Academia de Palhaços encena espetáculo do russo Vladimir Maikóvski

 

Tenho novamente a grata satisfação de contar com a colaboração do professor e cantor Luiz Líbano, que escreve especialmente para o Favo sobre o espetáculo O Mistério Bufo encenado pela Academia de Palhaços. Com tradução de Laíza Dantas, o texto de Vladimir Maiakóvski é crítico à revolução comunista de 1917, na Rússia, e numa linguagem despretensiosa o autor defende que, para sobreviver, os personagens precisam de unir.  O espetáculo é o resultado de pesquisa que a Academia de Palhaços desenvolve desde 2007 sobre a comédia circense e o palhaço de picadeiro no Brasil. Luiz , agradeço seu empenho e peço aos leitores que deixem seus comentários, tanto sobre esta resenha do meu amigo como sobre o blog de uma maneira geral.

A Arte do Vigor

Fazer rir, divertir e refletir não é uma façanha que compete a muitos, mas a muito poucos. Esse é o caso do grupo Academia de Palhaços, constituído por cinco jovens talentosos — Bruno Spitaletti, Paula Hemsi, Breno Tavares, Laíza Dantas e Rodrigo Oliveiras—, que acaba de reestrear na Sala Olido o espetáculo O Mistério Bufo. Habilmente dirigido por Fernando Neves, o elenco esbanja precisão ao impregnar sua marca registrada ao texto transgressor do poeta russo Maiakóvisk (adaptado por Laíza Dantas). Com vivacidade, os artistas ressaltam com ironia o delicioso humor negro do texto.
Muito bem preparado corporal e vocalmente, o grupo dá uma aula de interpretação e competência sem deixar cair a peteca em momento algum. O que mais impressiona a plateia é a desenvoltura com que os artistas projetam nas cenas (bem desenhadas em coreografias certeiras) às críticas instigantes de Maiakóvisk.

Bruno Spitaletti, Paula Hemsi, Breno Tavares, Laíza Dantas e Rodrigo Oliveiras formam o grupo que se formou na UNICAMP

Quando se dão os três toques habituais, antes do início da sessão, entra em cena o pianista Marcelo Bonvicino trajando um belo figurino e uma incrível maquiagem; ele será o responsável pela condução do elenco, o qual entra em cena posteriormente (em seu ritmo inquietante, fluente), criando com a plateia uma cumplicidade inquestionável.
Créditos também devem ser dados ao contrarregra Eduardo Bordinhon que, assim como o pianista, parece ser integrante da trupe, tal a sintonia fina estabelecida com os membros do grupo. Vale a pena conferir a arte desses jovens camaleões, que se conheceram na Faculdade de Artes Cênicas (UNICAMP) e trabalham juntos desde 2007.
O espetáculo O Mistério Bufo — em que o grupo presenteia o público como uma caixa de belas e encantadoras surpresas — estreou em São José dos Campos, passou pelo Teatro João Caetano e agora dá prosseguimento à promissora carreira na Sala Olido, em curta temporada, até o dia 16 de setembro. Ao público exigente que admira bons trabalhos teatrais, está aí uma dica imperdível de um grupo que promete vir para ficar e escandalizar (no bom sentido) a arte da representação, a qual sempre necessita de um novo caldo, um novo tempero para manter o caldeirão da criação em constante ebulição.

 Luiz Líbano

Fotos: divulgação

 Roteiro:
O Mistério Bufo. Texto: Vladimir Maikovski. Tradução: de Laíza Dantas. Elenco: Bruno Spitaletti, Paula Hemsi, Breno Tavares, Laíza Dantas, Rodrigo Oliveiras e o maestro Marcelo Bonvicino. Contrarregra: Eduardo Bordinhon.
Serviço:
Sala Olido (136 lugares), Av.São João, 473, tel. 3331-8399. Horários: sextas e sábados às 20h e domingos às 19h. Ingressos: R$ 10,00 e meia a R$ 5,00. Venda também pelo site www.ingressorapido.com.br. Temporada: até 16 de setembro de 2012.