De Maurício Mellone em maio 2, 2018
Depois de percorrer inúmeros festivais de cinema pelo mundo — com prêmios em Buenos Aires, Nova York e Curitiba —, acaba de estrear A cidade do futuro, filme do casal de diretores Cláudio Marques e Marília Hughes, rodado no sertão da Bahia, em Serra do Ramalho, cidade criada durante a ditadura militar para abrigar mais de 70 mil pessoas que tiveram de deixar suas cidades para a construção da represa de Sobradinho.
Tendo como pano de fundo esta história da cidade, a trama é baseada na relação afetiva entre o professor de história Gilmar, vivido por Gilmar Araújo, a professora de artes Mila, interpretada por Milla Suzart e pelo vaqueiro e radialista Igor, papel de Igor Santos. Para viver este amor, os três jovens precisam romper a cultura machista e os preconceitos, tão arraigados na sociedade brasileira, principalmente do sertão do país.
Com roteiro assinado por Cláudio Marques, o filme começa com os dois professores chegando de moto na escola e, em sala de aula, Gilmar passa um documentário sobre a chegada das famílias à cidade depois de terem abandonado suas casas; a discussão é sobre as consequências deste deslocamento e como as pessoas reagiram às determinações impostas pelas autoridades do regime militar. A professora de artes também desenvolve um trabalho de conscientização com seus alunos por meio de técnicas de teatro.
Paralelamente à vida profissional de Gilmar e Mila, a trama também revela a vida social e afetiva deles, adeptos das relações poligâmicas; enquanto Mila faz um passeio com uma de suas alunas, Gilmar se encontra com o vaqueiro e, mesmo escondidos, eles se amam.
Um fato vai modificar profundamente a vida dos três: Mila descobre que está grávida. Se por um lado a chegada de uma criança é motivo de alegria, por outro lado, esta notícia cai como uma bomba na conservadora e preconceituosa cidadezinha do sertão baiano. Se não bastasse a relação homoafetiva de Gilmar, as pessoas não admitem que ele e Mila passem a morar juntos. Nem a direção da escola suporta a pressão e Mila é demitida. Igor, enciumado, reage se afastando do namorado. Para se sustentar já que a mãe também o pressiona, o vaqueiro consegue emprego numa rádio. Mas nem por isso está livre do preconceito: ele sofre agressões de homofóbicos e não tendo a quem recorrer pede socorro a Gilmar e a Mila. O professor de história não aceita a ideia de ter de deixar sua cidade natal, assim como fizeram seus familiares e os demais moradores de Serra do Ramalho. Os três, para poderem viver como desejam, precisam superar seus medos e enfrentar todo tipo de discriminação.
O roteiro contou com a história de vida dos atores (por isso a coincidência dos nomes de ator/personagem), o que trouxe verdade à ação. O público pode no início estranhar o ritmo mais lento da narrativa, mas o teor libertário do enredo acolhe e ganha o espectador. O lembrete de sempre para filmes brasileiros: vá logo conferir; do contrário, diminuem as sessões e a trama sai de cartaz.
Fotos: divulgação
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