Filme: Flores Raras, foto 1

Flores Raras: o amor entre Elizabeth Bishop e Lota de Macedo Soares

De em agosto 23, 2013

Filme: Flores Raras, foto 1

Miranda Otto e Glória Pires interpretam Elizabeth Bishop e Lota de Macedo Soares, que viveram intensa relação amorosa entre as décadas de 50 e 60

História já retratada no teatro — peça de Marta Góes estrelada por Regina Braga, Um Porto para Elizabeth Bishop — chega agora ao cinema pelas mãos de Bruno Barreto. Flores Raras mostra a intensa história de amor entre a poeta norte-americana Elizabeth Bishop, vivida pela australiana Miranda Otto, e a paisagista brasileira Maria Carlota de Macedo Soares, a Lota, interpretada com vigor e brilhantismo por Glória Pires.
Com roteiro de Carolina Kotscho e Matthew Chapman baseado no livro Flores Raras e Banalíssimas de Carmen Oliveira, o filme começa em Nova York com Bishop confessando ao amigo e editor Robert Lowell (Treat Williams) que precisa  viajar para se reciclar e buscar novas inspirações. Na verdade deprimida e sofrendo de alcoolismo, a poeta vem para a América do Sul para se recuperar. De passagem pelo Brasil, visita a amiga de faculdade Mary Morse (Tracy Middendorf), que vivia em Petrópolis ao lado da paisagista Lota. A intenção era passar somente alguns dias, mas em virtude de uma alergia a caju, Bishop é hospitalizada e Lota a convida para ficar em sua casa. A paixão entre elas é fulminante e de três ou quatro dias, Bishop vive no Brasil mais de 15 anos.

Miranda contracena com Tracy Middendorf (Mary) e é observada por Glória: inusitado triângulo amoroso

Miranda contracena com Tracy Middendorf (Mary) e é observada por Glória: inusitado triângulo amoroso

Tímida e contida, Bishop sente-se atraída por Lota, uma mulher arrojada, destemida e criativa — autodidata em urbanismo e paisagismo, foi a responsável pelo projeto do aterro do Flamengo no Rio. A atração é mútua e em pouco tempo Lota assume sua relação com a poeta, sem se afastar da antiga namorada, Mary, que permanece na mesma propriedade, só que agora com uma menina recém-nascida que elas adotam.
O filme retrata tanto a história de amor entre Bishop e Lota e o crescimento profissional de ambas como a transformação por que viveu o Brasil. Muito bem instalada no estúdio construído por Lota, Bishop tem uma fase de grande e criativa produção (ganha o prêmio Pulitzer em 1956 pelo livro Norte & Sul- Uma Primavera Fria). Já Lota é indicada pelo governador Carlos Lacerda (interpretado por Marcelo Airoldi) para projetar o aterro do Flamengo e vive um momento de efervescência profissional, motivo inclusive que arrefeceu o romance entre elas. Se o momento de vida das duas era de explosão criativa, o Brasil também viveu épocas contrastantes: da euforia desenvolvimentista dos anos JK e o surgimento de grandes movimentos culturais (bossa-nova, cinema novo, tropicália), o país enfrenta o retrocesso, com o golpe militar, a instauração da ditadura e o cerceamento das liberdades individuais.

Filme: Flores Raras, foto 3

Glória Pires numa atuação vigorosa na pele da paisagista brasileira

 

Da mesma forma como o país passava por turbulências, a relação delas também entra em crise, com Bishop aceitando um convite para dar aulas numa universidade norte-americana depois de discussões profundas entre as duas.
Além das interpretações brilhantes de Glória Pires e Miranda Otto, Flores Raras encanta pela plasticidade das cenas e o olhar sensível e delicado para a relação lésbica: Bruno Barreto soube ressaltar a sensualidade entre o casal, sem qualquer apelação.

Fotos: divulgação


6 Comentários

Mariana P Souza

março 16, 2017 @ 14:08

Resposta

Olá! Sua matéria me deixou interessada em assistir o filme e saber mais sobre essas mulheres. Ótima matéria parabéns! Um Abraço!

Maurício Mellone

março 16, 2017 @ 16:46

Resposta

Mariana,
realmente a história da poeta norte-americana e seu romance
com a arquiteta brasileira são encantadores.
Além do filme, a atriz Regina Braga viveu no teatro
esta grande escritora.
Obrigado pela visita e volte sempre
bjs

Flavio

agosto 23, 2013 @ 23:42

Resposta

Mauricio, realmente , a relaçao das personagens lesbicas, foi muito bem abordada , encarada de forma tao natural a convivencia entre elas , numa epoca tao conservadora ! E que corajosas , estas Senhoras, enfrentando toda a sociedade , meios politicos e todo o RJ! Parabens pela resenha !

Maurício Mellone

agosto 26, 2013 @ 12:00

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Flávio:
Li uma reportagem na Folha q levanta uma questão sobre a aceitação das duas lésbicas
em plena sociedade carioca dos anos 50/60: o poder aquisitivo!
A Lota era de família tradicional e de muitas posses; já a escritora norte-americana
trazia consigo o prestígio internacional.
Aí preconceito e discriminação não conseguem se impor!
Questão para se refletir.
bjs e obrigado pela participação aqui!

Dinah

agosto 23, 2013 @ 19:11

Resposta

Maurício,
Ótima resenha!
As matérias que li até agora também rasgam elogios ao filme. E gosto muito da Glória Pires.
Esse não perco!Já deixei passar a peça com a Regina Braga…
Depois trocamos impressões, ok?

beijo,
Dinah

Maurício Mellone

agosto 26, 2013 @ 12:02

Resposta

Dinah, não perca mesmo!
Vc vai se emocionar com o tratamento delicado e sensível
que o filme dá para o amor entre Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop.
Bjs e depois comentamos mais, depois de vc conferir o filme.

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