Filme canadense disseca relação maternal

De em outubro 5, 2010

Xavier Dolan escreveu, dirigiu e é o protagonista do filme

Poucos admitem, mas, na realidade, há pessoas que não nasceram para ter filhos. Melhor seria se nunca tivessem colocado um ser no mundo. Essa a impressão que fiquei ao sair do cinema depois de assistir ao canadense “Eu Matei Minha Mãe” (J’ai tué ma mère, 2009), escrito, dirigido e protagonizado por Xavier Golan, hoje com 21 anos, mas que na época das filmagens tinha apenas 17.
A história é autobiográfica e retrata a relação de amor e ódio entre Hubert — um adolescente que está conhecendo sua sexualidade e vive seu primeiro amor com o melhor amigo— e sua mãe Chantale, interpretada por Anne Dorval.
Além dos conflitos naturais pelos quais vive um adolescente, Hubert entra em choque com a visão de mundo da mãe, uma senhora de meia idade, que o criou sozinha depois de ter sido abandonada pelo marido. Ela é consumista, adora o estilo kitsch e é individualista ao extremo. Os momentos em que estão juntos, mãe e filho vivem às turras e as ofensas são de lado a lado.
O isolamento dentro do ambiente familiar, típico dos teens, é potencializado no caso de Hubert. No quarto, depois das brigas, o garoto coloca os fantasmas pra fora, gravando na filmadora autodepoimentos em que geralmente hostiliza a mãe: “Aposto que a maioria das pessoas acha que odiar a mãe é pecado. Mas todas já odiaram a mãe”.

O conflito entre os dois toma um vulto ainda maior quando Chantale, numa sessão de bronzeamento artificial, conhece a mãe do namorado de Hubert, que, muito feliz, conta que os garotos estão fazendo dois meses de namoro! Ela fica completamente sem ação diante da outra e a vida de Hubert, a partir desse momento, vira um verdadeiro inferno. Não sabendo lidar com a homossexualidade do filho, ela apela para o autoritário, ausente e machista pai do garoto. A intolerância e o preconceito ficam exacerbados.
A violência sugerida no título não é de ordem física, mas psicológica. Hubert ama a mãe ao mesmo tempo em que a odeia. No entanto, no momento mais crítico de sua vida acadêmica e pessoal, Hubert apela para Chantale, que não hesita e vai ao encontro do filho!
“Eu Matei Minha Mãe” foi o representante do Canadá ao Oscar 2010 de filme estrangeiro e venceu três categorias no Festival de Cannes/09. É um lançamento do Festival Filmes, selo criado em 2008 pela jornalista Suzy Capó e especializado em filmes para o segmento LGBT.


4 Comentários

Ricardo

outubro 14, 2010 @ 17:54

Resposta

Olá Maurício.
Realmente há tempos, ou ainda melhor, há décadas não nos vemos. Espero que esteja tudo bem contigo.
Gostei do seu blog. Confesso que, por falta de tempo, li apenas a resenha do filme. Depois, com mais calma, fuçarei absurdamente o blog inteiro.
Vamos mantendo contato, ainda que virtual.
Abração.

Maurício Mellone

outubro 14, 2010 @ 18:57

Resposta

Ricardo:
Que bom q vc gostou do blog: venha sempre me visitar, vou adorar!
bjs

Adriano

outubro 7, 2010 @ 20:43

Resposta

Em primeiro…Belo Texto…

Segundo…concordo que em muito momento odiamos nossos pais…mas será que realmente compreendemos que eles sã tão seres humanos quanto nós…?

Não existe família perfeita, mas podemos crescer, partir e construirmos a nossa. Com as pessoas que realmente nos amam.

Eu particularmente tenho uma mãe incrível…e maravilhosa…mesmo assim já cheguei…ter muita raiva dela…Mas quando existe amor em uma relação…todas as coisas são possíveis…até mesmo o convívio em harmonia…rsrsrs…

Maurício Mellone

outubro 8, 2010 @ 14:23

Resposta

Adriano:
O psicoterapeuta Contardo Calligaris (fomos no mesmo dia ao cinema)
publicou na Folha de quarta (06/10) um artigo sobre o filme; ele
fala q há um período em q os adolescentes têm aversão/asco do corpo dos pais e isso
é bom, pois vão procurar o objeto de desejo em outros modelos, fora de casa! Isso
é reconfortante. E no filme o diretor e ator Xavier Dolan também expõe sua contradição:
odeia a mãe, mas nutre por ela muito amor. E a mãe tb ama o filho, do jeito
egocêntrico dela, mas ama a cria!
bjs

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