Gero Camilo pinta sua Casa Amarela

De em maio 1, 2011

Gero Camilo como Vincent Van Gogh em A Casa Amarela

Pela mesma porta em que o público entra para o espetáculo, o ator Gero Camilo também chega para dar vida ao pintor Vincent Van Gogh, em A Casa Amarela, em cartaz no Teatro Eva Herz, com direção de Marcia Abujamra. Com uma cadeira a tiracolo, uma caixa com a paleta de cores e pincéis e uma chave pendurada no peito, o ator anda pela platéia e inicia seu monólogo, em que conta o dia que Van Gogh chega à cidade de Arles, no sul da França, em 1888, e, com a chave na mão, abre aquela que seria a casa em que o pintor viveria o período de sua maior produção artística, ao mesmo tempo passaria por uma revolução íntima, com as mais variadas e tumultuadas emoções.
Na entrada, o público recebe não um programa da peça tradicional, mas uma carta selada (com a foto do ator como o personagem) que conta de forma linear a história vivida por Van Gogh. Depois de viver uma fase muito criativa em Paris, onde conheceu Toulouse-Lautrec, Emile Bernard, Edgar Degas e Paul Gauguin, entre outros mestres do impressionismo, Vincent vai para Arles com o objetivo de criar uma comunidade de criação artística. A Casa Amarela na verdade só abrigou Paul Gauguin, além dele; mesmo com mútua admiração, eles não tiveram o que se poderia chamar de uma relação pacífica. De setembro a dezembro de 1888 os dois pintores produziram muito, além de discussões e embates filosóficos e existenciais. Num de seus desvarios, Vincent decepa parte de sua orelha. Gauguin avisa Theo, irmão de Vincent, e volta a Paris sem visitar o amigo.
No entanto essa história linear fica restrita à carta. No palco, a história é outra, ou é a história contada do ponto de Van Gogh. Num texto poético, Gero nos mostra as contradições, as divagações existenciais e a relação visceral de Van Gogh com a estética e a arte. São idéias que flutuam, “cores que coram” como é dito pelo ator. A mente pulsante do artista, que caminha da lucidez à loucura fica evidenciada no palco. “Sou de um lugar pequeno, gosto de ser pequeno, mas penso grande!”
O cenário de Karina Ades, com molduras e elementos que o ator vai utilizando no decorrer da trama, e a iluminação de Karine Spuri deixam o espetáculo ainda mais plástico e envolvente. E ao final, com a orelha decepada e os pés pintados de amarelo, o ator deixa a todos reflexivos quando faz perguntas desconcertantes, parafraseando Paul Gauguin: “De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?”
Um espetáculo imperdível, com mais uma atuação sublime de Gero Camilo, um artista múltiplo e grandioso.

Fotos: Cisco Vasques


4 Comentários

Laura Fuentes

maio 9, 2011 @ 16:42

Resposta

Gero sempre escolhe bem seus trabalhos e invariavelmente dá show. E é também um super escritor e dramaturgo. Por acaso o texto do espetáculo é dele também?

Maurício Mellone

maio 10, 2011 @ 15:11

Resposta

Laura:
O Gero é um excelente ator e realmente um dramaturgo e escritor de igual quilate!
A Casa Amarela é dele sim: foi até a região em que Van Gogh criou a Casa e escreveu
a peça lá! Disse q o táxi que o levaria para o aeroporto de volta ao Brasil chegou ao Hotel
quando ele finalizava o texto!
Sua interpretação é visceral! Deve ser premiado por esse trabalho!
bjs

Adriano Oliveira

maio 4, 2011 @ 16:34

Resposta

Já publiquei no face! Show…de texto!

Maurício Mellone

maio 5, 2011 @ 14:09

Resposta

Adriano:
Obrigado pelo incentivo, o Gero arrasa no palco!

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