De em julho 15, 2011
Uma escola do escândalo! Digam lá! De vossa parte:
É preciso professor para ensinar tal arte?
Maledicência, meus caros, não se aprende na escola.
Mais difícil é ensinar um menino a jogar bola!
As línguas ferinas trabalham nas revistas, nos jornais,
Expondo as intimidades dos amantes, dos casais,
E se alguma maldade é ouvida, isso por certo é o que basta!
Em se tratando de Brasil, esse trecho do prólogo da comédia de Richard Scheridan A Escola do Escândalo , em cartaz no Teatro Raul Cortez, cai como uma luva! Somos o país dos escândalos: só nesse ano em Brasília quantos já não ouvimos falar pela mídia diariamente? Os vários da Casa Civil (no plural mesmo), o atual do Ministério dos Transportes e assim vamos!
No entanto, esse texto inédito no país — traduzido, adaptado e dirigido por Falabella— trata-se dos escândalos e intrigas dos salões da corte e alta burguesia de Londres do século XVIII. Mas incrível como são tão atuais e familiares! O espetáculo cumpriu temporada no Rio e permanecerá por aqui até setembro.
Com um elenco de 10 atores, encabeçado por Maria Padilha, Tonico Pereira, Bruno Garcia e Rita Elmôr, A Escola do Escândalo faz uma radiografia da alta sociedade londrina daquela época, mostrando a frivolidade, hipocrisia e o jogo de aparências em que viviam. Intrigas e fofocas permeavam as relações. Parece que pouco mudou três séculos depois: no mundo social, a fofoca hoje é difundida pelos mais modernos meios de comunicação, como redes sociais e mini-blogs. Na política, os gabinetes dos governantes, deputados e senadores, em alguns casos, mais parece o mercado paralelo de tráfico; a corrupção é a moeda de troca da esfera do poder. A comédia de Sheridan se restringe ao comportamento social de 1777, quando foi escrita, mas a adaptação de Miguel Falabella traz para os dias de hoje e passa a ser uma sátira à vida contemporânea.
Destaque para a cenografia de Lia Renha, que emoldurou a caixa preta do teatro com adornos rococó, além dos discos giratórios no palco e três espelhos que ampliam os ângulos de visão. O figurino de Emília Duncan também merece destaque.
No entanto, mesmo com dois atos e vários personagens cortados do original, a montagem é longa. As tramóias de José Fachada (Bruno Garcia) para impedir o casamento de Maria (Bianca Comparato) com seu irmão Carlos (Armando Babaioff) e como a tia Dona Olívia (Cristina Mutarelli) desmascara os sobrinhos, em determinado momento, se tornam cansativas e monótonas. Por outro lado, a ironia e as confusões provocam muito riso e agradam muita gente. Não foi o meu caso.
Foto: Guga Melgar
2 Comentários
Mario Viana
julho 21, 2011 @ 17:37
Escola de Escândalos?
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz…
Maurício Mellone
julho 22, 2011 @ 10:08
Mário:
Já tínhamos comentado sobre a peça e sabia q vc desaprova.
Quis publicar a resenha, pois acredito q há público para ela; não
é o meu caso (deixei claro) e nem o seu!
bjs e obrigado pelas visitas constantes!