As Neves do Kilimanjaro: solidariedade é a ênfase do filme

De em abril 12, 2012

O escritor e jornalista Zedu Lima, especialmente para o Favo

Mais uma vez tenho a honra de contar aqui no Favo com a participação do escritor e jornalista Zedu Lima, que assistiu ao filme As Neves de Kilimanjaro e não se conteve: precisou traduzir em palavras todo o seu entusiasmo pela obra. Para ele, o que prevalece no filme é a solidariedade, moeda infelizmente em falta nos dias atuais. Além de agradecer ao meu amigo por mais esta colaboração, gostaria de saber sua opinião, tanto sobre a crítica do Zedu como do blog de uma maneira geral. Boa leitura!

Cartaz do filme dirigido pelo francês Robert Guédiguian

Grudado na cadeira do cinema

Assisti a um filme fantástico, daqueles que me deixam grudado na cadeira do cinema após seu término. Trata-se do francês As Neves do Kilimanjaro, dirigido por Robert Guédiguian, apresentado na Mostra Internacional de Cinema do ano passado, quando foi considerado por quem o assistiu um dos melhores do evento. Não assisti na ocasião porque já estava anunciado para o circuito normal.
Michel, líder trabalhista, socialista, inclui seu nome entre os 20 funcionários que serão sorteados para serem demitidos de um estaleiro que passa por grande dificuldade financeira, acreditando ser esta a atitude mais justa. Marie Claire, sua mulher, faz bicos como faxineira. Familiares e amigos resolvem presenteá-los com uma viagem para o Monte de Kilimanjaro, na Tanzânia, para aproveitar essa ‘aposentadoria’. Um fato inesperado e violento acontece, alterando não apenas os planos de viagem, mas colocando em questionamento as convicções ideológicas diante de uma nova realidade socioeconômica, de novos valores éticos, de novas necessidades. A atitude de Michel, que ele julgava tão justa, não é assimilada como tal por um ex-colega de trabalho, bem mais moço e com outra visão dos direitos trabalhistas. O que é certo? O que é errado? O que a princípio poderia ser uma atitude egoísta do agressor no fato violento, mostra-se exatamente o oposto. O filme aponta esses questionamentos sem nenhum didatismo ou discursos estéreis e, melhor ainda, sem nenhum julgamento de valor.
Há um diálogo que ilustra particularmente o que digo e, para mim uma das melhores cenas do filme. ‘Licenciado’, Michel dá-se ao luxo de tomar seus drinques no final da tarde e jogar caroços de azeitonas pela varanda de sua casa. Ao ouvi-lo falar, sua mulher pergunta se ele estava falando com estranhos. Ele responde que estava falando com eles mesmos. “Com assim?”, pergunta ela. “Estava imaginando o que nós, há 30 anos, acharíamos de nós nessa situação”. Renitente, ela diz: “Diriam que somos burgueses”. “Sim, somos burgueses, Marie Claire”. Ao que ela retruca: “Um pouco burgueses” (ora, não existe pouco burgueses, assim como não existe meio virgem). Ela continua: “Diriam que são pessoas felizes e se são tão felizes assim é porque não fizeram mal a ninguém”. Não é bem o que pensa o jovem ex-colega de trabalho.

Jean-Pierre Darroussin e Ariane Ascaride: perfeita composição do casal principal

Mas o que prevalece no final é uma moeda que, infelizmente, está saindo de circulação: a solidariedade, o envolvimento coletivo em favor de alguém mais frágil, com a força de um humanismo genuíno.
Não poderia terminar sem falar do irrepreensível elenco, desde as crianças até seus avôs, com destaque para os excelentes Jean-Pierre Darroussin e Ariane Ascaride, numa mais que perfeita composição do casal principal.

Zedu Lima


10 Comentários

Roseli

maio 24, 2012 @ 22:24

Resposta

Muito bom o texto do escritor e jornalista Zedu, principalmente pela definição da frase:
“Mas o que prevalece no final é uma moeda que, infelizmente, está saindo de circulação: a solidariedade, o envolvimento coletivo em favor de alguém mais frágil, com a força de um humanismo genuíno”.
Não tem mais o que comentar … é isto e ponto.
Parabéns!!!!!!!!!

Maurício Mellone

maio 25, 2012 @ 14:26

Resposta

Roseli:
O filme criticado pelo Zedu é maravilhoso e fiquei dias pensando nele.
O q o Zedu disse é a mais pura verdade: hoje em dia as pessoas fogem de vínculos afetivos
e parece que só pensam no próprio umbigo! Uma pena!
Obrigado pela visita e pelos elogios. Volte sempre!
abr

Maurício Mellone

abril 27, 2012 @ 12:43

Resposta

Zedu:
Finalmente consegui assistir ao ‘Neves’ e durante a projeção
lembrava do seu texto!
Vc tem toda a razão, é um filme para deixar qualquer um grudado
na poltrona do cinema! E melhor: pensar nele e nas reflexões
apresentadas pelo roteirista durante muito tempo!
Ética, moral e princípios, tudo é questionado e nos deixa sem fôlego.
Queria tanto que segmentos da esquerda no Brasil pudessem
compreender a dimensão e profundidade propotas e discutidas neste
belíssimo e emocionante filme francês!
Parabéns e novamente obrigado por sua colaboração
bjs
Maurício

Mario Viana

abril 20, 2012 @ 19:31

Resposta

Mauricio e Zedu, aproveitei uma folga na novelice e corri pra ver As Neves… Estou absolutamente passado, apaixonado, enxugando as lágrimas… O filme é de uma “humanidade” estonteante. Ele não deixa nenhum lado sem defesa, mas assume a postura dos protagonistas – acredita no trabalho de formiga, do fazer sua parte na barafunda que o mundo virou. E o elenco! Meu Deus, que elenco!!!!

Maurício Mellone

abril 23, 2012 @ 20:50

Resposta

Mário:
agora já está agendado: amanhã vou assistir! rsrsrs
O Zedu já tinha me convencido e agora é definitivo!
As Neves deve ser “estonteante” mesmo!
Bjs e força aí na “novelice”!

Milton Correia Jr

abril 16, 2012 @ 14:25

Resposta

Ontem (12/04) fui assistir “As Neves do Kilimanjaro”. Roteiro bem interessante, bem amarrado, bem inteligente. O que nos parece certo ou errado é mera questão de ponto de vista. No caso, ambos, ele e o jovem, tinham suas razões. Sentimentos ambivalentes, paternalismo, instinto de proteção, tudo misturado. Belo filme.Quanto ao fato de todos sermos burgueses, sim, vejo hoje que quanto mais ortodoxos eram nossos amigos, mais burgueses eles se tornaram. Os marxistas e comunistas de carteirinha foram os que mais se deram bem e hoje são prósperos capitalistas, explorando os seus trabalhadores sem o mínimo peso na consciência. Os antigos hippies mochileiros da contracultura, idem.
C’est la vie !
Milton Correia Jr.
megajor@uol.com.br

Maurício Mellone

abril 16, 2012 @ 14:32

Resposta

Milton:
O Zedu disse que o retorno de amigos, como este seu comentário acima, é que o
deixa em dúvida em criar o próprio blog. Adora perceber a receptividade que seus
textos provocam, mas ao mesmo tempo a grande maioria das pessoas não se manifesta
ou emite comentários só por meio do tradicional e-mail, quase nunca aqui neste
espaço de interação que é o blog.
Eu sempre insisto com nosso amigo para criar seu espaço de conversa com os leitores;
fiquemos na torcida para que tanto vc como eu e tantos outros consigamos convencê-lo
a criar um blog ou tornar as Pinceladas num site!
abr e volte sempre

Neide Aparecida Pereira de Araujo

abril 12, 2012 @ 22:31

Resposta

Adorei o filme e já vi 2 vezes! Além de passar a mensagem de solidariedade, percebi que o grande diretor Robert Guédiguian ainda acredita no ser humano… Eu gostaria se possível pq não consegjui saber durante as duas sessões as quais assisti deslumbrada, o nome da canção que toca quando aparece Jean-Pierre Darroussin e Ariane Ascaride. Já tentei no google, sem sucesso. Obrigada.

Maurício Mellone

abril 13, 2012 @ 11:05

Resposta

Neide:
Vou tentar saber com o autor da resenha, o jornalista Zedu.
Se conseguir saber a música, volto aqui para te informar.
Obrigado pela visita, volte sempre!
abr

Maurício Mellone

abril 13, 2012 @ 14:24

Resposta

Neide:
Perguntei ao Zedu sobre a canção e ele disse q poderia ser:
. ‘Pavane pour une enfante defunte’ (Pavana para uma princesa defunta), de Maurice Ravel.

Seria essa? Tomara q seja
abr

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