De Maurício Mellone em março 7, 2016
Tendo como mote um fato real ocorrido na década de 1960 quando a atriz francesa Brigitte Bardot visitou o Brasil e precisou se refugiar num apartamento de um amigo para se livrar do assédio da imprensa e da legião de fãs, o dramaturgo Franz Keppler criou a peça Com amor, Brigitte, em cartaz no pequeno auditório do MASP, com a intenção de discutir a linha tênue que separa a liberdade de expressão do direito à privacidade, tema tão em voga atualmente.
Com direção de Fabio Ock, Bruna Thedy interpreta a atriz francesa, que com a ajuda do camareiro do hotel, vivido por André Corrêa, foge para o apartamento dele para poder se livrar de fotógrafos, repórteres e dos fãs ensandecidos que queriam chegar perto dela. Além do isolamento, Brigitte queria um pouco de paz antes de chegar a Búzios — a passagem da atriz pelo balneário fluminense ficou eternizada com a escultura da artista plástica Christina Motta, que traz a atriz olhando para o mar.
O público, sem saber, entra no clima da peça, no saguão do teatro: câmeras registram desde a chegada dos espectadores até que todos se acomodem em suas poltronas. E os atores já estão em cena, com telões mostrando toda esta movimentação. Em sintonia entre o telão e as ações no palco, a trama tem início e o público passa a saber tudo o que aconteceu com a atriz francesa ao desembarcar no Brasil, numa época em ela era o símbolo máximo da beleza e da sensualidade. No entanto, a biografia da atriz e os fatos ocorridos na época são recursos da encenação para que a discussão da falta de privacidade venha à tona.
“Considero as câmeras de segurança uma das ferramentas mais representativas quando falamos em invasão de privacidade, são instrumentos que desenham o século XXI. Na peça, temos uma Brigitte brasileira, espiada por câmeras como num reality show. Queremos chegar num caleidoscópio estético para contar essa história”, revela o diretor Fabio Ock.
A trama também questiona a aura que se cria sobre os artistas e o distanciamento que muitos criam entre a celebridade e o cidadão comum: isto fica evidente na cena em que o camareiro coloca a atriz na parede, dizendo que ela só fala dela e nem ao menos sabe como ele se chama.
O grande destaque de Com amor, Brigitte, sem dúvida, é para a encenação proposta pelo diretor, que une teatro, dança, música e vídeo. O espaço do auditório é pequeno e as câmeras (uso de grua inclusive), os dois telões e a movimentação dos atores fazem com que o espectador se sinta parte do espetáculo, dentro de um reality. Senti, entretanto, certa dificuldade em enxergar algumas cenas em que os atores ficam na extremidade do cenário. O figurino de época, assinado por Zé Henrique de Paula, também merece ser ressaltado, assim como a perfeita sintonia da performance dos atores no palco e as cenas dos vídeos.
Fotos: Jefferson Pancieri
2 Comentários
Ed Paiva
março 7, 2016 @ 13:00
Suas resenhas são ótimas, Maurício. Assisti a montagem e foi um milagre de criatividade a adaptação do espaço para a peça. A utilização de recursos audiovisuais foi perfeita! Trouxe dinamismo e profundidade ao espaço exíguo do teatro. Fiquei impressionado com a qualidade das projeções e a sincronicidade delas com a interpretação dos atores.
Abraços e vamos aguardar por novas resenhas!
Maurício Mellone
março 8, 2016 @ 10:36
Ed,
Vc já tinha me dito q havia assistido à leitura dramática
da peça do Franz Keppler.
Realmente naquela sala pequena, o Fabio Ock fez milagres
e a encenação é o grande destaque da montagem de “Com amor, Brigitte”.
Obrigado por sua constante participação aqui no Favo
abrs