Filme: Cinema Cinza, foto 1

Cidade Cinza: documentário discute ocupação da cidade de São Paulo

De em dezembro 9, 2013

Filme: Cinema Cinza, foto 1

Mural que os grafiteiros OsGêmeos, Nina, Nunca, Zefix, Finok e Ise recuperaram depois de ter sido apagado pela Prefeitura

As cenas iniciais do documentário de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, Cidade Cinza, são aéreas e mostram o mar, não de água salgada, mas de concreto dos arranha-céus intermináveis da cidade de São Paulo. Em off, os irmãos Otávio e Augusto Pandolfo, a dupla de grafiteiros OsGêmeos, discorrem sobre a falta de natureza, de verde em São Paulo e como a cidade passa a ser suporte para que a população se manifeste. O trabalho de grafite deles e de outros tantos artistas urbanos, como Nina, Nunca, Zefix, Finok e Ise que participam do filme, serve como pano de fundo para que os diretores discutam o caótico planejamento urbano e como deve ser a ocupação das grandes cidades, no Brasil e no mundo.

 

Filme: Cidade Cinza, foto 2

Mural fica na Av. 23 de Maio, em São Paulo

Com roteiro de Felipe Lacerda, Marcelo Mesquita e Peppe Siffredi, o documentário parte de um ato deplorável da prefeitura, gestão Gilberto Kassab, que em 2008 pintou de cinza um mural de mais de 700 m² que OsGêmeos haviam grafitado na Avenida 23 de Maio. Com a manifestação ruidosa na mídia e por ironia do destino — os irmãos Pandolfo tinham sido convidados a grafitar a fachada de um dos maiores e mais prestigiados museus de Londres, o Tate Modern —, a administração municipal foi obrigada a reconhecer o erro e convidou os artistas para refazer o mural. OsGêmos então resolveram convidar seus amigos e a recuperação do mural virou um ato político, mesmo tendo sido patrocinado pela Associação Comercial de São Paulo.

Filme: Cidade Cinza, foto 3

Cartaz do filme dirigido por Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo

Cidade Cinza, portanto, é construído a partir da recuperação do grafite, com depoimentos de todos os artistas envolvidos na obra durante sua elaboração. O incrível do filme é que paralelamente a este trabalho dos artistas, os diretores colhem o depoimento da equipe da prefeitura encarregada por “limpar” de cinza a cidade. Junto aos funcionários, no próprio veículo que percorre os bairros, o documentário registra como estas pessoas (sem qualquer qualificação técnica) pintam as paredes de cinza, apagando pichações e grafites. E os funcionários ainda perguntam, olhando para a câmera, se aquilo pode ser considerado arte! E aí apagam tudo, sem qualquer critério ou aval estético. A cena em que eles apagam diversos desenhos e deixam um apenas, mas apagam o nome do autor do grafite, é hilária e ao mesmo tempo revoltante. Como aqueles funcionários, que são pagos pela população, têm este direito?
Este tipo de desrespeito dos governantes aos cidadãos fica enfatizado no documentário, que, por meio dos depoimentos dos artistas, discute a necessidade de expressão individual e as restrições à apropriação do espaço público. Com trilha sonora muito apropriada de
Criolo e Daniel Ganjaman, o filme mostra ainda a ligação do grafite com as demais manifestações artísticas da periferia dos grandes centros urbanos, como hip hop, o break. Há cenas dos irmãos Pandolfo em eventos no centro de São Paulo, em plena década de 80 (com depoimentos dos pais deles, inclusive).
Em meio aos lançamentos de final de ano, festas e férias, fico na torcida para que o documentário Cidade Cinza não seja esquecido. Uma discussão que merece ser encampada por grande número de pessoas.

Fotos: divulgação


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