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Amor, filme de Michael Haneke, provoca reflexão sobre vida e morte

De em janeiro 24, 2013

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Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva interpretam o casal George e Anne no filme que recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes/12

Tendo praticamente como único cenário o apartamento do casal em Paris, Amor (Amour) faz uma profunda radiografia na relação entre Anne e George, vividos brilhantemente pelos atores Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant. O diretor austríaco Michael Haneke, que também assina o roteiro, optou por centrar a trama na residência dos professores de música talvez para dissecar melhor a vida deles, do profundo amor ao estranhamento após o derrame sofrido por Anne e as transformações no cotidiano do casal em decorrência da evolução da doença. E não há surpresa alguma ao espectador, já que a cena inicial revela a morte da personagem. Num salto cronológico da história, as cenas subsequentes são da plateia de um concerto musical e em seguida Anne e George voltam para casa felizes por terem prestigiado a belíssima performance de um ex-aluno de Anne. Ao acordarem, na mesa do café da manhã, ela apresenta o primeiro sintoma da doença, que irá transformar por completo a vida do casal.

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George e Anne vivem uma profunda relação amorosa, em cumplicidade total, na vida e na morte

Mais do que relatar a evolução da doença de Anne — uma professora de piano que como sequela fica com o lado direito do corpo totalmente paralisado —, Haneke discute questões existenciais, como o sentido da vida e da morte. Logo ao voltar pra casa depois de ser operada e saber que a cadeira de rodas será seu único meio de locomoção, a mulher faz George prometer que nunca mais a levará para um hospital. Um pacto entre eles é firmado naquele instante: o espectador pode inferir que o casal deseja qualidade de vida e que métodos sofisticados da medicina moderna que dão sobrevida ao paciente (não qualidade de vida) deverão ser desprezados.

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Isabelle Huppert  dá vida à  filha do casal e entra em conflito com o pai sobre o tratamento dado à mãe

Sem dúvida esta é uma questão íntima e que deve ser respeitada pela família. O que normalmente não acontece e no filme não é diferente: a filha do casal, interpretada pela grande atriz Isabelle Huppert, vive com o marido em outro país e não se conforma com o estado de saúde da mãe e como o pai se recusa a submeter Anne a tratamentos mais avançados. Uma das cenas entre pai e filha em que este conflito é escancarado, é de uma lucidez incrível, o que facilita o entendimento da postura daquele homem e o desfecho proposto pelo diretor.
Amor não dá trégua ao espectador: é de uma tensão do início ao fim, tanto que ao final o silêncio na sala de exibição é monumental, tanto na tela (os letreiros finais são apresentados sem qualquer trilha sonora) como na plateia; todos saem sem pronunciar palavra alguma. Só depois de alguns minutos é que consegui verbalizar alguma coisa…

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O diretor Michael Haneke com a premiação de Cannes, ladeado pelos atores Emmanuelle e Jean-Louis

Não por acaso Amor foi ovacionado em Cannes e recebeu cinco indicações ao Oscar 2013 (filme, atriz, direção, roteiro original e filme de língua estrangeira). Imperdível, mas vá preparado para assistir a um filme provocador.

Fotos: divulgação


4 Comentários

Nanete Neves

janeiro 31, 2013 @ 19:58

Resposta

Segui a tua dica e fui conferir. É poesia com faca!

Maurício Mellone

fevereiro 1, 2013 @ 14:45

Resposta

Nanete:
Bela definição do filme do Haneke!
bjs, querida!

José Edvardo Pereira Lima

janeiro 26, 2013 @ 11:32

Resposta

Maurício,
assistimos juntos a “Amor” e saímos ‘encantadamente’ estarrecidos. Um amigo considerou o filme “sublime”. Eu complemento: é um poema de versos secos e contundentes, como é o estilo do diretor Michael Haneke, sobre nossa finitude. Entre diversas leituras, o filme me remeteu ao recente suicídio do Walmor Chagas. Um ator brilhante, uma bela figura, carismático, culto e que adorava ler. Mas as mazelas da velhice já estavam impedindo-o de ler, se locomover e ele tinha consciência de que a situação só ia piorar. Por isso, decidiu ir por conta própria para não depender de amigos e dar trabalho aos outros.
Voltando ao “Amor”, além da soberba interpretação de Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintgnan, duas cenas me marcaram. No café da manhã, ela pede para ver o álbum de fotografias. Prefere trocar o alimento matinal para se alimentar da felicidade do passado que aquelas fotos revivem. Nos momentos finais, George recolhe a pomba que invadiu seu apartamento, insistindo em permanecer num ambiente em que a vida está indo embora, e a embala carinhosamente. Na cena seguinte, na carta que escreve, comenta que foi difícil libertar a pomba, assim como deve ter sido difícil para ele libertar sua Anne daquele sofrimento. Lembrei-me, então, de um trecho do emocionado discurso de Jean-Louis Trintgnan após a entrega da Palma de Ouro de melhor filme a “Amor” no 65º Festival de Cinema de Cannes, em maio do ano passado: “Vamos tentar ser felizes, nem que seja só para dar o exemplo.”

Maurício Mellone

janeiro 26, 2013 @ 18:39

Resposta

Zedu:
Sua lembrança do grande Walmor Chagas comparando com a trama de ‘Amor’ é certeira.
Viver com qualidade e não pela quantidade de anos.
Tentemos ser felizes, sem,pre!
bjs e muito obrigado pela contundente participação aqui!

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