De Maurício Mellone em agosto 6, 2019
Para marcar os 10 anos de morte do dramaturgo britânico Harold Pinter, premiada montagem carioca acaba de estrear no Teatro Raul Cortez O Inoportuno, peça escrita há 60 anos por este que é considerado um dos maiores dramaturgos do século XX e expoente do teatro do absurdo.
Com direção de Ary Coslov, a trama revela a inusitada relação entre três homens. Tudo acontece no apartamento de dois irmãos: Aston, o mais velho vivido por André Junqueira, chega em casa trazendo o velho Davies, papel de Daniel Dantas, um morador de rua que se envolveu numa briga. O combinado é que o suposto mendigo ficaria ali por uns dias, até se recuperar fisicamente da confusão em que se meteu. No entanto, o irmão mais novo, Mick interpretado por Well Aguiar, propõe que o velho passe a ser o zelador do imóvel. Com o passar do tempo de convivência, surgem as diferenças entre eles, além de mentiras, verdades, dissimulações, conflitos e um misto de emoções.
Com o cenário, assinado por Marcos Flaksman, rico em detalhes — o apartamento é um personagem essencial na trama, o espectador é envolvido naquela história um tanto nebulosa, que aos poucos revela as várias facetas dos personagens. Se Davies ou Jackins (ele usa nomes falsos) no início se mostra agradecido e submisso, com o tempo passa a ser uma pessoa inconveniente e autoritária; os irmãos também possuem características múltiplas de caráter. Aston inicialmente é um homem compreensivo e generoso, mas na realidade sofre de problemas mentais, tendo atitudes desconexas e, Mick, que se apresenta de forma rígida e desconfiada com o novo morador, começa a usar Davies para atingir suas metas de poder contra o irmão mais velho. De acordo com o diretor, a peça é sobre a incomunicabilidade entre as pessoas, além de questionar valores como confiança e cumplicidade.
“Harold Pinter coloca nesta peça situações que podem levar ao extremo perigo, à violência e por isso, mesmo tendo sido escrita há 60 anos, é ainda tão atual. Ele coloca ambiguidade e situações que podem ter diversos significados, além das famosas pausas, sua marca registrada”, argumenta Ary Coslov.
Com uma direção precisa e marcações de cena bem articuladas — a cena em que os três lutam para pegar uma bolsa é impactante —, O Inoportuno se destaca pela grande atuação de Daniel Dantas, que constrói um mendigo multifacetado, que vai da gratidão e submissão à intolerância e preconceito. Bela composição de personagem também de André Junqueira e Well Aguiar. Confira.
Roteiro:
O Inoportuno. Texto: Harold Pinter. Direção e trilha sonora: Ary Coslov. Tradução: Alexandre Tenório. Elenco: Daniel Dantas, André Junqueira e Well Aguiar. Iluminação: Paulo Cesar Medeiros. Cenário: Marcos Flaksman. Aderecista: Jorge Roriz. Figurino: Kika Lopes. Fotografia: Leo Ornelas, Guga Melgar. Design gráfico: Alexandre Muner. Produção executiva: Well Aguiar. Realização: Enigma Eventos Filmes e Produções Artísticas.
Serviço:
Teatro Raul Cortez, Fecomércio (513 lugares), Rua Dr. Plínio Barreto 285, tel. 11 3254.1631. Horários: sexta às 21h30, sábado às 21h e domingo às 19h. Ingressos: R$ 90. Bilheteria: terça a quinta das 15h às 20h; sexta a domingo a partir das 15h. Vendas: www.ingressorapido.com.br. Duração: 90 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 29 de setembro
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