Processo de Giordano Bruno: grande atuação de Celso Frateschi

De em maio 15, 2012

Celso Frateschi na pele do filósofo Giordano Bruno, queimado vivo pela Inquisição

Em curta temporada no SESC Vila Marina, estreou na semana passada a montagem que relata os últimos anos de vida do filósofo Giordano Bruno —vivido com brilhantismo por Celso Frateschi— antes de sua condenação pela Inquisição, em fevereiro de 1600. Com texto do italiano Mário Moreetti, tradução e direção de Rubens Rusche, a peça Processo de Giordano Bruno é constituída de duas partes: a primeira mostra o filósofo, que era da Ordem dos Dominicanos, em Veneza como hóspede do nobre Giovanni Mocenigo, que desejava aprender a arte da memória. Como não concorda e se assusta com as ideias revolucionárias de seu hóspede, Mocenigo o denuncia à Inquisição. Na segunda parte, vemos Giordano Bruno preso em Roma e respondendo ao processo que o levará à morte (foi queimado vivo no Campo das Flores, depois de oito anos de processo); para se livrar da condenação ele teria de abjurar suas teorias do mundo infinito, suas ideias sobre heliocentrismo (o Sol como o centro do sistema solar e não a Terra), a existência de vida em outros planetas, entre outras teorias. Ele se recusa e morre por seu ideal.
Com cenário compacto (apenas um tablado em formato de cruz e uns módulos) e figurino sóbrio (hábitos pretos para os inquisidores e branco para o condenado), ambos assinados por Sylvia Moreira, a montagem dá ênfase ao texto, principalmente à defesa do ideário de Giordano Bruno, tão à frente de seu tempo. Os embates de ideias na primeira parte são mais amenos, já que Bruno estava como hóspede e seu anfitrião tinha curiosidade e sede de saber. Mas como fica perturbado com as novidades e como as teorias do filósofo se opunham à visão restrita e intolerante do catolicismo, o nobre faz a denúncia e Bruno é conduzido para responder ao processo da Inquisição, a pedido do Papa. Já em Roma, preso e debilitado fisicamente, Giordano Bruno é inquirido pelas autoridades eclesiásticas e é obrigado a defender suas teorias.
Este momento da peça é, na minha visão, o mais interessante para a plateia: como Bruno era um estudioso e ligado à astronomia, defendia a teoria de Copérnico — a Terra como parte do sistema solar e não mais como o centro do universo —, além de acreditar num mundo infinito, na existência de vida em outros planetas e no panteísmo, a identificação com o pensamento contemporâneo é imediato. Por isto que em determinadas passagens o público chega a rir compulsivamente com a defesa patética do representante da igreja católica, que rebate o pensamento de Bruno. Dentre algumas de suas argumentações, o religioso afirma que a verdade é única, a católica; portanto universal. O riso é geral.
Processo de Giordano Bruno prova como a igreja católica evoluiu muito pouco mesmo com o avanço da humanidade nestes mais de quatro séculos. Em diversos momentos da peça, lembrei-me como o teólogo brasileiro Leonardo Boff sofreu com a censura imposta pela Igreja nos anos 90 quando foi inquirido por Joseph Ratzinger, hoje o Papa Bento XVI.

Celso à frente do elenco: André Correa, Angelo Brandini, Dagoberto Feliz, Hermes Baroli e William Amaral

O grande destaque da montagem, sem dúvida, é para a atuação de Celso Frateschi: com que vigor o ator encarna o injustiçado filósofo! Porém, este mérito deve ser dividido com outros companheiros de cena, André Correa, Angelo Brandini, Dagoberto Feliz, Hermes Baroli e William Amaral, tão densos e vigorosos quanto Frateschi.

Fotos: João Caldas


4 Comentários

Imad

junho 1, 2012 @ 00:54

Resposta

Vou assistir logo, já vi peças com esse ator e ele realmente fala o texto com primor. Vai só até meados de junho! Valeu a dica, meu caro!

Maurício Mellone

junho 1, 2012 @ 14:37

Resposta

Imad: não perca mesmo este novo trabalho do Celso. Texto envolvente
com interpretações sublimes!
Bjs

ariel verissimo

maio 25, 2012 @ 18:53

Resposta

A peça e simplemente maravilhosa, trabalho perfeito, indico todos devem ve-la

Maurício Mellone

maio 30, 2012 @ 13:36

Resposta

Ariel:
concordo com vc, a peça é muito bem produzida, com elenco afinado.
Obrigado pela visita e volte sempre!
abr

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