Peça: Cachorro enterrado vivo, foto 1

Cachorro enterrado vivo: três monólogos sobre uma mesma situação

De em setembro 6, 2016

Peça: Cachorro enterrado vivo, foto 1

Leonardo Fernandes, além de atuar nos três solos, é o produtor do espetáculo

Confesso que só o título da peça de Daniela Pereira de Carvalho, Cachorro enterrado vivo, em cartaz na SP Escola de Teatro até final de setembro, já me causou impacto — respeito os animais, mas prefiro manter certa distância deles. No entanto, a trama é envolvente e desde a primeira cena o espectador se entrega ao argumento proposto; são três monólogos sobre uma mesma situação de perda: um cão, seu dono e um homem contratado para ser o coveiro do animal. Sob a direção de Marcelo do Vale, o ator mineiro Leonardo Fernandes, que também assina a produção do espetáculo, é o protagonista dos três solos e traz com verdade a visão de cada personagem envolvido na situação.

“A problematização da proximidade entre o humano e o canino — toda a intimidade que entrelaça essa relação de estimação — e a desarmonia instaurada por uma perda inexplicável são o ponto de partida para os três monólogos subsequentes que constituem a peça. A ferocidade intrínseca aos animais de qualquer espécie permeia todo o contexto da dramaturgia”, explica a autora.

Peça: Cachorro enterrado vivo, foto 2

O ator mineiro interpreta o dono do cão, o cachorro e o coveiro

O espetáculo tem início com o depoimento do cão, por mais estranho que isso possa parecer! O ator, numa performance visceral, entra em cena como o cachorro Paulo César, que está transtornado com o desaparecimento de sua dona, que ele tanto ama. Sem saber o porquê do sumiço daquela que sempre cuidou dele, ele tem de se submeter a partir de agora aos cuidados do seu rival, seu dono Paulo Vítor.
O segundo solo é com o homem que Paulo Vítor contratou para ser o coveiro do animal. Porém, ele antes de aceitar o encargo nem desconfiava que o cachorro estivesse vivo. Estranhando a proposta de trabalho e sem poder recusá-la porque precisa do dinheiro, ele recorda-se de seu cão de estimação antes de cumprir sua missão. O último monólogo é com o dono do cachorro, que, como o animal, está sem rumo depois que sua mulher o deixou. Pra piorar a situação, Paulo Vítor entra em conflito com o cachorro e ambos se agridem de forma irracional.
Sem dúvida, o texto de Daniela Pereira de Carvalho impressiona por questionar as atitudes do homem diante do animal de estimação e ao mesmo tempo as reações do cão diante de posturas de seus donos. Sentimentos (amor, ciúme, inveja, abandono) e atitudes (violência e agressão) são apresentados tanto pelo homem como pelo animal; o que é instinto e o que é razão, o que é animalesco e o que é atitude humana. Estas as questões levantadas pela trama.

Peça: Cachorro enterrado vivo, foto 3

Leonardo na pele do coveiro bem-humorado

 

 

 

O grande destaque da peça é para a atuação de Leonardo Fernandes, que contou com a preparação corporal de Eliatrice Gischewski: além da perfeita caracterização do cachorro (respiração, desenvoltura e feição), o ator mostra toda sua versatilidade, criando um coveiro bem-humorado e um traumatizado dono do cão. Espetáculo impactante, não perca!

 

 

 

 

 

Fotos: Lia Soares e Suzana Latini


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