O primeiro que disse

De em janeiro 17, 2011

Tommaso (Riccardo Scamarcio) e o pai Vincenzo Cantone (Ennio Fantastichini)

Em O primeiro que disse (Prime vaganti), um dos grandes filmes em cartaz na cidade, o público pode ser enganado ao ler a sinopse. Pode parecer uma trama banal: jovem resolve revelar que é gay, mas seu irmão se antecipa e faz o mesmo, criando conflitos.
No entanto, o diretor Ferzan Ozpetek faz uma radiografia fiel de uma típica família italiana dos nossos dias. Os Cantone são proprietários da fábrica de massas, localizada em Puglia, sul da Itália. Tommaso (Riccardo Scamarcio), o caçula, mora em Roma, estudou Letras e volta para a reunião familiar em que o pai (Ennio Fantastichini) vai anunciar a entrega da direção da fábrica para ele e o irmão Antonio (Alessandro Preziosi). Os irmãos antes da reunião conversam e Tommaso confessa ser gay e diz q vai revelar para a família para que o pai o expulse de casa deixando a direção para o mano; Antonio só ouve e, em pleno jantar com todos reunidos, conta ser gay e a premonição de Tommaso se confirma. O pai expulsa Antonio de casa e os conflitos familiares vêm à tona a partir de então.

Marco (Carmine Recano), Alba (Nicole Grimaudo) e Tommaso na praia

Em pleno século XXI, os preconceitos ainda são reais e a atitude homofóbica do patriarca é contestada justamente por sua mãe, a avó, figura central da trama vivida brilhantemente por Ilaria Occhini.
Um filme encanta a plateia por contar uma boa história. Mas Ozpetek vai além: seu filme é arrebatador por ser original na forma de contar a boa história dos Cantone. O conflito maior de Tommaso não é com sua sexualidade, já que é feliz ao lado de Marco (Carmine Recano); seu conflito é profissional. Não estudou administração, sonho do pai, mas Letras e quer se tornar escritor. Sua maior incentivadora é a avó, que durante todo o filme aparece em cenas de flash back, quando vivia seu conflito interno entre se casar com alguém que não amava ou viver ao lado do grande amor de sua vida, o irmão do futuro marido.
Tommaso, depois de assumir a fábrica ao lado da nova sócia Alba Brunetti (Nicole Grimaudo), resolve também revelar seu segredo e diz que não sabe falar como todos os familiares, mas a escrita é a sua melhor expressividade. Pra mim, essa é a chave do enigma proposto por Ozpetek. O filme é a história dos Cantone descrita por Tommaso, o livro que ele sonhava publicar!
Destaco dois grandes momentos do filme: o belo passeio de câmera por todos os personagens sentados à mesa; além de o diretor tentar captar a alma dos personagens, o efeito tem como resultado a identificação total do público com a história e seus agentes. E as cenas finais, com o cortejo fúnebre da avó sendo entrecortado e depois misturado com os festejos do casamento dela, são sensacionais. Nesse momento a condução da história fica nítida que é de Tommaso: em off tanto a avó como ele fecham a trama. Só a ficção permite a junção de épocas distintas, a noiva dançando ao lado do filho e dos netos! A fantasia embriagando a todos com sua beleza, profundidade e sutileza.


12 Comentários

Lucas

agosto 29, 2011 @ 01:19

Resposta

Assisti o filme, gostei dele até pouco antes do fim. Não fica CLARO com quem ele fica ou não fica. O que eu entendo é que ele beija a Alba para ajuda-la emocionalmente, mas acaba tendo efeito contrario. E que ele não está mais com o Marco porque ele o ”abandona” e aquilo que é importante jamais nos abandona, como ele mesmo diz.
Concluo então que ele não fica com nenhum dos dois.
Entretanto, ao passar os créditos, tem uma cena do Tommasso com a Alba em uma casa, parecendo que os dois vão comprá-la como marido e mulher.

Enfim, o filme seria excelente se o final fosse mais claro.

Maurício Mellone

agosto 29, 2011 @ 14:46

Resposta

Lucas:
Primeiramente quero agradecer por sua visita e seu comentário, passados sete meses depois do post. Fui obrigado a
procurar pela resenha, não me lembrava mais…
Mas tenho de discordar de vc: no final é que está a chave de todo o filme.
Minha leitura é que o filme é resultado do livro que Tomazzo finalmente consegue escrever.
E escreve sobre a sua família, com a avó sendo a protagonista da trama. As cenas finais são belíssimas,
só a magia do cinema para conseguir com que a noiva dance em seu casamento com o neto (cena que no
real não poderia existir, já que nem filho ela ainda tinha qdo de seu casamento!)
E claro que Tomazzo nunca se casaria com Alba, já que seu relacionamento com Marco é sólido e feliz.
Um abraço e venha sempre me visitar!
ter

Zedu Lima

janeiro 21, 2011 @ 17:10

Resposta

Maurício,
muito boa sua resenha. Também gostei muito do filme, mas a partir do momento que, através dos diálogos, descobri que o título original, “Mine vaganti”, quer dizer bala perdida, comecei a acompanhar o filme por outro viés. O das balas perdidas, reais, que mudam a vida das pessoas atingidas por elas, como a da garota que ia para a escola e foi atingida por uma bala no tiroteiro em ladrões e policiais na Faria Lima, e hoje é cadeirante; bem como as balas perdidas metafóricas: os preconceitos, as imposições familiares e morais, as necessidades financeiras que nos faz desviar de nossas metas. O filme começa com a bala perdida pela personagem da avó como noiva de quem não gosta e que, pelas convenções sociais, é obrigada a se casar com o prometido. O Tomasso leva uma bala perdida do irmão que o antecipa ao revelar-se homossexual e, por isso, é obrigado a adiar seu projeto de se tornar um escritor. Aquela tia maravilhosa, que toma todas, também foi vítima de uma bala perdida de um malandro em Londres e vive aquela vidinha fantasiada pelo seus delírios etílicos. E quantos de nós já não recebemos esse tipo de bala perdida?
Quando assisti, o final me incomodou. Achei aquele baile fantasioso e de um simbolismo primário. Porém, analisando melhor, constatei que nada mais é do que imagens em movimento do livro que Tomasso vai escrever.
bjs
Zedu

Maurício Mellone

janeiro 21, 2011 @ 17:14

Resposta

Zedu:
Estava estranhando seu sumiço, já
q sabia q vc tinha adorado o filme.
Gostei muito da sua análise sobre as balas perdidas (pensei muito quando
escrevia no título em italiano).
Mas como vc percebeu, tivemos uma visão diferente
quanto ao final: pra mim o filme é o livro que o Tommaso JÁ
escreveu e não o que vai escrever!
bjs e obrigado pelo incentivo!

Maco

janeiro 19, 2011 @ 19:38

Resposta

Espero encontrar o filme em algum cinema do Rio. Fiquei curioso. Então, assim que assistir, voltarei com comentários.
Ainda estou me acostumando com a nova cara do blog: ficou legal.

Maurício Mellone

janeiro 20, 2011 @ 15:05

Resposta

Maco:
Pedi mudanças, principalmente para q o espaço de comentários
ficasse mais direto e de fácil utilização.
Está dando resultados, pois as pessoas estão deixando
suas opiniões com mais frequência!
Não deixe de assistir ao filme: achoq vc vai gostar! Espero
o comentário depois!
Bjs

Laura Fuentes

janeiro 19, 2011 @ 18:03

Resposta

Fiquei intrigada agora e vou assistir, claro. Valeu a dica, boa a polêmica.

Maurício Mellone

janeiro 19, 2011 @ 18:06

Resposta

Laura:
Adorei o filme, tanto q me inspirou para dar continuidade num texto q está engavetado há anos! rsrsrs
bjs saudosos

Tuna

janeiro 17, 2011 @ 23:23

Resposta

Fiquei com vontade de ver o filme, embora não costume ir ao cinema. Já tem em DVD? Onde está passando?
Um grande e saudoso abraço. Feliz 2011.
Tuna

Maurício Mellone

janeiro 18, 2011 @ 14:25

Resposta

Tuna:
Que delícia receber sua visita!
Não deixe de assistir: o filme é envolvente e emocionante! Assisti no
Espaço Unibanco/Itaú (Augusta)
Um ano novo só de alegrias pra vc tb!
Bjs

Mario Viana

janeiro 17, 2011 @ 20:24

Resposta

Mauricio, nós vimos filmes opostos… rs s… Eu achei esse italiano chaaaaaaaaaato até não poder mais. Exceto pelo fato de os dois irmãos serem atores lindos, o resto… tudo tão chavão, batidérrimo. A trama, além de ter um ranço de anos 70, ainda deixa tanta coisa sem explicar. De quem era o carro que a bonitona risca? Ninguém explica. E por que toda velha tem de ser a Sábia da Montanha? Chavão, chavão, chavão. Só escapa do lugar comum o mote do filme, o irmão que passa a perna no outro, na hora de sair do armário. Isso é bom. Ah, eu gostei do pai, o perrsonagem mais redondo da trama toda.

Maurício Mellone

janeiro 18, 2011 @ 14:29

Resposta

Mário:
Realmente vimos filmes opostos!
Não tenho nem como contestar suas colocações, são diametralmente opostas à minha visão! rsrsrsr
O pai foi o personagem q vc mais gostou e eu vibrei mesmo com a mãe dele colocando os pingos nos is
com a homofobia dele!!!!!
Tanto q gostei q acendeu uma luz para um texto q está engavetado
há anos…. quem sabe possa retomá-lo!
bjs

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