De em junho 29, 2012
Pela primeira vez montada em São Paulo, estreou nesta semana, no Teatro Nair Bello, a peça A Dama do Mar, de Henrik Ibsen, projeto que o premiado diretor Sérgio Ferrara acalenta há mais de quatro anos. Com um elenco de oito atores, a trama gira em torno de Élida Wangel, interpretada por Ondina Clais Castilho, uma mulher madura, casada com um médico viúvo e pai de duas moças, mas que não consegue se entregar ao relacionamento em função de seu envolvimento na juventude com um marinheiro desconhecido (Renato Cruz). Eles tiveram um romance passageiro, mas intenso, e como símbolo deste encontro enlaçaram seus anéis e jogaram ao mar. O rapaz partiu, mas prometeu voltar para se casarem; trocaram correspondência e Élida cansou da espera; escreveu dizendo que o trato estava rompido e casou-se com Dr. Wangel (vivido por Luiz Damasceno). No entanto, ela não consegue se desvencilhar do passado e vive entre a negação e a afirmação de seu desejo pelo marinheiro.
Desde a cena inicial, numa espécie de prólogo, o espectador já percebe que aquela mulher vive em constante perturbação interior. Sem filhos (o único morreu ao nascer), ociosa e dependente do marido, Élida tem verdadeiro fascínio pelo mar e ao mesmo tempo repudia seus sentimentos mais profundos. Diariamente, faça sol ou não, ela se joga ao mar; esse banho diário é mais do que um prazer, carrega toda uma simbolização:
A atração de Élida pelo mar é símbolo de sua busca e renúncia de liberdade pessoal. O que mais me chamou a atenção na personagem foi a compreensão de que havia uma necessidade de independência para afirmar a sua escolha livre. Renunciar ao casamento, pedir o divórcio para poder fazer sua escolha. Eis a grandeza de Élida: pouco importa o que escolherá”, explica o diretor.
Gravitando ao redor do drama desta mulher, vivem Bolette (Mariana Hein) e Hilda (Erika Altimeyer), as filhas do médico, que são como um contraponto na vida de Élida, já que assumem os afazeres domésticos no lugar dela. Há ainda o professor Arnholm, interpretado por Luciano Quirino, e o jovem Lyngstrand (Ricardo Gelli). O professor conheceu Élida antes de seu casamento e foi chamado pelo médico para tentar ajudá-la; ele tem pouco a fazer e se apaixona por Bollete. O outro rapaz é paciente do Dr. Wangel e trabalhou na mesma embarcação do misterioso marinheiro.
Um dos destaques da montagem é a cenografia, assinada por J.C.Serroni: uma plataforma em madeira, na extremidade do palco, funciona como píer ou até uma ponte em direção ao mar, ao infinito. Há também praticáveis de madeira, movidos pelos atores, que delimitam os espaços. A luz de Rodrigo Alves Azevedo, com prevalência das cores azul e branca, contribui para o ar de mistério e nebulosidade vividos pela sofrida Élida.
A Dama do Mar fecha a trilogia de Sérgio Ferrara com a obra de Ibsen: já dirigiu O Inimigo do Povo em 2007 e O Imperador e Galileu em 2008. A montagem cumpre temporada até setembro: agende-se para não perder mais este clássico do dramaturgo norueguês.
Fotos: Bob Sousa
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