Peça: Afinação I, foto 1

Afinação I: solo de Georgette Fadel é uma aula-conferência filosófica

De em janeiro 11, 2017

Peça: Afinação I, foto 1

Em solo, Georgette Fadel, que assina a dramaturgia e direção, vive a pensadora francesa Simone Weil

Ao invés de um palco tradicional e a plateia, em Afinação I, peça que acaba de estrear no SESC Ipiranga, há um pequeno auditório e cadeiras para 30 pessoas. Ao entrar na sala, os espectadores já encontram a atriz Georgette Fadel na pele da professora francesa Simone Weil portando um violoncelo. Fica estabelecido que se trata de uma aula-conferência, tanto que todos são convidados a pegar pranchetas e canetas para as devidas anotações da aula. Logo de início a pensadora diz que tudo aquilo não passa de uma afinação e que ela é no fundo a ‘guardiã do pensamento’.
Com textos da própria Simone Weil, acrescidos de trechos de obras de outros pensadores como o dramaturgo Bertolt Brecht e dos filósofos Karl Marx e Georg Hegel, a aula tem início e a professora diz que tudo o que será dito ali é sobre a liberdade, numa espécie de oração à razão.

Peça: Afinação I, foto 2

A atriz usa o violoncelo como suporte de sua aula-conferência

De forma bem informal, a professora se apresenta e confessa já ter sido atriz, mas que agora se dedica à área acadêmica e à filosofia. Somente com uma cadeira e uma pequena mesa a sua frente (com xícara de café, uma garrafa térmica e um copo de água), a professora começa sua aula tendo sempre o violoncelo como suporte de suas falas. Usando a personagem central da peça de Brecht, Santa Joana dos Matadouros, a professora fala da relação entre a opressão e o sofrimento no mundo. Pede ajuda a um dos ‘alunos’ para que escreva no quadro alguns dos conceitos centrais da conferência e passa a interagir com os alunos/espectadores. Os textos dos filósofos discutidos na aula-conferência são de extrema complexidade e exigem muita atenção dos ‘alunos’, tanto que muitas vezes Simone pergunta se estão entendendo. Não é pra menos, já que a professora discorre sobre pensamento racional em contraposição ao pensamento raciocinante, razão e emoção, finito e infinito. Na estreia, um aluno/espectador interagiu diversas vezes com a professora/atriz.
Além de atuar, Georgette assina a dramaturgia e a direção do espetáculo, que sem dúvida é inusitado em sua forma, na maneira de conduzir a trama. No entanto, para um espectador leigo (como eu), fica difícil acompanhar a complexidade dos conceitos filosóficos apresentados nos 60 minutos da peça (que na estreia foram bem estendidos). Senti falta de uma conclusão ou de um desfecho mais bem articulado — a professora/atriz chega a dizer ao final que todos podem sair para o intervalo. No entanto, a peça é um grande exercício para a atriz, que demonstra domínio para driblar os alunos/espectadores e trazer todos à proposta cênica. As apresentações acontecem somente terças e quartas, até 1º de fevereiro.

 

 

Fotos: Julia Zakia


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