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Nunca fomos tão felizes: peça tem olhar crítico às relações humanas

De em janeiro 23, 2019

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Eduardo Martini, Nicole Cordery, Mateus Monteiro, Larissa Ferrara: casais da peça de Rosseto

Com um olhar crítico e corrosivo às relações humanas, o dramaturgo Dan Rosseto, que também assina a direção, mostra os bastidores da vida de dois casais de classe média em seu novo espetáculo, Nunca fomos tão felizes, que acabou de estrear no Teatro Itália.

O que deveria ser um jantar comemorativo de sete anos de casamento de Charlie e Nancy, vividos por Mateus Monteiro e Larissa Ferrara, se torna uma reunião de conflitos de vaidades e interesses; os convidados Billie e Simone, interpretados por Eduardo Martini e Nicole Cordery, mantêm um casamento de fachada e, após os primeiros drinks, todos deixam cair suas máscaras e cada um mostra o verdadeiro lado de sua personalidade, revelando uma rede de intrigas, sedução e traição. A presença inesperada de Frank, papel de Luccas Papp, aguça ainda mais os conflitos.

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Mateus e Larissa: típico casal dos anos 1960

Ambientada no início da década de 1960, a trama começa com os anfitriões preparando o sótão da casa onde será o jantar; eles estão ansiosos, pois Charlie espera receber a promoção na concessionária de Billie e Nancy  deseja revelar ao marido que está grávida. O rapaz, antes da chegada dos convidados, força uma relação sexual com a esposa, que tenta evitar, mas cede. Simone é a primeira a subir ao sótão e Charlie vai recepcionar o chefe na parte debaixo da casa. As duas esposas travam os primeiros e delicados diálogos: com um humor sarcástico, Simone é calejada e sabe conduzir a conversa de acordo com seus interesses. Com a chegada dos maridos, o clima se ameniza, só até o primeiro brinde.

 

Com a ajuda do gim, todos se liberam e os verdadeiros sentimentos afloram, revelando o que realmente move aquela relação, um misto de interesse, machismo, vaidade e poder. O quinto elemento da história, Frank, jovem vítima de síndrome de Tourette (distúrbio neurológico que provoca tiques motores e vocais), só irá intensificar o conflito entre as pessoas, culminando num desfecho trágico.

 

“A tessitura dramatúrgica — irônica e trágica — provoca a reflexão por meio do riso e trata da hipocrisia do casamento, da corrupção da moral e da ambição desmedida para não perder o poder. Tudo por desesperadas tentativas de afeto”, analisa Dan Rosseto sobre sua peça, que considera a mais madura de seu repertório e também a mais dolorida.

 

 

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Martini e Nicole: grandes atuações

 

Com uma cenografia (Luiza Curvo) e visagismo (Dhiego Durso) ousados e uma iluminação (Kléber Montanheiro) que funciona como mais um personagem, a montagem de Rosseto é envolvente, por mais que revele o lado mais obscuro das pessoas. Sua dramaturgia é corrosiva e desmascara cada um daqueles personagens. Por isso mesmo que fica difícil ressaltar o trabalho de interpretação dos atores, todos defendem seus papéis com garra e vigor.

 

 

 

 

No entanto, Eduardo Maritini, que geralmente interpreta papéis cômicos, tem a chance de mostrar seu talento dramático. Já Nicole Cordery, com a impagável Simone, ganha a plateia desde a primeira fala, revelando todas as nuances de personalidade daquela mulher tão à frente de seu tempo. Mateus Monteiro e Larissa Ferrara, que compõem um típico casal dos anos 1960 forçado a rever seus valores, estão firmes e convincentes em cena; e Luccas Papp é uma revelação na pele do jovem problemático, que é o único com lucidez e ética naquele grupo. Espetáculo arrojado e instigante. Confira!

 

Roteiro:
Nunca fomos tão felizes. Texto e direção: Dan Rosseto. Elenco: Eduardo Martini, Larissa Ferrara, Luccas Papp, Mateus Monteiro e Nicole Cordery. Assistente de direção: Giovanna Marqueli. Figurino e iluminação: Kléber Montanheiro. Visagismo: Dhiego Durso. Cenografia: Luiza Curvo. Arte gráfica: André Kitagawa. Fotografia: Thaís Boneville. Direção de produção: Fabio Camara. Realização: Applauzo e Lugibi Produções.
Serviço:
Teatro Itália, (274 lugares), Av. Ipiranga, 344 tel. 11 3255-1979. Horários: sexta e sábado às 21h e domingo às 18h (não haverá apresentação dias 01, 02 e 03 de março). Ingressos: R$ 60 e R$ 30. Venda: www.compreingressos.com. Duração: 100 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 17/03.


2 Comentários

Ed Paiva

janeiro 23, 2019 @ 13:16

Resposta

As peças do Dan Rosseto lembram uma mistura de Hitchcock com Nélson Rodrigues. São surpreendentes.
Adorei sua resenha.

Maurício Mellone

janeiro 24, 2019 @ 14:19

Resposta

Ed,
gostei da sua análise da dramaturgia do Rosseto;
obrigado pela constante presença aqui no Favo
Bjs

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