De Maurício Mellone em junho 23, 2022
Batizado como Alex Pereira Barboza, o rapper, escritor, cineasta, ator e ativista MV Bill completa 30 anos de carreira em 2023. Para dar início às comemorações, o artista acaba de lançar seu primeiro livro solo, A vida me ensinou a caminhar, editado pela Age, com capa de Fred Messias e fotos de Marcos Hermes. A obra é composta por 27 crônicas que remontam a carreira de MV Bill e, de pano de fundo, faz um painel do movimento hip hop do Rio de Janeiro.
Depois de já ter escrito Cabeça de Porco, em parceira com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares, e Falcão, Meninos do Tráfico e Falcão, Mulheres e o Tráfico, ambos com Celso Athayde, MV Bill quis contar sua trajetória artística. Para isto optou por escrever na primeira pessoa, no formato de crônica, como se estivesse conversando com o leitor. Daí a linguagem solta, direta e envolvente. No final de cada capítulo há um código QR em que o leitor tem acesso a mais informações.
“A vida me ensinou a caminhar/
Saber cair depois se levantar/
O tempo não me espera/
Não há espaço pra chorar/
Andei no escuro e agora vou brilhar”
As crônicas não seguem uma sequência cronológica rígida, mas MV Bill procura contar desde o início de sua carreira, com a criação do Geração Futuro, as primeiras apresentações improvisadas, os primeiros shows na CDD, Cidade de Deus, comunidade carioca onde Bill se criou, passando pelo crescimento de seu grupo, sua carreira solo e o avanço do rap no Rio e no Brasil.
De forma despretensiosa, Bill conta fatos e bastidores da carreira e assim dá a dimensão do crescimento e da popularidade que alcançou, como a primeira turnê pelo Nordeste, em que tiveram muita dificuldade de deixar os locais dos shows em razão do grande número de fãs.
O rapper conta também sobre sua admiração aos grandes nomes do rap norte-americano, da gravação de seu primeiro álbum solo Traficando Informação, em 1999, e de como promoveu o primeiro show dos Racionais no Rio de Janeiro. A polêmica canção Soldado do Morro, em que MV Bill interpretava com uma arma na cintura, ganhou dois capítulos do livro.
A obra traz ainda os bastidores da participação de MV Bill no Free Jazz Festival, a gravação de seus primeiros videoclipes, sua relação de amor e ódio com a MTV e capítulos dedicados a sua irmã, Kamila CDD, e ao saudoso Chorão, vocalista e cérebro da banda de rock Charlie Brown Jr. Bill também cita como conheceu o rapper paulistano Sabotage e, desta forma, retrata a interação entre os criadores da cultura hip hop do país.
Outro capítulo relevante da obra ressalta a participação de MV Bill no programa do Faustão, da Rede Globo: conhecido por não deixar o convidado falar, Fausto Silva foi surpreendido com a fala pulsante e vigorosa do rapper, que depois desta primeira participação voltou várias vezes ao programa.
O rap, por retratar a realidade nua e crua das favelas, ficou marcado pelo tom austero, incisivo e combativo. Seus representantes mais fiéis geralmente trazem este perfil no DNA de suas carreiras. Com MV Bill não é diferente. Mas não só o mundo mudou, como o rapper carioca amadureceu e pode hoje mostrar as mil e uma facetas de seu talento. Neste livro solo, Bill abre seu coração e revela suas limitações, seus pequenos fracassos, mas principalmente seu lado sensível, humano e amigo dos amigos. Em diversas passagens fiquei emocionado com o relato de suas superações, de seu senso solidário e de seu compromisso com a educação e formação dos jovens das comunidades carentes do país. A canção A quadra conecta, exemplifica isto:
Além deste livro, o leitor e os fãs podem acompanhar a carreira de MV Bill por meio de seu canal, https://www.youtube.com/c/MVBillcdd
Ficha técnica:
Titulo: A vida me ensinou a caminhar
Autor: MV Bill
Editora: Age, 220 pág
Preço: 68
Fotos: divulgação
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