De Maurício Mellone em maio 24, 2013
Depois de ter participado do projeto Palco Giratório do SESC, em que os espetáculos viajam por todo o país, Suzan Damasceno acaba de estender por mais um mês a temporada no Teatro Eva Herz do monólogo A Obscena Senhora D, baseado na obra de Hilda Hilst.
Providencial que a peça seja prorrogada, já que a aconchegante sala abriga perfeitamente este monólogo que requer íntima integração com a plateia. Em cena, somente uma cadeira, que está colocada em cima de palha e mato seco: assim que toca o terceiro sinal, tudo se apaga e em seguida já se vê a senhora com uma cabeleira imensa e amarfanhada sentada. Ela começa seu longo desabafo, explicando porque é chamada de senhora D, D de derrelição, de abandono, de desamparo. Aos 60 anos, após a morte do marido e desiludida da vida, Hillé decide se afastar do mundo e passa a morar num vão de escada, onde busca pelo sentido das coisas.
Acompanhada apenas de um aquário em que coloca peixes de papelão, Hillé recorda de momentos vividos ao lado marido Ehud; em alguns momentos do espetáculo, o espectador pode ter a impressão até que aquela senhora dialoga com o marido. No entanto, são divagações e tentativas de se compreender o mundo, a velhice, a solidão, o abandono, sua relação com Deus e o sentido da vida e da morte.
Sobre A Obscena Senhora D, o escritor Caio Fernando Abreu, num texto de 1982, disse:
“Esta personagem de Hilda Hilst nos contempla para falar ‘desta coisa que não existe mas é crua e viva, o Tempo’. Para cuspir em nosso rosto a pequenez, a perdição humana, para dizer que ‘ninguém está bem, estamos todos morrendo’”.
Com um texto corrosivo e desconcertante, o espectador é forçado a refletir sobre a existência humana. Mas confesso que o espetáculo me provocou um certo distanciamento, talvez pela condição solitária e de total abandono da personagem.
Com direção geral de Rosi Campos e Donizeti Mazonas, o grande destaque de A Obscena Senhora D é sem dúvida para Suzan Damasceno, que além de sua interpretação visceral, responde pela direção e concepção geral do espetáculo. O tom sóbrio e de claustrofobia — exigência do texto de Hilda Hilst — é enfatizado pela luz de Pedro Brandi e a cenografia e figurino assinados por Anne Cerutti.
Confira!
Fotos: Ary Brandi
2 Comentários
Imad
maio 25, 2013 @ 16:43
Hilda Hilst, apesar de tanto talento, vendia pouco livro. Agora, no teatro, as pessoas podem conferir o poder e a ousadia de seu texto, ao qual dificilmente ficamos indiferentes. Boa dica, mais uma vez, Mau!
Sucesso e abracos.
Maurício Mellone
maio 27, 2013 @ 11:19
Imad:
O monólogo da Suzan é realmente tocante, Hilda Hilst não dá trégua,
vai até a raiz!
Obrigado pela visita, volte sempre!
bjs