Angústia criativa

De em julho 2, 2010

Ilustração de Ulysses Bôscolo

A diferença dos escritos (que mantenho em meu velho computador há mais de uma década) é que a partir do momento que esse blog virou uma realidade, não consigo mais sentar para escrever sem um foco definido, apenas jogando palavras ao léu! Por mais que isso tenha sido de muita valia para o meu exercício com a palavra, hoje paro para escrever já com a cabeça no blog.
O que isso significa: hoje já há um veículo e, para tanto, um leitor real. A comunicação se concretiza e a minha relação mudou com esses escritos!
Essa foi sempre minha intenção com a criação do blog: que haja um incentivo extra para a minha criação, a minha expressão verbal.
Quero cumprir, assim, uma das metas que me impus: não me afastar do meu texto, deixar vir à tona minha sensibilidade.
O blog está muito próximo da linguagem jornalística (que é o meu ganha-pão há quase 30 anos), mas ele pode e deve me induzir a escrever aquilo que me motive e me dê prazer. Que a ficção, seja ela de que gênero for, possa vir à tona cada vez de forma mais espontânea.
Aquela angústia criativa — antes de ser parida, a palavra parece que deseja tomar forma por si só! —, hoje me assolou. Por isso essa postagem.
As histórias pungentes de Leusa Araujo, de seu mais recente livro náufragos emergentes_ seis histórias ordinárias me impulsionaram a estar aqui. Um dia após o lançamento da obra, já descrevi a emoção de participar daquela festa, iluminada com a presença de grandes amigos. No entanto, hoje a “narrativa polifônica”, como bem traduziu Alvaro Machado, os personagens envolventes em tramas muito bem articuladas me deixaram completamente apaixonado pelo universo criado por Leusa. Tenho certeza que essa é a sensação provocada no leitor ao entrar em contato com esses brasileiros “sobe-desce” (definição da própria autora na dedicatória no meu exemplar). Particularmente, o conto um dia no vaticano me tocou em especial. Não só pela sensível história de amor entre Semíramis e Abelardo, mas principalmente pela narrativa ágil e cortante: de um parágrafo para outro, ou de uma linha para a seguinte todo o desenlace da história do casal.
“Semíramis acordou com os olhos inchados e ficou ouvindo a parada de sucessos até o entardecer. Nada de Abelardo para a valsa da meia-noite.”
Simplesmente encantador! Que outras histórias ordinárias desse baú que acabou de ser aberto (esse livro é a estreia de Leusa Araujo na literatura voltada para adultos, já que tinha escrito obras dirigidas aos jovens) venham em breve nos deliciar!


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