A Separação, premiado filme iraniano checa a relação a dois

De em janeiro 24, 2012

Mesmo se amando, Simin (Leila Hatami) e Nader (Peyman Moaadi) querem se separar

De um país com o sistema político fechado e uma censura extrema, nada mais agradável para o público ocidental de ter acesso a um filme que retrata o cotidiano de uma família de classe média do Irã contemporâneo. É exatamente isto o que faz o diretor Asghar Farhadi, que também assina o roteiro, em A Separação. Premiadíssimo — no Festival de Berlim/11faturou Urso de Ouro, além dos prêmios de ator e atriz, acaba de ganhar o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e é o favorito ao Oscar de produção estrangeira — o filme começa num close do casal Nader (Peyman Moaadi) e Simin (Leila Hatami) em plena sessão para oficializar a separação. Confessam que se amam, mas discordam da decisão de Simin de deixar o país: o marido se recusa a viajar em razão do pai estar com Alzheimer e também não autoriza que a mulher leve a filha Termeh (Sarina Farhadi) consigo. Trama armada já nos primeiros takes, que envolve o espectador até o desfecho, que o diretor deixa em aberto.

Nader cuida do pai (vivido por Ali-Asghar Shahbazi), vítima de Alzheimer

 

 

Como não há acordo entre o casal, o juiz não oficializa a separação, alegando falta de justificativa mais convincente. Mesmo assim, eles insistem na dissolução do casamento e Simin deixa o apartamento em que eles vivem com o sogro e a filha. Para ajudar no tratamento do pai, Nader contrata uma empregada, muito religiosa e que está grávida; ela não sabe lidar direito com o doente e comete alguns deslizes, o que provoca a ira do patrão. Desta discussão, Nader é acusado de ter provocado o aborto da ex-empregada.
Mais do que acompanhar a situação do casal em crise, o público é colocado no centro do sistema jurídico do Irã (grande parte das cenas, feitas na mão, se passa diante de juizados, tanto para a questão cível como da pendência criminal). Assim, mesmo não tendo conhecimento de como funcionam as leis iranianas, o espectador se depara com uma cultura muito diferente da nossa.

Sarina Farhadi interpreta Termeh, a filha do casal

 

 

 

O que mais me chamou a atenção em A Separação foi exatamente como o iraniano, de uma maneira geral, é rígido com seus valores culturais e religiosos. O pai, ao educar a filha no seu dia-a-dia, é questionado pela garota a todo instante sobre valores que ele lhe ensinou, como não mentir, não trapacear; roubo também é visto como pecado mortal, podendo, em determinados casos, o autor deste crime ter como pena a perda da mão! Para checar se a pessoa mente, basta pedir que jure diante de Alcorão, livro sagrado do Islã: dificilmente o mentiroso dá falso testemunho, por infringir um rito religioso e cultural.
É no cinema que as diferenças culturais são evidenciadas e elucidadas e esta é uma das características que mais me impressionou no filme de Asghar Farhadi. Merecedor dos prêmios já conquistados e dos que virão!

Fotos: divulgação


2 Comentários

Daniela Siqueira

janeiro 26, 2012 @ 20:40

Resposta

Mau, muito boa aresenha ! E é bem engraçado como as imagens que chegam pra nós aqui no ocidente, são tão distorcidas. Mas o que faz mais falta, é a falta de interesse, nosso, em relação ao Irã. Já tive acesso a alguns documentários sobre o País, e sempre é frisado que é um povo super hospitaleiro e simpático. E pelo filme, me pareceu bem ocidentalizado também. Já que em diversas cenas a atriz aparece dirigindo o próprio carro e sozinha, que é proibido pela “sharia”. Gostei bastante do filme, e só reforçou minha vontade de conhecer aquele lugar, que deve ser fascinante ! Vamos ?

Maurício Mellone

janeiro 30, 2012 @ 14:07

Resposta

Daniela:
O filme é encantador mesmo e concordo com vc: a imagem do Irã é pouco conhecida dos
ocidentais. Vc salientou um aspecto bem interessante: a mulher dirigindo e só, sem uma
submissão ao marido (ou qq outro homem da família).
Adoraria conhecer a região, mas agora não posso. Vá e depois me conte tudo! rsrsrsr
bjs e obrigado pela visita, volte sempre, vou adorar!

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