Elza, documentário sobre a carreira da cantora

De em março 29, 2011

Elza Soares tem sua carreira retratada em documentário

Em plano fechado, Elza Soares começa o documentário sobre sua carreira contando sobre sua primeira aparição no programa de Ari Barroso. Muito magra e com vestido da mãe, o apresentador pergunta de que planeta ela vinha; de supetão, ela diz que do mesmo planeta dele, o planeta fome! Cantou e Ari emocionado disse que estava nascendo uma estrela!
Profecia ou a certeza de que estava diante de um verdadeiro diamante? Com certeza Ari Barroso, que sabia reconhecer talentos, viu o potencial daquela garota, que em pouco tempo revolucionou o panorama musical brasileiro, com sua voz única e marcante, seu suingue e sua criatividade ao cantar — a rouquidão e o fraseado peculiar são suas marcas registradas.
Elza, documentário de Izabel Jaguaribe (autora do premiado Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje) e Ernesto Baldan, com roteiro de Suzana Macedo, coloca em primeiro plano a música de Elza da Conceição Soares. A mulher pobre da favela, mãe de muitos filhos, viúva do craque Garrincha, vítima de preconceito e maledicência da sociedade conservadora, tudo isso é passado e Elza Soares não tem olhos voltados para o retrovisor. Elza é o presente, o aqui e agora. Por isso o filme é encantador e envolvente, pois joga os holofotes para a carreira da cantora, ou seja, para a vida de Elza, que é a sua música.
Em tom intimista, o filme intercala depoimentos (dela e de pessoas ligadas a sua carreira) com números que Elza apresenta especialmente para as câmeras. Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Caetano Veloso, José Miguel Wisnik (que dirigiu o álbum Do Coccix até o Pescoço de 2002), Maria Bethânia, Jorge Bem Jor, Mart’nália e o antropólogo Hermano Vianna são alguns dos participantes.
Elza faz duo com Paulinho em ‘A Flor e o Espinho’ (Nelson Cavaquinho / Guilherme de Brito / Alcides Caminha); ao lado de Bethânia, ela canta várias canções e juntas interpretam ‘Rosa Morena’, de Dorival Caymmi. Nesse momento, os diretores introduzem, em tom vermelho, imagens de santos do candomblé, velas e incensos; Bethânia está solta, alegre, reverenciando a amiga. Destaque também para Caetano, que no violão canta ‘Dor de Cotovelo’, que compôs para Elza: ela se emociona e vai às lágrimas, ficando na penumbra. E para fechar, um duo com Jorge Bem Jor em ‘Jorge da Capadócia’, novamente uma reverência a são Jorge/Ogum, divindade afro venerada pela cantora.
Além da voz que é seu cartão de visita, Elza possui uma versatilidade rítmica impressionante: com muita naturalidade ela interpreta tanto o samba, como o cool jazz, o funk carioca, o rap, o rock, o soul. As canções ganham novo formato na voz de Elza, ela passa a ser co-autora de muitas músicas que gravou. Sua versatilidade musical é evidenciada no documentário, com os variados estilos que interpreta nos 82 minutos de projeção.
Único senão: um filme encantador como Elza
está sendo exibido somente em duas salas na cidade de São Paulo e pior: somente em uma sessão das duas únicas salas! Uma lástima! Tipo de problema muito comum no Brasil, onde a distribuição é dominada de maneira avassaladora pela indústria cinematográfica norte-americana!
Foto: Ricardo Prado


6 Comentários

Julio Barros

julho 31, 2014 @ 00:18

Resposta

Mellone, procuro na internet o trecho do filme em que ela canta com Paulinho da Viola “A Flor e o Espinho” mas não encontro de jeito nenhum. Vc poderia me ajudar?

Maurício Mellone

julho 31, 2014 @ 09:40

Resposta

Julio,
não sei como te ajudar, infelizmente.
Se vc já procurou na net e no You Tube e não conseguiu achar,
não tenho mais dicas.
Boa sorte, tomara q vc encontre
abr
obrigado pela visita

Júlio César Ferreira Barbosa

janeiro 20, 2014 @ 11:46

Resposta

Mellone, primeiro parabéns! Pelo texto, em um país sem memoria, pessoas como você ajudam a manter vivo o que há de melhor nestas terras. Tenho procurado na internet, única fonte de pesquisa, a gravação do programa “Calouros em desfile” que você destaca no início do texto e que é a grande aparição de Elza Soares, mas não encontrei ainda. Você sabe onde posso encontrar?

Meus endereços eletrônicos são: dulaazul@hotmail.com e jcfb09@yahoo.com.br

Grato! Pelo texto.

Maurício Mellone

janeiro 20, 2014 @ 12:49

Resposta

Júlio:
Obrigado pelos elogios à resenha sobre o documentário sobre a cantora Elza Soares.
Infelizmente não tenho como te auxiliar sobre o programa de calouro do Ary Barroso
que ela participou. Vc já tentou o MIS (Museu de Imagem e do Som)?
Talvez lá haja algum registro sobre o programa ou sobre a carreira dela.
Boa sorte e terei o maior prazer em recebe-lo outras vezes por aqui.
abr

Zedu Lima

abril 4, 2011 @ 12:02

Resposta

Maurício,
Gostei muito do documentário, exatamente por mostrar a Elza cantora exepcional que é, pois sua vida sofrida já está mais do que contada e divulgada em livro e pela própria.
Ao mesmo tempo, e por esse viés que os diretores do filme escolheram em mostrar a Elza cantora e intérprete magnífica, observei muitos vazios. Acompanho a carreira dela, desde quando surgiu, me arrebatando com aquela introdução absolutamente inusitada na música popular brasileira ao colocar uma improvisação vocal no “Se acaso fosse chegasse”, bem ao estílo de um Louis Armstrong, sem perder a essência desse samba. Afinal, eu vinha de uma Dalva de Oliveira, Angela Maria, Maysa, Emilinha, Elizeth.
O que senti falta no filme foi não apresentar ou mencionar o período em que ela se autoexilou na Europa, não para fugir ou chorar as mágosas, mas para aprender e se aperfeiçoar musicalmente. Quando voltou, ninguém mais se lembrava dela. E foi Caetano Veloso que a resgatou ao gravar com Elza a música “Língua”. Ora, se o filme se propunha a mostrar a cantora, essas menções não deveriam estar fora. Pelo mesmo motivo, senti muita falta de pelo menos uma menção do cd “Do cóccix até o pescoço”, lançado em 2002, que eu considero até hoje o melhor disco daquele ano. Nele Elza esbanja toda a sua versatilidade, cantando com muita propriedade desde hip hop até a valsa do Ernesto Nazareth, “Bambino”; transforma “Fadas”, do Luis Melodia, em tango, e duela com o pandeiro do Marcos Suzano em vários sambas que fazem parte do cancioneiro nosso.

Zedu

Maurício Mellone

abril 4, 2011 @ 12:06

Resposta

Zedu:
Como conhecedor da música brasileira, vc menciona fatos realmente superimportantes
da carreira musical de Elza Soares que ficaram de fora do documentário. A gravação de Língua é mesmo
um marco na vida dela, pois foi um resgate propiciado pelo Caetano. Eles bem podiam ter cantado essa
canção….
Vc deixa registrado aqui a lacuna dos diretores.
bjs

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