De Maurício Mellone em agosto 14, 2013
Em plena era da tecnologia, com os mais avançados recursos de comunicação, os clássicos literários ainda são fundamentais, principalmente por que têm muito que ensinar aos jovens de hoje.
Esta deve ter sido a premissa do dramaturgo e diretor Kiko Rieser ao se debruçar sobre o romance de Machado de Assis, Dom Casmurro, para adaptá-lo ao teatro. Capitu, Olhos de Mar, que acaba de estrear no Teatro MuBE Nova Cultural, traz a essência da obra machadiana, ou seja, o amor de Bentinho por Capitu e, ao mesmo tempo, o eterno ciúme que ele tinha da amada com seu melhor amigo, Escobar. Nesta montagem voltada ao público jovem, a trama é centrada na narração de Bentinho, já idoso, que conta a sua versão sobre a vida amorosa que teve com a vizinha, a bela Capitulina, carinhosamente chamada de Capitu. Os quatro atores — Diego Andrade, Áurea Giovanini, Leonardo Laender e Maria Fernanda Batalha — interpretam os 16 personagens e permanecem em cena o tempo todo (as trocas de adereços e figurino são à vista do espectador, assim como a trilha sonora que é executada ao vivo pelos atores).
Com o palco praticamente vazio (poucos elementos cênicos), a peça começa com os atores sentados no chão, em paralelo. Betinho (Leonardo Laender) inicia narrando sua infância ao lado da mãe, D. Glória (Áurea Giovanini), e o grande fascínio que sempre sentiu por Capitu (Maria Fernanda). Em seguida, fala de seu ingresso no seminário e das juras de amor que troca com sua musa; mesmo não tendo vocação, Betinho segue nos estudos e no seminário conhece Escobar (Diego Andrade), que se torna seu grande e inseparável amigo.
A trama segue cronologicamente, revelando que Bentinho abandona o seminário, se casa com Capitu, com Escobar sempre acompanhando a felicidade do casal. A chegada do primogênito, Ezequiel, batizado com o prenome do padrinho Escobar, alimenta ainda mais o amor do casal. No entanto, o ciúme de Bentinho, revelado desde a infância, é ponto de discórdia que vai levar ao fim de um romance de uma vida inteira. Como a história é narrada por Bentinho, o espectador deve tirar suas conclusões se houve ou não traição:
“A suspeita de uma traição jamais confirmada nos leva a tomar um partido da história, acreditando na culpa ou na inocência de Capitu, ou nos abstendo do julgamento. Seja como for, a dúvida jamais será abolida”, argumenta Kiko Rieser.
Mesmo tendo sido escrito em 1899, Dom Casmurro é extremamente atual por tratar de sentimentos profundos do ser humano, como amor, traição, amizade, fidelidade. E sua adaptação teatral, Capitu, Olhos de Mar, além de se voltar ao público juvenil, é uma produção criada essencialmente por jovens: assim como os atores, o diretor também é um promissor dramaturgo.
“O foco da história está no amor entre os jovens Bentinho e Capitu. O frescor da relação entre eles e as situações evocadas fazem com que esta fábula seja de fácil reconhecimento pelos adolescentes de hoje, ainda que narrada com a refinada linguagem de Machado de Assis, típica do século XIX”, diz Marcelo Sollero, produtor do espetáculo.
Capitu, Olhos de Mar é apresentada somente aos sábados, às 18h. Fica aqui a recomendação não só para os jovens, mas para o público em geral conferir o clássico machadiano e a eterna dúvida sobre a traição de Capitu.
Fotos: Bob Souza
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