece nas dependências dos empregados, mais especificamente na cozinha da mansão, que fica no andar inferior, próximo aos dormitórios dos serviçais. Enquanto Cristiane prepara um medicamento para o cãozinho da patroa, Moacir chega faminto e começa a jantar. Nesta hora em que os dois aproveitam o momento de folga para namorar, Júlia chega e pede para que  Moacir volte a dançar com ela na festa. A sedução é explícita, para desconforto de Moacir e irritação de Cristiane.
Por meio da criação deste inusitado triângulo amoroso entre a filha do patrão, o motorista e a cozinheira, as questões suscitadas por Strindberg — o embate das classes sociais, as mazelas e corrupção dos governantes e a rivalidade entre os gêneros — vêm à tona.

 

“O texto oferece a possibilidade de uma leitura universal, pode ser montado em diferentes culturas. Na Suécia do autor havia visível separação de castas e aqui também existem as diferentes classes sociais”, diz Walter Lima Jr.

 

José Almino, que divide a adaptação do texto com o diretor, é enfático ao analisar a estrutura do texto:

“A peça é um jogo, que envolve estas três pessoas, movidas por desejos, projetos, ressentimentos, cálculos ou paixões, reunidas em um instante extremo, no decorrer de uma noite. São coisas próprias da vida e matéria excelente para teatro”.

 

A distância entre os mundos de Júlia, de um lado, e de Moacir e Cristiane de outro, parece intransponível. Moacir é filho de uma antiga empregada da família e sempre foi apaixonado pela filha do patrão. No jogo de sedução, ele sede, mas no fundo vê naquela aproximação a chance de ascensão social; quem o remete à realidade é justamente Cristiane.

O que mais me encantou em A Propósito de Senhorita Júlia é o vigor e a entrega dos três atores em cena. Alessandra é muito convincente ao mostrar tanto o desencanto de Júlia com sua vida supérflua, como a paixão avassaladora por um homem tão diferente do seu meio social. Eucir, de forma visceral, revela as diversas facetas daquele motorista: do submisso empregado ao machão e dominador.

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Dani Ornellas interpreta a cozinheira Cristiane, que faz o contraponto da trama

Já Dani compõe sua personagem com verdade: aquela cozinheira evangélica com os pés fincados no chão pode ser vista hoje, ao cruzarmos a rua.
Ótima oportunidade para revermos um clássico de Strindberg com uma pitada de contemporaneidade.

Fotos: Cláudia Ribeiro


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