João Pedro Mariano interpreta Baby, que ganha a vida nas ruas de São Paulo

Depois de percorrer festivais de cinema pelo mundo, está em cartaz no país Baby, o segundo longa-metragem de Marcelo Caetano, diretor de Corpo Elétrico/2017. Com delicadeza, o diretor retrata a saga do garoto Wellington, interpretado por João Pedro Mariano, que acaba de sair de um centro de reabilitação de menores. Ele procura os pais, que se mudaram para o interior de São Paulo sem deixar vestígios e, sem sucesso, passa a buscar meios de sobrevivência na metrópole paulistana.

O jovem logo encontra Ronaldo, papel de Ricardo Teodoro, experiente no mundo da contravenção, que passa a ser uma espécie de tutor de Wellington, que escolhe Baby como o codinome. Eles tornam-se parceiros e cúmplices, numa relação que mescla proteção, exploração, amor, ciúme e ódio.

Ronaldo (Ricardo Teodoro) e Baby: parceiros na vida

As primeiras cenas do filme trazem o cotidiano dos menores no centro de reabilitação e a saída de Wellington da instituição. Ele procura o apartamento onde os pais moravam, mas como não tem informações sobre o paradeiro deles — o pai, um ex PM quer distância do filho —, o jovem pede ajuda de uma antiga vizinha para poder se livrar da responsável da instituição. O que lhe resta é a rua: o rapaz passa então a lutar pela sobrevivência no ambiente hostil dos grandes centros urbanos. No entanto, numa de suas idas ao cinema de filmes pornográficos, ele encontra Ronaldo.

Jana (Bruna Linzmeyer) e Priscila ( Ana Flávia Cavalcanti): ‘família’ dos rapazes 

Deste encontro surge logo a parceria entre eles: por ser mais velho, Ronaldo começa a ensinar e dar dicas ao garoto de como se virar. Num misto de pai, tutor, amante e explorador, Ronaldo consegue trazer Wellington para junto dele; até o leva para conhecer Priscila, sua ex-mulher, interpretada por Ana Flávia Cavalcanti, e sua atual companheira, Jana, papel de Bruna Linzmeyer, e o filho deles, um garoto pouco mais novo que Baby/Wellington.

Conflito de gerações

Como na vida nem tudo são rosas, Baby entra em conflito com Ronaldo, num rompante de adolescente. O garoto vai com amigos a uma boate e conhece Alexandre, vivido por Marcelo Varzea. Depois de dias do novo romance, o passado de Baby vem à tona, o que põe tudo a perder. O garoto procura Ronaldo e eles se reconciliam. No entanto, o  mundo do crime provoca novamente a separação deles.

O roteiro, assinado pelo diretor em parceria com Gabriel Domingues, ao focar na saga de Baby, revela os bastidores do mundo das contravenções, da prostituição, drogas e violência. E os amantes de cinema e das artes podem traçar um paralelo com os artistas que retratam tão bem este universo, como o cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (O direito do mais forte é a liberdade/1975)  e o escritor e dramaturgo francês Jean Genet (Diário do ladrão, O balcão e Querelle, filmado por Fassbinder). Baby conversa com estes clássicos universais justamente por mostrar como um garoto abandonado pela família careta e conservadora vê nas ruas de São Paulo o meio para sobreviver e se reerguer. Além da história comovente, o filme se destaca por traçar um perfil fiel das ditas quebradas (periferia das grandes cidades) e pelas cenas sensíveis de sexo, sem apelação. Belas atuações de Ricardo Teodoro, Ana Flávia Cavalcanti e do jovem João Pedro Mariano. Confira!

Fotos: divulgação