Espetáculo exalta poder feminino e conta com 19 artistas: 13 atrizes e atores e 6 músicos

Assisti ao musical As Cangaceiras, Guerreira do Sertão quando da estreia, em 2019, no Teatro do Sesi, em São Paulo. Passados três anos e o terrível período de isolamento em razão da pandemia, a alegria foi imensa de voltar a estar num teatro, com casa cheia, e, melhor ainda, no Recife, terra de Newton Moreno, o autor do espetáculo.

Tive a satisfação de prestigiar o início da turnê pelo Nordeste, ontem no Teatro Santa Isabel. Mesmo nestes tempos tão difíceis, com a Cultura sendo ultrajada pelos dirigentes de Brasília, a produção assinada por Rodrigo Velloni conseguiu fechar a turnê em mais três capitais: Natal (de 13 a 15/05), João Pessoa (21 e 22/05) e Maceió dia 28 de maio. Com direção geral de Sergio Módena e direção musical de Fernanda Maia, o musical, em formato de fábula, enaltece o poder feminino e conta em cena com 19 artistas (13 atrizes e atores e 6 músicos).

O espetáculo começa com Serena, papel de Rebeca Jamir, sabendo que seu filho não morreu: um jagunço descumpriu as ordens do chefe do bando, Taturano (Marco França), e deixou o bebê nas mãos de um padre. Revoltada, Serena dá início a uma aventura épica para salvar a criança: consegue agregar outras mulheres injustiçadas no meio do cangaço — conhecido por suas ações machistas e violentas — e criam um grupo, num verdadeiro levante feminino. A notícia da criação do bando das guerreiras logo se espalha e o sanguinário Taturano não vai se deixar abater. O conflito entre os bandos é inevitável.

A pernambucana Luciana Lyra contracena com Marco França

Num cenário criativo (módulos movimentados pelo elenco que reproduzem a aridez do sertão), o enredo é permeado por canções que elucidam a história. Com letras de Newton Moreno e melodias de Fernanda Maia, as músicas não são aleatórias, mas essenciais à narrativa. Segundo o autor, conhecido por unir em sua obra dramatúrgica elementos regionais a temas universais, o espetáculo, em formato de fábula sobre o cangaço, incita à reflexão sobre o machismo e o papel da mulher na sociedade contemporânea:

“O cangaço acabou virando um trampolim para falarmos sobre a situação atual. Nosso espetáculo quer discutir as forças do feminino na sociedade brasileira. O que nossas guerreiras fictícias nos lembram é que não se pode fugir à luta e temos de estar atentos, porque há muitas revoluções dentro da revolução”, esclarece Newton Moreno.

Vera Zimmermann, Rebeca Jamir e Luciana Ramanzini e, grandes atuações

Além do vigor da dramaturgia e a criativa direção, o espetáculo se impõe pela sintonia do elenco, com grandes interpretações; destaque para a atuação de Luciana Lyra, Rebeca Jamir, Marco França, Vera Zimmermann e Luciana Ramanzini. No entanto, o musical é longo, merecia ser encurtado; com mais de duas horas de duração, há repetição de ideias e algumas músicas poderiam ser menores, para evitar cansaço e falta de concentração da plateia. A duração da peça, porém, não chega a tirar o brilho do espetáculo e a iniciativa de excursionar pelo país deve ser louvada e incentivada.

Roteiro:
As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão. Texto: Newton Moreno. Direção geral: Sergio Módena. Produção: Rodrigo Velloni. Elenco: Marco França, Vera Zimmermann, Luciana Ramanzini, Luciana Lyra, Rebeca Jamir, Jessé Scarpellini, Marcello Boffat, Milton Filho, Pedro Arrais, Lola Fanucchi, Nábia Villela, Carol Bezerra e Eduardo Leão e os músicos Pedro Macedo (contrabaixo), Bruna Duarte (contrabaixo), Daniel  Warschauer (acordeon), Carlos Augusto (violão), Abner Paul (bateria), Felipe Parisi (violoncelo). Direção musical: Fernanda Maia. Coreografia: Erica Rodrigues. Figurino: Fabio Namatame. Cenografia: Marcio Medina. Iluminação: Domingos Quintiliano. Fotografia: Priscila Prade.
Serviço:
Natal (13 a 15/05) no Teatro Alberto Maranhão; João Pessoa (21 e 22/05) no Teatro Paulo Pontes e Maceió (dia 28/05) no Teatro Gustavo Leite. Confirme horários e ingressos nas bilheterias dos teatros. Duração: 120 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 28 de maio.