Peça: Fóssil, foto 1

Fóssil: peça relaciona luta democrática curda e opressão às mulheres

De em janeiro 14, 2020

Peça: Fóssil, foto 1

Nelson Baskerville e Natalia Gonsales: o empresário e a cineasta na peça de Marina Corazza

 

 

Projeto idealizado pela atriz Natalia Gonsales, que divide o palco com Nelson Baskerville, Fóssil, em cartaz no Espaço Cênico do Sesc Pompeia, conta como a cineasta Anna pretende filmar a Revolução de Rojava, um processo de luta pela democracia liderado pelas mulheres curdas no norte da Síria; ela resolve solicitar patrocínio a Luiz Henrique, diretor de uma grande empresa distribuidora de gás em que sua mãe trabalhou nos anos da ditadura militar brasileira. O encontro entre Anna e Luiz faz com que o passado da vida deles venha à tona e a cineasta relacione a luta das mulheres curdas com a opressão feminina de uma forma geral.

 

Com dramaturgia de Marina Corazza e direção de Sandra Corveloni, o espetáculo, em curta temporada (só até o dia 02/02), envolve os espectadores desde a cena inicial. Mesmo que a história do povo de Curdistão seja pouco conhecida da maioria dos brasileiros, a trama emociona por associar a opressão do povo curdo com a luta das mulheres por seus direitos.

Peça: Fóssil, foto 2

Perfeito entrosamento em cena de Nelson e Natalia

 

 

 

 

 

O espetáculo é fruto de três anos de pesquisa de Natalia e da dramaturga sobre a Revolução de Rojava e o processo democrático (chamado de Confederalismo Democrático) do povo curdo. A trama se passa no escritório de Luiz Henrique, onde Anna chega para solicitar verba de patrocínio para seu filme. O empresário a recebe com carinho, pois a conhece desde que nasceu — a mãe de Anna foi funcionária da empresa. No entanto, a cineasta tenta impor um distanciamento entre eles e logo inicia a explanação de seu projeto. Com ajuda da projeção de vídeo, Anna fala sobre a história sofrida dos curdos e como hoje as mulheres lideram a luta pela autonomia do povo do Curdistão. À medida que o roteiro do filme é relatado, tanto Anna como Luiz Henrique são sensibilizados pela história comum de opressão das mulheres curdas com a tortura vivida pela mãe da cineasta durante a ditadura militar brasileira na década de 1960. O passado vem à tona e altera a elação entre a cineasta e o patrocinador.

 

 

 

 

 

 

 

“Ao olhar para nós à luz da Revolução de Rojava, vemos as mulheres que nos geraram, e antes delas, as que geraram nossas mães, e antes delas, as outras, e as outras e as outras e todas nós. Ao olhar para nós à luz dessa revolução, sabemos que queremos e que podemos acreditar em utopias por meio de um trabalho diário que deixe nascer outras formas mais justas e libertárias de se pensar e viver ”, argumenta Marina Corazza.

 

 

Peça: Fóssil, foto 3

Bela fusão entre teatro e cinema

 

Um dos trunfos da montagem, que atrai o espectador, é a fusão entre teatro e cinema: as imagens da região em que vivem os curdos, além de didáticas, contribuem para a empatia do público com a vida sofrida daquele povo. Destaque também para a trilha sonora e a iluminação, elementos crucias para a narrativa. Com um enredo formado por camadas — na medida em que a trama evolui, transparecem novas histórias e envolvimentos entre os personagens — e uma sensível direção que enfatiza o jogo cênico entre os atores, Fóssil emociona e ao mesmo tempo provoca reflexões sobre o modo de se viver no mundo atual. Produção bem cuidada, tocante. Pena que a temporada é tão curta.

 

 

 

 

Peça: Fóssil, foto 4

A atriz Sandra Corveloni dirige seus colegas

Roteiro:
Fóssil
. Dramaturgia: Marina Corazza. Idealização: Natalia Gonsales. Direção: Sandra Corveloni. Elenco: Natalia Gonsales e Nelson Baskerville. Trilha sonora original: Marcelo Pellegrini. Iluminação: Aline Santini. Figurino: Leopoldo Pacheco. Cenário: Carol Bucek. Videografismo e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud. Fotografia: Ronaldo Gutierrez e Haroldo Miklos. Produção executiva: Leticia Gonzalez. Realização: Bem Casado Produções Artísticas.
Serviço:
Sesc Pompeia/Espaço Cênico (60 lugares), rua Clélia, 93, tels. 11 3871-7720 / 7776. Horários: de quinta a sábado às 21h30 e domingo às 18h30. Ingressos: R$9, R$15 e R$30. Duração: 70 minutos. Classificação: 14 anos. Temporada: até 02 de fevereiro.


2 Comentários

Fábio Mráz

janeiro 14, 2020 @ 16:22

Resposta

Lindo e emocionante mesmo. Eu adorei e terminei a peça em lágrimas! Ótima resenha, Mau!

Maurício Mellone

janeiro 14, 2020 @ 16:45

Resposta

Fábio, querido:
também adorei a peça (dramaturgia, encenação, interpretação…. tudo! rsrsr)
obrigado pelos elogios à resenha!
Bjs

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