De Maurício Mellone em abril 11, 2025
Por mais que se trate de tema tabu ou que envolve dor e sofrimento, o filme Câncer com ascendente em Virgem, dirigido por Rosane Svartman, é um misto de drama e comédia. Inspirado em fato real — o da produtora de cinema Clélia Bessa, que criou o blog Estou com câncer, e daí? — o filme conta a trajetória da professora de matemática Clara, vivida por Suzana Pires, que se vê diante do diagnóstico de câncer de mama. Acostumada a ter controle de tudo, Clara é pega de surpresa e precisa saber lidar com suas limitações e como enfrentar os novos desafios.
Ela conta com o apoio incondicional de Leda, sua mãe interpretada por Marieta Severo, e de Alice, a filha adolescente, papel de Nathália Costa. Completam o elenco Fabiana Karla, Carla Cristina Cardoso, Ângelo Paes Leme, Heitor Martinez e Yuri Marçal.
Conhecida por seus papéis cômicos, a atriz e roteirista Suzana Pires, além de assinar o roteiro ao lado de Martha Mendonça e Pedro Reinato, precisou deixar vir à tona seu lado dramático. Clara, que se divide entre as aulas presenciais e suas lives para alunos que irão prestar ENEM, vê suas estruturas emocionais ruírem. Ela logo sabe do diagnóstico e inicia o tratamento. É nas sessões de quimioterapia que reencontra Dircinha (Fabiana Karla), a amiga da feira de antiguidades, e passa a entender sobre a realidade dos pacientes submetidos ao árduo tratamento de câncer.
“O contrário de morte não é vida; o contrário de morte é nascimento. Vida é o que fica no meio.”
É com este ensinamento de Dircinha que Clara passa a enfrentar mais este desafio em sua vida. Leda, uma mulher de fé e adepta de todos os credos, também é o porto seguro da filha. O espectador torna-se cúmplice de Clara, que vive todas as etapas do tratamento: os efeitos colaterais da quimioterapia, a escolha das perucas e lenços que usará, a decisão de parar as aulas de dança, o novo desempenho diante dos alunos até raspar a cabeça e o processo de recuperação da doença.
Um problema grave de saúde requer da pessoa novo posicionamento diante da vida. Mais do que buscar a cura, ela revê suas relações pessoais, profissionais e espirituais. Com Clara não é diferente: diante da iminência da morte, ela muda sua visão de mundo e se aproxima mais das pessoas que ama.
Clélia Bessa, assim como a personagem inspirada em sua trajetória, é um exemplo para todos nós. Na trama, Clara faz um desabafo on line na live com o humorista Yuiri Marçal: ao invés de prejudicar a entrevista, recebe uma enxurrada de apoio e votos de plena e rápida recuperação. Impossível sair ileso e não se emocionar!
Câncer com ascendente em Virgem, mais do que contar uma história comovente, provoca uma reflexão profunda sobre o entendimento da vida: ninguém é autossuficiente; para viver e sobreviver neste mundo dependemos do amor, da troca e do convívio social. Além de um roteiro bem estrutura, sem apelo melodramático, e uma direção sensível, o filme se destaca pela sintonia na interpretação entre avó, filha e neta — Marieta, Suzana e a jovem Nathália. A cena do romance entre Clara e Guilherme, papel de Pedro Caetano, também é cativante; Clara diz uma frase que sintetiza o filme:
“Estou viva!”
Fotos: divulgação
2 Comentários
Adriana Bifulco
abril 11, 2025 @ 23:28
Um tema tão complexo e preocupante foi tratado com respeito e leveza. Lindo texto, querido!
Maurício Mellone
abril 13, 2025 @ 09:44
Adriana:
o filme é mesmo emocionante, a forma como o roteiro
trata uma doença tão grave, de maneira leve, chega
a todos. Às mulheres, ainda mais.
Beijos e obrigado por sua presença constante aqui