Recordar é viver: SERÁ?

De em fevereiro 1, 2011

Suely Franco e Sergio Britto vivem o casal de Recordar é Viver

Depois de temporada carioca, estreou na última sexta, no Sesc Consolação, Recordar é Viver, peça do jornalista Hélio Sussekind dirigida por Eduardo Tolentino de Araújo, que traz Sergio Britto e Suely Franco nos papéis centrais.
Estreia do autor, a trama passa-se nos anos 90 e retrata uma família carioca de classe média. Um casal idoso — ele aposentado e muito doente e ela sofre de síndrome de pânico — sustenta Henrique (José Roberto Jardim), o filho caçula de 30 anos que não trabalha e tenta se firmar com dramaturgo. O filho mais velho é bem-sucedido e a filha do meio teve vários casamentos e voltou a morar com os pais. No entanto, o problema central é mesmo Henrique, que além de não ter atividade produtiva vive em depressão. As brigas, atritos e desavenças são uma constante na vida familiar.
Única distração dos pais, de Henrique e de sua namorada são as sessões de slides antigos da família, talvez aí o título da peça. Porém, a exposição de fotos antigas ao invés de ser uma nostalgia passageira, torna-se opressão mórbida. O rapaz não consegue se libertar do passado, vive remoendo histórias recontadas sempre da mesma forma pela mãe, uma figura superprotetora e opressora!
Para o diretor, Sussekind faz diálogos ricos, tocando em feridas da classe média brasileira. No entanto, ele próprio admite que o autor “precisa amadurecer sua linguagem”, tanto que suprimiu um personagem nessa versão paulista. Fiquei com a mesma impressão: não só a cena das fotos é opressiva, como toda a trama não mostra sinais de evolução. E recordar NÃO é viver. Recordar é ficar preso ao passado, sem ação. No presente é que se vive!
Na sessão de estreia, o ápice foi a reação do público ao aplaudir Sergio Britto: ele foi ovacionado e precisou voltar para agradecer tanto carinho. Mais do que merecido, um ator de uma grandeza ímpar, com uma carreira brilhante e recheada de prêmios que aos 87 anos e 67 de carreira confessa: “O teatro ainda me revigora”. Parabéns e obrigado por tanta dedicação à arte!
Fotos: Guga Melgar


4 Comentários

Zedu Lima

fevereiro 9, 2011 @ 16:52

Resposta

Maurício:
Mais uma vez, e desde o teatro grego, a família toma conta da cena. Teatrólogos de todas as tendências e nacionalidades têm se inspirado no núcleo familiar para sintetizar as idiossincrasias, os vícios, as virtudes, o tragicômico do ser humano. Mesquinharias, invejas, frustrações, sublimações das ansiedades são os componentes desses dramas (ou comédias) familiares. Já dizia o cineasta Luchino Visconti que é na família que tudo acontece (quem assistiu dele “Rocco e seus irmãos” sabe a que ele se refere).
Uma nova (?) família vem se juntar a esse roteiro, apresentada pelo jornalista Hélio Sussekind. Ela gira em torno de um menino mimado de 30 anos, que vive às custas dos pais idosos (os ótimos Sergio Brito e Suely Franco), que brigam entre si e com os outros dois filhos, um resolvido e a outra mal resolvida. Enfim, mais uma família disfuncional. É pena que o texto deixa tudo muito explícito, descartando o envolvimento e a participação emocional do público. Falta sutileza, não há subentendidos, nada fica nas entrelinhas para que o espectador possa completar.
Por coincidência, no outro trabalho do mesmo Eduardo Tolentino de Araújo em cartaz – Doze homens e uma sentença -, também nos sentimos como voyeurs, neste caso, acompanhando a discussão de um grupo de jurados de um crime. Mas com o desenrrolar da trama, somos pegos de surpresa a cada cena, com as descobertas de detalhes que vão se revelando aos poucos, levando o júri mudar seu veredicto. Essa estratégia do texto provoca um envolvimento do público, de tal maneira que ele passa a se sentir como um 13º jurado. O que não acontece com Recordar é Viver, onde o que acontece no palco, lá permanece.
Ah, antes que me esqueça. Viver não é recordar, mas o passado, pode sim, ser convocado como tempero para essa salada mista do nosso presente.
Abr
Zedu

Maurício Mellone

fevereiro 9, 2011 @ 16:55

Resposta

Zedu:
Adorei sua comparação com o outro trabalho do Tolentino, 12 Homens e 1 sentença (que já
discorri aqui no blog). Sem dúvida, o público se envolve inteiramente e passa a ser o 13º jurado.
Já em Recordar é viver, a passividade do espectador é total….
obrigado pela força

Dinah

fevereiro 1, 2011 @ 19:12

Resposta

Maurício,
Não vi a peça, li sua resenha e o comentário da Lili no FB. Concordo com ela quando diz que a rota que traçamos tem importância e dá força ao que estamos vivendo aqui e agora. Ao que parece, o recordar na peça vira obsessão e, como toda ideia fixa, atrapalha os passos que se tem de dar… Isso é o que pega: ficar preso ao passado, só a ele, é comportamento de quem é depressivo, mórbido. Olhar para trás tem de servir para ‘amadurecer’ (como vc cita no texto se referindo à linguagem do autor). E o Sérgio Brito, com certeza, mereceu tanto carinho do público!
bjs,
Dinah

Maurício Mellone

fevereiro 2, 2011 @ 14:10

Resposta

Dinah:
O autor insiste na tecla: os personagens olham a projeção de slides e
superdimensionam as ações do passado. A ideia de que o passado
era bom, hoje não!

bjs

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