De Maurício Mellone em maio 28, 2022
Finalmente o filme de Daniel Bandeira, Amigos de Risco, finalizado em 2007, chega às telas — em cartaz no Cinema da Fundação —, depois de longa batalha judicial. A cópia original em 35 mm foi extraviada pela empresa aérea pouco antes da exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2008. Depois de decisão judicial, a empresa financiou a remasterização do filme e o diretor ainda fez uma correção de cor para se chegar ao formato digital da cópia que está em exibição.
Sorte do público, que depois de 15 anos tem a chance de conhecer a história de três amigos que se reencontram no Recife. Joca, vivido por Irandhir Santos, volta à cidade depois de uma temporada no Rio de Janeiro e quer comemorar com os velhos amigos, Nelsão, papel de Paulo Dias, e Benito, interpretado por Rodrigo Riszla. Meio a contra gosto os dois aceitam o convite e passam a noite bebendo pelos bares e boates da cidade. No entanto, Joca tem uma overdose e os amigos, sem dinheiro, são obrigados a carregá-lo até o hospital, passando por todos os riscos da madrugada.
Com roteiro assinado pelo diretor, a trama tem início com Nelsão interrompendo seu trabalho de garçom para atender o telefone: é Joca que anuncia sua volta e o convida para se encontrarem mais tarde. O mesmo acontece com Benito, que para de atender uma cliente na gráfica em que trabalha para ouvir o convite do velho amigo. A câmera acompanha a saída do trabalho dos dois rapazes, mostra a chegada deles em casa e depois a sequência traz Joca numa praça à espera deles. Nelsão é o primeiro a chegar e o encontro é alegre; depois é a vez de Benito. Um amigo de Joca também se junta aos demais e eles saem de carro para comemorar.
Se no início há um pequeno estranhamento entre eles em razão do tempo de afastamento, logo as brincadeiras prevalecem e Joca fica sabendo que Benito sofre porque a esposa o abandonou e Nelsão também passa por necessidade, com dívidas contraídas com agiota. Mas a noite é de alegria e Joca propõe sociedade a eles, já que está com o nome sujo na praça. Em seguida, na boate Joca passa mal, tem uma overdose e os amigos são expulsos do lugar, sem antes deixarem toda a grana com o proprietário. Sem recursos, em plena madrugada, Benito e Nelsão são obrigados a carregar Joca pela cidade até encontrarem um hospital, correndo assim todos os riscos das madrugadas violentas das periferias. A câmera acompanha a via-crúcis dos rapazes e, durante o trajeto, a verdade sobre Joca vem à tona: eles descobrem que o amigo é traficante e está por trás de suas desgraças pessoais. O desfecho da amizade dos três amigos é surpreendente.
Mesmo com o mundo tendo mudado bastante nos últimos 15 anos (internet e celular eram restritos, por exemplo), o longa-metragem mostra que muita coisa permanece inalterada, como a violência nos grandes centros. O diretor diz que o filme revela como a cidade é um ambiente hostil e isto não mudou. Para Daniel Bandeira, o longa retrata a insegurança urbana e como as pessoas procuram reverter esta situação por meio de pequenos gestos de afetividade. Depois de tanto tempo sem que o filme pudesse ser exibido, vale a pena conferir.
Fotos: divulgação
2 Comentários
Zedu Lima
maio 30, 2022 @ 10:15
Não sabia da existência desse filme. Sua resenha me estimulou a assistir
Maurício Mellone
maio 30, 2022 @ 12:02
Zedu,
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo/2008
exibiu o copião do filme, já que a cópia original foi
extraviada. Acredito que o filme (a cópia digital restaurada) está em cartaz
no Recife apenas. Infelizmente, pois o filme continua atual e as demais
praças do país mereciam recebê-lo.
Obrigado pela visita aqui
Saudades
Beijos