Peça: Até que deus é um ventilador de teto, foto 1

Até que Deus é um ventilador de teto: peça faz retrato do homem urbano

De em setembro 4, 2015

Peça: Até que deus é um ventilador de teto, foto 1

Hulgo Possolo e Raul Barretto dividem a cena neste drama contemporâneo

Em temporada curta que termina no próximo dia 13, no Espaço Cênico do SESC Pompeia, a peça inédita de Hugo Possolo — que divide o palco com seu companheiro do grupo Parlapatões Raul Barretto —, Até que deus é um ventilador de teto faz um recorte na vida de um homem urbano de classe média que, mesmo estando conectado com o mundo, se vê ilhado com tantos afazeres e afastado da família.
Morador de São Paulo, casado e com um filho de 18 anos que faz intercâmbio no exterior, ele é um jornalista de 50 anos que na solidão da redação ou em seu carro faz divagações sobre a existência, sobre suas crenças e sua relação com o mundo, mesclando realidade e imaginação. Imagina que um velho morador de rua pode ser Deus que vigia seus passos.

Peça: Até que deus é um ventilador de teto, foto 2

Possolo e Barretto são dirigidos por Pedro Granato

Ao entrar, o espectador já dá de cara com o personagem (Possolo) sentado numa espécie de aquário de acrílico transparente. Este espaço funciona tanto como a redação onde ele trabalha quanto o automóvel: é ali que produz uma infinidade de artigos, fala com a mulher pelo celular, com o filho pelo computador e também dirige pelas ruas de Sampa. A única pessoa com que ele dialoga é o velho morador de rua (Barretto): todo dia no mesmo cruzamento eles trocam algumas palavras. Em seus devaneios, ele imagina que o velho possa ser Deus que vigia seus passos. Outro elemento perturbador é o imenso anzol, que logo no início do espetáculo desce do teto vagarosamente enquanto o homem inicia uma série de questionamentos sobre vida, morte, tentações, religiosidade e até sobre os sentidos de determinadas palavras e termos.
De forma ágil e ao mesmo tempo naturalmente, o personagem vai de suas imaginações e divagações para o pragmatismo e a realidade, em que discute com a mulher e o filho sobre os fatos do dia a dia e até posturas diante da vida. E neste embate com o real que ele é sequestrado e, no cativeiro, é vigiado pelo morador de rua. Além da solidão, muito comum a todos que vivemos nas metrópoles, o personagem é posto à prova e tem de saber lidar com a violência urbana. Já em liberdade, as inquietações, conflitos internos e a incongruências humanas chegam ao limite para ele.

“Esse homem, cansado de tantas relações virtuais e do esvaziamento de sentido da vida, é catapultado para reflexões metafísicas que misturam o risco da vida real com delírios de sua cabeça”, argumenta o diretor Pedro Granato.

 

Até que deus é um ventilador de teto retrata um homem de meia idade inserido no mundo contemporâneo: apesar das conquistas tecnológicas e do avanço das comunicações, ele permanece só, com dúvidas existenciais e deslocado da realidade que o rodeia. São 60 minutos intensos, que provocam angústia e reflexão sobre o nosso dia a dia. Saí do espetáculo atônito e muito identificado com aquele jornalista cinquentão e extremamente reflexivo.
Destaque para toda a produção: cenário, iluminação e trilha conduzem o espectador para o drama vivido por aquele homem. E a entrega de Hugo Possolo ao personagem emociona: sua veia cômica é mais do que conhecida e reconhecida, mas, assim como em sua peça Eu Cão Eu, ele mostra vigor e verdade na composição de personagens densos e dramáticos. Mais um grande momento em sua carreira.

 

Fotos: José de Holanda


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