Pelas lentes negras da diva Zezé Mota

De em novembro 14, 2011

Em novo CD, Zezé Motta interpreta canções de Luiz Melodia e Jards Macalé

Tive a grata satisfação de contar com mais uma participação especial aqui no Favo do professor Luiz Líbano, que dessa vez debruçou-se sobre o novo CD de Zezé Motta, Negra Melodia, lançado pela gravadora Joia Moderna, em que ela só canta sucessos de Luiz Melodia e Jards Macalé. Só posso agradecer, Luiz, por sua dedicação. Espero que os fãs da cantora e os amantes de música curtam essa nossa indicação.

Através das lentes negras

Em meio a tanta notícia ruim nessa terra tupiniquim, Joia Moderna (gravadora do DJ Zé Pedro e de seu sócio Thiago Marques Luiz) é — sem dúvida — uma das melhores. Tal gravadora não podia ter um nome melhor, pois vem se dedicando a resgatar Divas da MPB, que se encontram relegadas a um esquema que beira ao ostracismo, onde jamais deveriam ter ido parar. Coisas do Brasil que a gente precisa consertar.

O DJ Zé e seu parceiro parecem já ter dado a largada para mudar esse estado de coisas fora da ordem. Só como petisco (dentre as variedades irrecusáveis de prendas que Joia oferece) temos: Negra Melodia (CD em que que Zezé Motta canta canções de Luiz Melodia, Jards Macalé e seus respectivos parceiros.) Nota-se um esmero desde a capa negra e requintada (com fotos do acervo da cantriz), passando pelo precioso encarte com as letras das músicas e os créditos aos artistas envolvidos no projeto, além de uma bela apresentação do próprio Zé Pedro.

Capa do álbum Negra Melodia, do selo Joia Moderna

O que falar de Zezé cantora, já que a atriz é o que se pode chamar de ‘hors concours’?  Falar que está plena nesse projeto fonográfico, no qual esbanja talento, mostrando a que veio: assumir o papel da maior estrela/rainha negra da canção brasileira. Suas interpretações são realmente marcantes, a começar pelo delicioso e suingado samba que abre o álbum, O Sangue Não Nega:

‘Sou ferro, fera solta/
Vim da África no couro de um pandeiro/
No passo da cabrocha desabrocha/
Coração e corpo inteiro…’

É assim que o ouvinte sente Zezé Motta nesse trabalho: de corpo inteiro, mostrando que o sangue não pode negar, que está preparada não só pra samba, mas pra muito, muito mais: rock moderno, inclusive (O Anjo Exterminado), acredite, ouça e enlouqueça, se quiser:

‘Eu me queimo num fogo louco de paixão’…

.. além de samba e de rock, tem-se uma espécie de balada-blues (Mal Secreto), que incita o mais inerte dos ouvintes.  Só não o leva a se rasgar, pois isso é tarefa de Soluços, canção em que Jards Macalé realmente toca na ferida do receptor. Dramática e pertinentemente arranjada, a música abre espaço para que Zezé se solte em explosão de atriz-cantora, que revela o manancial de emoção que há nela.
O CD oscila entre o lirismo e a dramaticidade de que só uma grande artista do calibre de Zezé Motta  pode dar conta. Poderosa! Essa palavra tão desgastada e mal usada na mídia há muito tempo, essa sim deve ser atribuída à Zezé, assim como  à sua voz, voz de negra artista brasileira, orgulho de nossa terra. Voz que ainda tem fôlego pra um convidativo e dançante reggae (Vale Quanto Pesa) e um afoxé  (Divina Criatura, com sugestão de Timbalada e tudo) num arranjo de arrebentar nossos corações, preparando-nos para a despedida da Diva Única, que fecha o CD com Encanto (à capela):

‘Nos galhos do arvoredo/
Ouvi alguém me encantar’

Quer dizer, ela abre o CD com um samba-delícia de  Melodia e o  fecha com o lirismo de Jards; como se vê (ou se sente) não há sangue que aguente tanto repente. Como tenho certeza de que o ouvinte atento à boa música não ficará inerte, convido-o a comprar o disco, apertar o play e seguir viagem. Poderá ter certeza de que não será miragem, nem truque de mixagem, levará muita vantagem.

Fotos: divulgação

Luiz Líbano

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8 Comentários

vanice

novembro 29, 2011 @ 17:10

Resposta

Li a resenha porque adoro Melodia, Macalé e a Zezé. E fiquei muito satisfeita porque Luiz Líbano soube pinçar coisas imprescindíveis. Quem sabe, sabe, não é mesmo. Palmas para todos

Maurício Mellone

novembro 30, 2011 @ 14:17

Resposta

Vanice:
Obrigado pela visita e volte sempre que quiser; prometo sempre dicas de cultura.
E o Luiz adora black music e as resenhas dele são ótimas e valorizam o Favo!
bjs

Luiz Carlos Líbano

novembro 29, 2011 @ 04:11

Resposta

Estive no MIS, no último sábado (26/11); na livraria da Imprensa Oficial, soube de um show de lançamento da gravadora Joia Moderna (no próprio MIS).Lá o show de Zezé Motta foi surpreendente, o que não poderia ser diferente, devido ao talento inegável da Pérola Negra Brasileira. Tal informação eu recebi da atendente da livraria e de seu superior, o Sérgio.

Maurício Mellone

novembro 29, 2011 @ 11:16

Resposta

Luiz:
Que bom q a Zezé está em cartaz (ou esteve): sua resenha está mais do que
antenada com o mercado fonográfico!
bjs

Luiz Carlos Líbano

novembro 29, 2011 @ 03:47

Resposta

Oi, Maurício, uma amiga – Zélia Gouveia – já deu uma olhada no blog, mas não teve tempo de postar mensagem; adorou o blog e a resenha sobre a Pérola Negra. Disse-me que voltará ao espaço e postará o recado dela.

Maurício Mellone

novembro 29, 2011 @ 11:22

Resposta

Luiz:
Tomara q a Zélia também se torne leitora assídua do Favo!
Obrigado pela força e incentivo!
bjs

Luiz Carlos Líbano

novembro 16, 2011 @ 03:45

Resposta

Oi, Maurício, mais uma grata surpresa, hein? Eu , aqui, na calada da noite, preparando mais uma resenha pro seu blog; paro para uma respirada e revitalizada sobre o que há de melhor em acontecimentos culturais ,que só seu blog sabe oferecer, e me deparo com o quê? A resenha sobre Zezé, produzida por mim. Que linda apresentação, hein? Só devo agradecer o seu esmero, blogueiro encantador de leitores afoitos feito eu. Obrigado uma vez mais!

Maurício Mellone

novembro 16, 2011 @ 16:27

Resposta

Luiz:
O trabalho da Zezé Motta interpretando Melodia e Macalé merece ser divulgado
com a maior urgência. Por isso sua resenha é mais do que bem-vinda!
obrigado

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