Peça: Opus 12 Para Vozes Humanas, foto 1

Opus 12 Para Vozes Humanas: a falta de comunicação entre as pessoas

De em março 5, 2014

Peça: Opus 12 Para Vozes Humanas, foto 1

Alex Gruli, Felipe Folgosi, Pedro Henrique Moutinho, Anna Cecília Junqueira, Munir Kanaan e Janaína Afhonso vivem os personagens das duas peças de Sérgio Roveri

O espaço intimista de apenas 45 lugares do Club Noir se adapta muito bem à proposta cênica minimalista de Opus 12 Para Vozes Humanas , espetáculo dirigido por José Roberto Jardim que reúne duas peças de Sérgio Roveri. Na primeira, Um Dia, os atores Janaína Afhonso e Pedro Henrique Moutinho entram em cena e se sentam um de frente para o outro. Imóveis, eles relatam situações contidianas vividas por um homem e uma mulher numa metrópole contemporânea, em que imperam a impessoalidade, o caos e o total desencontro. Sempre com a iluminação indireta e tênue, os dois atores saem e tem início a segunda peça, Uma Noite, em que dois casais se encontram para um jantar, num sábado à noite. Felipe Folgosi e Anna Cecília Junqueira vivem os anfitriões e Alex Gruli e Munir Kanaan, os amigos; ao invés de momentos de comunhão e congraçamento, o que se vê são falas e intenções desencontradas, indiferenças e discursos ególatras.

Infelizmente o vizinho do Club Noir, uma boate, não contribuiu para tom do espetáculo, recheado de silêncios, vazios e falas desconexas, sem a troca tradicional de ideias de um diálogo. O som estridente (mas abafado) vindo do vizinho quebrou o clima da peça… Mas não foi o bastante para quebrar a concentração dos atores.
Na primeira peça, o que chama muito a atenção é a pluralidade de vozes que os dois personagens transmitem nas circuntâncias vividas: sair de casa, pegar o elevador, andar de carro no trâsito caótico da cidade e vivenciar uma cena de violência urbana. Sentados, quase na penumbra e só com modulação de voz, os atores vivem uma gama de personagens e situações.
Já em Uma Noite, o destaque é para a desconstrução da relação entre as pessoas. Por mais que cada um daqueles personagens tenha seus problemas, crises, dúvidas, limitações e questionamentos, na reunião que deveria ser de troca e entrosamento, o que sobressai é o supérfluo (que tipo de uva é a mais adequada para determinado vinho) e principalmente o discurso enaltecendo o ego. As sutilezas da relação íntima e o vínculo afetivo são totalmente desprezados naquela reunião entre amigos. Será que são mesmo amigos?

Peça: Opus 12 Para Vozes Humanas. foto 2

Elenco é dirigido por José Roberto Jardim, que também assina a iluminação

Além de um texto precioso de Roveri, que atinge fundo o espectador, como uma agulha fina, Opus 12 Para Vozes Humanas se destaca pela direção sensível de Jardim (responsável também pela iluminação muito condizente com o tom do espetáculo) e uma interpretação marcante dos atores. Particularmente fiquei impressionado com a performance de Alex Gruli: o conheci na comédia rasgada de Mario Viana, Vamos?, em que ele  provocava risos desde que entrava em cena, e desta vez vive a introspecitiva e problemática mulher do casal que visita os amigos. Composição comovente, revelando seu potencial multifacetado de ator.
Imperdível para aquele que busca um texto reflexivo e provocador.

 

 

Roteiro:

Opus 12 Para Vozes Humanas. Texto: Sérgio Roveri. Direção e iluminação: José Roberto Jardim. Elenco: Alex Gruli, Anna Cecília Junqueira, Felipe Folgosi, Janaína Afhonso, Munir Kanaan e Pedro Henrique Moutinho. Figurino: Caio da Rocha. Trilha sonora: Fábio Ock. Fotografia: Marcelo Hein. Produção: Regina Ricca.

Serviço:
Club Noir. Rua Augusta (45 lugares), 331, centro, tel. 3257-8129. Horários: quartas e quintas, às 21h. Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia). Duração: 50 minutos. Classificação: 14 anos. Acesso para deficientes. Temporada: até 1º de maio.

 


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