De em janeiro 31, 2011
Se há algo de certo nessa vida é a morte. Por mais que todos sabemos dessa máxima, poucos lidam bem ou enfrentam essa verdade. O dramaturgo norte-americano Edward Albee tem a morte como tema em várias de suas peças e em A Senhora de Dubuque, — texto inédito no Brasil que acabou de estrear no Sesc Pinheiros, Teatro Paulo Autran—, novamente tem a finitude humana como centro da discussão.
Sob a direção do ator Leonardo Medeiros, a peça inicia com o casal Jo e Sam, vividos por Alessandra Negrini e Joaquim Lopes, recebendo em sua casa dois casais de amigos. Cansados do joguinho de adivinhações e com o nível alcoólico bem elevado, vêm à tona as desavenças, intrigas e conflitos entre eles. Jo, que está seriamente doente, não tem papas na língua e solta todas as verdades e venenos. À princípio, por respeito ao estado da anfitriã, os amigos a poupam, mas o conflito é inevitável. Com a iminência da morte de Jo, o autor discute também como as pessoas reagem à perda; na maioria das vezes, há a negação da morte como uma estratégia de sobrevivência.
Se até então a trama estava dentro do realismo, ao amanhecer, tudo se inverte. Sam acorda e é surpreendido com a presença em sua sala da enigmática senhora Elizabeth e seu acompanhante Oscar, interpretados por Karin Rodrigues e Edson Montenegro. Dizendo-se mãe de Jo, Elizabeth é contestada pelo dono da casa. No entanto, Jo mesmo debilitada não hesita e, ao vislumbrar a senhora, corre para seu colo.
O que representa essa visita? Que senhora é essa? Elizabeth representa o que todos temem ou pelo menos tentam negar ou evitar? Mistérios, reflexões e indagações propostos por Albee, que são ressaltados nessa montagem de Leonardo Medeiros. O cenário de Mira Andrade (destaque para o imenso sofá que lembra um esqueleto) e a bela iluminação de Beto Bruel reforçam o tom dramático e intimista de A Senhora de Dubuque.
Ressaltaria a presença sóbria e precisa de Karin Roidrigues na pele da personagem que dá título à peça e a atuação visceral que Alessandra dá para Jo. Destaque também para Edson Montenegro: o tom enigmático do acompanhe da velha senhora é bem evidenciado por ele.
Fotos: Carol Sachs
2 Comentários
Mario Viana
janeiro 31, 2011 @ 18:03
O texto do Albee pode não ser o melhor de sua produção, mas tem momentos marcantes mesmo.
Maurício Mellone
janeiro 31, 2011 @ 19:01
Mario:
q bom q dessa vez concordamos!
Bjs e obrigado pela visita!