Peça: Senhor das Moscas, foto 1

Senhor das Moscas: obra clássica britânica questiona a ética humana

De em maio 5, 2017

Peça: Senhor das Moscas, foto 1

Elenco composto por 12 atores que interpretam os garotos que ficam presos numa ilha deserta

Numa grande produção, envolvendo treze atores e cinco músicos em cena, o espetáculo Senhor das Moscas, que acaba de estrear no Teatro do SESI, é a adaptação de Nigel Williams para o clássico romance escrito em 1954 pelo britânico William Golding. Voltada para o público jovem, a peça, com direção de Zé Henrique de Paula e direção musical de Fernanda Maia, conta o drama de um grupo garotos que, sobreviventes de um acidente de avião, ficam presos numa ilha deserta, sem a presença de adultos, e precisam arrumar meios para sobreviver.
Naturalmente os garotos se dividem em dois grupos, liderados por Ralph, interpretado por Bruno Fagundes, e Jack, vivido por Ghilherme Lobo, que têm atitudes opostas diante do desafio: enquanto Ralph de forma democrática procura maneiras para que todos sejam avistados e salvos, Jack opta pela força e violência, buscando um jeito de sobreviver na ilha descartando a possibilidade de voltar para a civilização. Neste embate, questões essenciais da humanidade são postas em cheque, como ética, leis e comportamentos para se viver em sociedade, amizade, lealdade e o eterno duelo entre o bem e o mal.

Peça: Senhor das Moscas, foto 2

Além dos garotos, montagem conta com 5 músicos que tocam ao vivo

Como os garotos participavam de corais em suas escolas, o início do espetáculo é com todos perfilados entoando uma canção em latim. Em seguida, a trama começa com Ralph encontrando Porquinho, vivido por Felipe Hintze, e logo depois os demais garotos aparecem, assim como os primeiros atritos entre o grupo. Ralph consegue uma tênue unidade, é eleito o líder e algumas regras de convivência são estabelecidas. No entanto, Jack não se conforma em ter de se submeter aos comandos da maioria e provoca a cisão do grupo, criando a sua própria trupe em que a violência e a força determinam as ações deles. Com a separação dos garotos em dois grupos, sobressaem as diferenças de comportamento e as visões de mundo que se colidem. Um elemento externo, o bicho ou o senhor das moscas, começa a amedrontar a todos. Mais do que a personificação do mal na figura do senhor das moscas, o que o texto ressalta é a constatação de que o verdadeiro bicho está dentro de cada um de nós.

“Os dilemas éticos, morais e afetivos dos personagens de Golding parecem ter sido escritos para o Brasil do século XXI. A montagem procura trazer à tona os eixos temáticos da obra, ou seja, a essência verdadeiramente bestial do ser humano; a luta pela civilização; a formação dos partidos (não o meramente político); o sentido de amizade, lealdade e a criação dos vínculos afetivos; a natureza do misticismo, a necessidade dos deuses e da epifania espiritual na vida dos homens”, argumenta Zé Henrique de Paula.

 

Com uma interpretação coesa, uniforme e visceral de todo o elenco, fica difícil apontar destaques; entretanto, Bruno Fagundes e Ghilherme Lobo estão muito seguros em cena, além da sensível atuação de Thalles Cabral e Felipe Hintze. Ressalto ainda o cenário funcional de Bruno Anselmo, constituído de plataformas de madeira que são movimentadas pelos atores, e a iluminação em sintonia com encenação. E o que contribui para o clima épico dramático do espetáculo é a música: além do coro e da coreografia dos atores, há cinco músicos executando ao vivo as canções, interpretadas em latim e em francês, com destaque para a música original de Fernanda Maia.

Peça: Senhor das Moscas, foto 3

Bruno Fagundes e Ghilherme Lobo vivem os líderes Ralph e Jack

Único senão: mesmo que tenha sido intencional, o clima final da trama — com o embate entre o bem e o mal — é depressivo. Fiquei com a impressão de que a montagem não vislumbra qualquer tipo de esperança para a humanidade. Será mesmo? O jovem, público alvo da peça, não tem nas mãos a chance de reverter esta situação? Espero que durante a temporada, que se estende até dezembro, os jovens espectadores tenham a chance de debater as questões levantadas pela peça, no teatro junto com a equipe ou em sala de aula.

 

Roteiro:
Senhor das Moscas. Texto: William Golding. Adaptação: Nigel Williams. Tradução: Herbert Bianchi e Zé Henrique de Paula. Direção e figurinos: Zé Henrique de Paula. Elenco: Arthur Berges, Bruno Fagundes, Davi Tápias, Felipe Hintze, Felipe Ramos, Gabriel Neumann, Ghilherme Lobo, Lucas Romano, Paulo Ocanha Jr., Pier Marchi, Rodrigo Caetano, Rodrigo Vellozo e Thalles Cabral. Stand-in: Gabriel Malo, João Paulo Oliveira e Luiz Rodrigues. Direção musical e preparação vocal: Fernanda Maia. Cenografia: Bruno Anselmo. Iluminação: Fran Barros. Desenho de som: João Baracho. Coreografia: Gabriel Malo. Preparação de atores: Inês Aranha. Fotografia: Giovana Cirne. Produção: Laura Sciulli, Louise Bonassi e Mariana Mello.
Serviço:
Teatro do SESI (456 lugares), Av. Paulista, 1313, tel. 11 3528-2000. Horários: quinta e sexta (agendamento escolar) às 15h; sábado às 15h e domingo às 14h30. Ingressos: gratuitos. Duração: 90 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 03 de dezembro 2017.


2 Comentários

Fábio Mráz

maio 5, 2017 @ 19:23

Resposta

Ótima resenha, Mau!

Maurício Mellone

maio 6, 2017 @ 15:25

Resposta

Fábio,
obrigado pelo incentivo e
pela presença constante por aqui!
Bjs

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