Amanhã eu vou: peça de Clóvys Torres provoca reflexões existenciais

De em março 20, 2021

Lilian Blanc e Tuna Dwek vivem duas sobreviventes num mundo devastado pela peste

De forma poética e filosófica, Clóvys Torres em Amanhã eu vou propõe uma reflexão sobre um mundo caótico e devastado pela peste, numa clara alusão à realidade atual, em que vivemos sob uma pandemia que já provocou a morte de milhões de pessoas pelo mundo — só no Brasil são mais de 290 mil vítimas.

 

Na peça filmada, duas mulheres, interpretadas por Tuna Dwek e Lilian Blanc e dirigidas por Cristina Cavalcanti, são as únicas sobreviventes de um planeta totalmente corroído pela peste e pelas queimadas.  Elas dependem uma da outra para continuarem a viver, mesmo sendo de temperamentos opostos: uma sonha e idealiza um futuro, enquanto a outra nem dorme e deseja sair daquele lugar inóspito; elas conversam sobre a vida, ou a falta de vida. Temporada gratuita e curtíssima: somente neste final de semana, pela Plataforma Teatro.

 

 

 

No pior momento da pandemia da Covid-19 no Brasil, com restrições e apelos para que as pessoas permaneçam em casa, as produções online são as únicas possibilidades de entretenimento. Amanhã eu vou cumpre esta missão e vai além: propõe uma profunda reflexão sobre a vida, a existência humana diante da destruição e do caos.

 

 

Torres escreveu a peça para Tuna e Lilian

 

 

“Este texto nasceu do que estava sentindo, desta dor. Gosto do teatro do absurdo e o que estamos vivendo é absurdo, não só simbolicamente como na prática, não saber se você vai conseguir respirar, as mortes claustrofóbicas, as queimadas. Estamos num momento sem perspectivas, porém quero acreditar que há uma saída: escrevi sobre algo devastador, mas há esperança de vida, as duas mulheres se acolhem nessa devastação toda”, argumenta Clóvys Torres.

 

 

 

 

 

A interdependência entre as duas personagens é evidente, mesmo que sejam de temperamentos distintos. Enquanto uma sonha e vislumbra um futuro (mesmo que os sonhos retratem o caos), a outra nem dorme, tem os pés fixos no real e deseja sair daquele ambiente lúgubre. Elas necessitam uma da outra para sobreviver e nesta interação têm ideias filosóficas, existenciais; refletem sobre Deus, o amanhã, o agora, a finitude.

 

 

Tuna Dwek e Lilian Blanc; sintonia perfeita

 

Além de um texto arrebatador, principalmente para o período em que estamos vivendo, o espetáculo plasticamente encanta — cenografia e iluminação de grande impacto. No entanto, sob a direção sensível de Cristina Cavalcanti, o destaque da montagem é para a interpretação. As atrizes estão em perfeita sintonia e tanto Tuna Dwek como Lilian Blanc imprimem verdade e comovem.
Uma produção tão bem cuidada, com uma mensagem tão essencial para o hoje, merece temporada mais extensa. Três únicos dias, seis sessões, são muito pouco. Que venham outras temporadas, quiçá com plateias!

 

 

 

Roteiro:
Amanhã eu vou. Texto: Clóvys Torres. Direção e cenografia: Cristina Cavalcanti.  Elenco Lilian Blanc e Tuna Dwek. Iluminação: Rodrigo Menck. Trilha sonora:  Igor Souza. Fotografia: Priscila Prade. Produção: Clóvys Torres. Realização: Clóvys Torres e Visceral Companhia.
Serviço:
Transmissões online: www.plataformateatro.com. Horários: dias 19, 20 e 21 de março, duas sessões diárias, às 17h e 20h. Ingressos: gratuitos. Duração: 50 min. Classificação: 12 anos.


2 Comentários

Dinah Sales de Oliveira

abril 2, 2021 @ 13:23

Resposta

Oi, Maurício,
A resenha aguça a vontade…
Fiquei a fim de ver o espetáculo e faz tempo que não ‘vou’ ao teatro.
Vou me programar aqui.

bjs,
Dinah

Maurício Mellone

abril 2, 2021 @ 14:44

Resposta

Dinah,
programe-se mesmo: o texto é enriquecedor e as atrizes
estão incríveis!
Tomara q vc consiga assistir, temporada até 12/04
Obrigado pela presença constante e sempre carinhosa!
Beijos

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