De Maurício Mellone em novembro 27, 2012
A estrutura do documentário 5 X Pacificação é explicitada já na primeira cena: os jovens cineastas estão ao redor de uma mesa e as ideias de como realizar o filme surgem desta troca de experiência da vida deles. Como cada um é morador de uma comunidade diferente, eles pretendem com o filme avaliar como está a realidade dos morros cariocas depois da implantação da política do governo estadual para a segurança pública, as conhecidas UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora.
Da mesa de discussão, o documentário ganha as vielas das favelas, em cinco episódios: Morro, dirigido por Cadu Barcellos, Polícia de Rodrigo Felha, Bandidos de Luciano Vidigal, Asfalto de Wagner Novais e por último Complexo, dirigido por todos eles. O roteiro é assinado por Rafael Dragaud e pelos diretores, numa produção do cineasta Cacá Diegues e de Renata Almeida Magalhães.
No primeiro episódio, Morro, há a avaliação dos moradores das comunidades que já receberam a UPP em contraposição à opinião de moradores de favelas que ainda não têm a polícia pacificadora. Além do relato da interferência policial no cotidiano das pessoas (os prós e contras), há sempre um olhar crítico. Em Polícia, o destaque é para o treinamento e preparação dos policiais que irão integrar a futura UPP, bem como a opinião de moradores e policiais sobre o papel que a unidade deve cumprir junto à população. O terceiro episódio, Bandidos, é emocionante, pois traz o depoimento de ex-traficantes que relatam como conseguiram sair do mundo do crime e como vivem hoje, a maioria deles como voluntários de ONGs que trabalham para recolocar ex-bandidos no mercado de trabalho e também abrir novos postos de trabalho para jovens. O relato de superação dos entrevistados emociona o espectador.
Asfalto é o episódio que mostra a opinião dos vizinhos das comunidades que já receberam as UPPs, numa avaliação do antes e depois e, principalmente, como as favelas necessitam de uma verdadeira integração com a cidade. O secretário de segurança, José Mariano Beltrame, fala que as favelas não deveriam ser identificadas por seus nomes, mas pelos nomes dos bairros da cidade a que pertencem. Por exemplo, a comunidade Santa Marta, do morro Dona Marta, deveria ser identificada como do bairro de Botafogo. No último episódio, Complexo, como a ocupação do Complexo do Alemão e da Rocinha estava sendo realizada durante as filmagens, os diretores resolveram fazer uma avaliação desta ação policial na cidade.
Além dos pontos favoráveis do projeto — com depoimentos de autoridades, moradores e de integrantes de ONGs, como José Júnior, do AfroReggae, entidade que mantém atividades culturais e sociais em várias comunidades, — 5 X Pacificação traz ainda a opinião de pessoas que sabem que não basta o aparato das UPPs e a mudança de conduta dos policiais; é necessário que o Estado entre definitivamente nestas comunidades, com escolas, postos de saúde, sistema de água, esgoto e eletricidade. Enfim, que os morros estejam literalmente integrados à cidade e os moradores tenham vida digna.
Um único senão de um paulistano e que assistiu estarrecido ao filmeTropa de Elite: em nenhum momento 5 X Pacificação toca no âmago do filme do diretor José Padilha, ou seja, a ação nefasta das milícias, os ex-policiais corruptos que agiam em paralelo ao tráfico. Com as UPPs, onde estão aqueles corruptos da corporação policial? A nova polícia expulsou o traficante, mas e os membros das milícias como agem hoje em dia?
No entanto, o filme destes jovens diretores chega numa hora crucial, em que tanto a grande São Paulo como algumas cidades do interior do Estado e de outras capitais (Florianópolis, por exemplo) vivem o horror de ataques de criminosos e matança geral. Está na hora de se avaliar com profundidade que medidas devem ser tomadas para conter esta nova onda de violência urbana no Brasil. As UPPs cariocas podem servir de modelo e exemplo.
Fotos: divulgação
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