Estreia O Casamento Suspeitoso de Ariano Suassuna

De em agosto 23, 2011

Joaz Campos, Suzana Alves, Bete Dorgam e Marco Antonio Pâmio

Não pude comparecer à pré-estreia da peça O Casamento Suspeitoso, mas contei com a colaboração do jornalista e dramaturgo Mário Viana que não só esteve presente como participa pela primeira vez aqui do blog com sua resenha sobre o espetáculo. Como homem de teatro, Mário tem uma visão muito focada em produção e montagem teatrais e ressalta a atuação dos atores para o texto de Suassuna. Confira! Mário, deixo aqui também registrado meus agradecimentos e a honra de contar com sua verve nesse Favo.

O Casamento Suspeitoso pode nem ser a melhor peça do paraibano Ariano Suassuna, mas é inegável que tem em sua receita todos os ingredientes do mais divertido teatro popular brasileiro. A atual montagem do Centro Cultural Fiesp, o Teatro do Sesi, na Avenida Paulista, honra as intenções do autor e oferece ao público um espetáculo irretocável até mesmo em suas imperfeições – há gordurinhas no texto, que se repete em alguns momentos, por exemplo. Da história, há poucas surpresas a contar: Lúcia Renata (Suzana Alves) desembarca em Taperoá, com toda a trempa familiar, para firmar casamento com o inseguro Geraldo (Joaz Campos), filho da coronela Dona Guida (Bete Dorgam). A intenção da noiva é garfar o dinheiro do noivo, mas seus planos enfrentam a esperteza maliciosa de Cancão (Marco Antonio Pâmio) e Gaspar (Rogério Brito). Está armada a confusão, que envolve ainda um padre atrapalhado (Abraão Farc) e uma futura sogra insaciável (Nani de Oliveira).
Habituado a navegar em águas mais clássicas — como Ibsen e Brecht —, o diretor Sérgio Ferrara revela-se um bom fuçador da comédia popular brasileira. Ele já havia dado mostras disso no mesmo teatro, ao dirigir Pororoca, de Zen Salles, com excelente resultado. Agora, em ritmo de farsa circense, Ferrara entregou-se à farra. Para sorte do público, o elenco segue o diretor sem medo nem timidez.

Gaspar e Cancão, interpretados por Rogério Brito e Pâmio

Para quem se habituou a ver Marco Antonio Pâmio em desempenhos densos, chega a ser estranho visualizá-lo como Cancão. Mas bastam duas falas e uma cena com Rogério Brito para estar formada a dupla — saudavelmente inspirada em Oscarito e Grande Otelo. Nani de Oliveira, no papel da devassa Susana Cláudia, é a primeira a ganhar o público com suas falas de duplo sentido. Mas surpresa mesmo causam Nicolas Trevijano e Suzana Alves. O primeiro, por não ter tido até então a chance de mostrar seu ritmo cômico. E Suzana, depois de muitos anos e muito estudo, consegue finalmente dar a volta na Tiazinha, personagem que a consagrou na TV e colou-se como um selo de má qualidade.
Mérito dos atores, mas também do diretor, que soube conduzi-los pelo mar perigoso do teatro popular — as risadas que, certamente, marcarão as apresentações podem animar demais os atores e o que é um olhar acaba virando careta, e o que era careta acaba virando uma cena inteira de improviso desnecessário. O texto já traz em si toda a graça e dispensa exageros. É questão de manter o olhar firme sobre o palco.

Mário Viana

Fotos: Bob Souza


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