O professor e cantor Luiz Líbano, especial para o Favo

Porto Alegre, terra natal de Elis Regina, foi a capital escolhida para abrir o projeto Viva Elis, série de shows em que Maria Rita pela primeira vez em público interpreta os grandes sucessos imortalizados na voz de sua mãe. Depois dos gaúchos, o show, produzido pelo primogênito de Elis, João Marcelo Bôscoli, passará por Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Acompanhe a seguir o texto, especialmente produzido para o Favo do Mellone, de Luiz Líbano, que traz todos os detalhes do projeto em homenagem à inesquecível Elis Regina.

Projeto Viva Elis: shows com os grandes sucessos da cantora

Elis à Flor da Pele

“Mande notícias do mundo de lá/
Diz quem fica/
Me dê um abraço/
Venha me apertar/
Tô chegando”
(Encontros e Despedidas)

A cantora Maria Rita, ao incluir em seu CD de lançamento (2003) a canção Encontros e Despedidas (Mílton Nascimento/ Fernando Brant), já se comunicava e homenageava (consciente ou inconscientemente) a sua mãe, Elis Regina Carvalho Costa. Primeiro pelo que a poesia deixa explícito; segundo por interpretar um dos compositores mais significativos na carreira da mãe; terceiro por finalmente abraçar a mesma carreira da mãe, apesar das inevitáveis comparações desencadeadas entre a arte das duas artistas. Essa menina (Maria Rita) soube sabiamente distanciar-se de qualquer babado que minasse, envenenasse ou contaminasse seu início de carreira ao cantar com o timbre de voz que não só a Mãe Natureza lhe deu, mas possibilitou-se pelo ventre da Outra, Essa Mulher de talentos incomparáveis: Elis Regina, o camaleão da MPB ou Furacão Elis como foi batizada em livro homônimo de Regina Echeverria (1985).

Retomando o ditado que diz: “Filho de peixe, peixinho é”, pode-se afirmar — sem um pingo de hesitação — que está no DNA a coragem que a menina foi buscar para assumir a empreitada, ao sair do aquário e se exibir  ao mundo através do ofício de cantora. Teve sim a quem puxar: o destemor da mãe que conseguiu ser também canal, porta-voz de compositores importantíssimos de uma época mais do que conturbada e delicada, a da ditadura militar. Mas sua intrepidez não se restringiu a isso, foi muito, muito além. Ousou acreditar em autores, músicos e artistas iniciantes, mas que com talento inquestionável passaram a fazer parte da seleta plêiade dos astros que vieram para fazer história, ficar na memória e ultrapassarem as barreiras dos modismos. Ou seja, o leque amplo de compositores que Elis lançou transcende a fase da ditadura, converge-se para a da abertura política brasileira, já que até hoje as atuais gerações se encantam com sua obra ou cantam suas canções como se elas fossem atemporais.

Com repertório da mãe, Maria Rita se apresenta por diversas capitais do país

Calcando-se nessa atemporalidade e num outro ato de coragem é que essa menina (Maria Rita), uma vez mais imbuída de bravura (30 anos após o falecimento da mãe) lança-se em um projeto, Viva Elis, delicado, perigoso: cantar (pela primeira vez em público) as canções imortalizadas na voz d’Essa Mulher (Elis). Conta, é claro, com o apoio do irmão mais velho, idealizador do evento, o produtor musical João Marcelo Bôscoli e com o dos músicos que a acompanham no palco: Davi Moraes (guitarra); Thiago Costa (piano/teclados); Silvinho Mazuca (baixo) e Cuca Teixeira (bateria).
O parto musical teve início em 24/3 (Porto Alegre, terra natal de Elis) e se encerrará no dia 29/4 (Rio de Janeiro); sofrerá suas contrações/modificações ao passar por  Recife (1/4);  Belo Horizonte (8/4); São Paulo (22/4), terra tão respeitada por Elis, devido aos famosos festivais da extinta TV Record e aos inesquecíveis  teatros (Bandeirantes/Brigadeiro/Tuca), que possibilitaram, respectivamente , a mostra de seus shows mais significativos, como Falso Brilhante, Transversal do Tempo e Saudade do Brasil, até o derradeiro Trem Azul (Canecão de São Paulo).
O repertório do projeto Viva Elis vai de Imagem, passa por Arrastão e inclui um apanhado de pérolas musicais (pinçadas com zelo por Maria Rita), que incluem canções de Tom Jobim, Ivan Lins, Renato Teixeira, Mílton Nascimento, Fátima Guedes, Joyce a Gonzaguinha.

Idealizador do projeto: João Marcelo Bôscoli, primogênito de Elis

Como São Paulo será a penúltima capital que receberá o show, imagina-se que o Ibirapuera seja pequeno para abrigar tanta emoção, num encontro significativo de vozes que se convergem, quer dizer, a voz dos autores, que já passou pela voz de Elis que agora se ouve repaginada, revisitada na voz da filha, que se expõe num corpo de luz, sedução, em poema divino em homenagem à Mãe da Matéria, que quando cantava não economizava, arrebatava, arrasava, até apelidada, no início da carreira, como Eliscóptero, título que não deve ser apreendido como algo pejorativo, mas como algo significativo para uma artista sempre viva em cena, em prol da canção como um Arrastão. Haja coração pra tanta emoção nessa celebração-tributo à cantora que soube (como nenhuma outra) explorar o espírito natural de Fascinação aos fãs e admiradores com sensibilidade à flor da pele.

Luiz Líbano

Fotos: divulgação