Filme: Uma noite de 12 anos, foto 1

Uma noite de 12 anos: prisão e tortura a três militantes políticos

De em outubro 17, 2018

Filme: Uma noite de 12 anos, foto 1

Militantes Mujica (Antonio de la Torre), Rosencof (Chico Darín) e El Ñato (Alfonso Tort)

Nada mais oportuno do que neste momento histórico assistir ao filme de Alvaro Brechner, Uma noite de 12 anos, que retrata a prisão e a tortura a três militantes políticos — ligados ao Movimento de Liberação Nacional Tupamaros — pela sangrenta ditadura militar do Uruguai durante a década de 1970.

A trama é baseada no livro Memórias de um calabouço, de Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro, que foram aprisionados juntamente com José Alberto Mujica, mais tarde eleito presidente do Uruguai. Sem terem sido julgados, eles — Eleuterio, apelidado El Ñato e interpretado por Alfonso Tort, Rosencof, o Russo, vivido por Chino Darín e Mujica, o Pepe, papel de Antonio de la Torre — permaneceram presos, em condições aviltantes, durante 12 anos, de 1973 a 1985.

Filme: Uma noite de 12 anos, foto 2

Presos mantidos incomunicáveis por 12 anos

 

A onda conservadora que  avança pelo mundo, incluindo o Brasil — que hoje se encontra politicamente dividido, com ideologias extremistas de cada lado —, pode encobrir realidades duras e sofridas causadas por ditaduras. Tanto de direita como de esquerda. Para ficar só na América Latina, já tivemos (e temos até hoje) ditadores das mais diferentes correntes políticas que desrespeitam as leis e, principalmente, aviltam a dignidade humana. Os exemplos são inúmeros, na Argentina, Brasil, Uruguai, Chile de um lado, e Cuba, Venezuela e Nicarágua de outro. E no resto do mundo, os governantes autoritários infelizmente são muitos (na Síria, Turquia, Arábia Saudita, Iraque, Irã, Coréia do Norte, Rússia etc)

No entanto, o que o filme de Brechner faz é demonstrar as condições desumanas, sem qualquer amparo legal, com que a ditadura militar uruguaia impôs a seu povo, particularmente a quem contestava o regime. O período da ditadura uruguaia foi de 27 de junho de 1973 (por meio de golpe de Estado) até 28 de fevereiro de 1985.

Para mostrar os bastidores desta ditadura, o filme tem como foco a história dos três militantes tupamaros. A trama começa com a prisão deles. Incomunicáveis e em condições precárias — não podiam falar entre si e nem com os guardas —, os rapazes eram transferidos constantemente de prisões, cada vez para locais mais inóspitos, com parca alimentação, pouca luz e sem direito a visitas (raras vezes em 12 anos eles receberam familiares). Mais do que a prisão e tortura física, Pepe, Russo e El Ñato sofreram tortura psicológica, cada um buscando internamente meios para não enlouquecer. O passado e o sonho os alimentavam. E eles conseguiram criar um código para se comunicar: cada batida na parede correspondia a uma letra e assim precariamente conseguiam entrar em contato.

A iluminação do filme (sempre com pouca luz) enfatiza as condições dos presos políticos, considerados pelos militares como reféns. As cenas das lembranças e dos sonhos dos três, fora da prisão, funcionam como contraponto ao tratamento cruel que eles recebiam nas prisões.

Filme: Uma noite de 12 anos, foto 3

Mujica (Torre) ao sair da prisão é recebido pela mãe (Mirella Pascual)

Impossível ficar imune e não se emocionar diante de tanta violência, agressão e desrespeito à legalidade e às condições desumanas dos presos políticos. Um filme que retrata a dura e cruel realidade vivida pelos opositores ao sistema militar do Uruguai. Interpretações viscerais e impactantes de Antonio de la Torre, Chino Darín e Alfonso Tort (que passaram inclusive por grandes transformações físicas) e cenas de emoção extrema — o final, com os presos sendo recebidos pela população, provoca grande euforia na plateia.  Na sessão a que assisti, houve até gritos exaltando os militantes políticos. Além da denúncia de um período tenebroso vivido na América Latina, que Uma noite de 12 anos sirva como alerta de combate ao autoritarismo, à intransigência e à intolerância política, ideológica e social.

 


Fotos: divulgação


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