Peça: Desarticulações, foto 1

Regina Braga em Desarticulações retrata o drama da perda de memória

De em julho 30, 2013

Peça: Desarticulações, foto 1

Regina Braga encena monólogo baseado na obra da escritora argentina Sylvia Molloy

Impossível não colocar lado a lado o monólogo Desarticulações — que a atriz Regina Braga acaba de estrear no MIS — com outro grande sucesso de sua carreira, Um Porto para Elizabeth Bishop. Em ambos os trabalhos Regina está só em cena e mostra a relação afetuosa entre duas amigas. Se na primeira peça, de Marta Góes, a poeta Elizabeth Bishop contava de sua relação amorosa com a arquiteta brasileira Lota Macedo Soares, desta vez o monólogo versa sobre o diário da escritora argentina Sylvia Molloy em que ela conta sobre sua experiência de visitar a amiga Maria Luísa, que está progressivamente perdendo a memória e a ligação com o mundo real.

 

“Tenho que escrever estes textos enquanto ela está viva para tentar entender este estar/não estar de uma pessoa que se desarticula diante de meus olhos. Eu tenho que fazer assim para seguir adiante, para fazer durar uma relação que continua apesar da ruína, que subiste embora mal restem palavras”.

Peça: Desarticulações, foto 2

Regina assina a tradução e adaptação do texto em parceria com Isabel Teixeira

 

 

É com este depoimento da escritora que Regina Braga inicia o espetáculo. No entanto, o público já está envolto no clima desde que entra na sala do MIS, em que o artista plástico e diretor de arte da peça, Marcos Pedroso, criou uma instalação (aberta ao público diariamente independente da encenação). A atriz, deitada no chão entre exercícios e incorporação da personagem, vai aos poucos se levantando e começa o relato, que é uma adaptação do diário de Sylvia Molloy realizado em parceria entre Regina e a diretora Isabel Teixeira.
Nestes escritos, a argentina que vive nos EUA há mais de 40 anos conta suas emoções ao constatar a evolução da doença da amiga, uma intelectual brilhante que aos poucos vai se desligando da realidade.

“Fiquei emocionada com as reflexões sobre o amor e a delicadeza das lembranças que uniam aquelas duas mulheres. Achei que daria uma encenação maravilhosa”, explica Isabel Teixeira.

Regina fica no centro da sala, com a plateia ao seu redor e as duas mulheres retratadas — Sylvia e Maria Luísa— se intercalam, assim como as recordações e vivências delas, que vão e vêm.
Mais do que a perda de memória, Desarticulações nos remete à perda de alguém muito especial. Num momento em que cada vez mais nos deparamos com pessoas portadoras de demência e/ou mal de Alzheimer, este espetáculo joga um foco de luz para o que ainda é possível reter nas relações amorosas, entre aquele que ainda se recorda e a outra que quase não se lembra mais da realidade.
Fiquei emocionado em diversos momentos, pois a trama me remetia às minhas próprias lembranças, minhas perdas e os caquinhos de vida que preciso constantemente colar para poder sobreviver!
Emoção que a atriz sabe dosar na medida certa. Desarticulações com certeza é um novo marco em sua carreira! A exposição de Marcos Pedroso pode ser vista de terça a domingo, das 12h às 19h; já a peça fica em cartaz no MIS até o final de agosto. Não perca mais este sensível e arrebatador trabalho de Regina Braga.

Fotos: Roberto Setton

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2 Comentários

Nanete Neves

agosto 12, 2013 @ 13:12

Resposta

Segui a tua dica e fui assistir ontem. E você estava certo, como sempre. O espetáculo é tocante e a Regina Braga está estupenda representando as duas mulheres com grande sutileza interpretativa. Este blog não falha!

Maurício Mellone

agosto 12, 2013 @ 17:14

Resposta

Nanete,
que delícia poder saber a sua opinião sobre ‘Desarticulações’.
Tinha certeza que vc iria adorar: como uma escritora sensível e antenada, a trama das
intelectuais argentinas deve ter te provocado (e emocionado) muito!
obrigado pelo incentivo e pela força constante!
bjs

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