De Maurício Mellone em setembro 5, 2017
Vencedor de seis troféus Kikitos no último Festival de Cinema de Gramado — filme, direção, atriz, ator, atriz coadjuvante e montagem —, Como nossos pais, filme da diretora Laís Bodanzky, discute as relações de uma família contemporânea a partir de uma revelação de um segredo. O foco central da discussão é a difícil relação entre mãe e filha, vividas por Clarisse Abujamra e Maria Ribeiro.
Logo na primeira cena, um tradicional almoço de domingo com toda a família, Rosa (Maria) que está em crise conjugal com Dado, vivido por Paulo Vilhena, dá umas alfinetadas no marido e Clarice (Clarisse) toma as dores do genro; a discussão tem início e Clarice abre o jogo, de forma direta e ríspida. Confessa que teve um caso extraconjugal e Rosa é fruto desta relação. Pronto, esta revelação cai como uma bomba na família e Rosa, que já vivia frustrada tanto emocional como profissionalmente, entra em crise e resolve se reinventar.
A partir do segredo revelado é que o roteiro — assinado pela diretora em parceria com Luiz Bolognesi — se desenvolve. Rosa a princípio pede apoio do irmão José Carlos (Cazé Peçanha), mas é com a mãe que tem outra conversa definitiva. Quer ao menos conhecer seu pai biológico e, aos trancos e barrancos, vai reconstruindo sua relação afetiva com Clarice. Com Dado é a mesma coisa: Rosa exige uma mudança de atitude dele, tanto com as filhas como na vida a dois. E em determinado momento ela chega a confessar suas limitações e a dificuldade em ter de segurar todas as barras da família. Há ainda a questão de como lidar com Homero, vivido por Jorge Mautner: Rosa tenta falar a verdade com o pai que a criou, mas ele (um artista plástico alternativo) vive num mundo à parte, longe da realidade e ela desiste.
Em função de sua crise existencial, Rosa também questiona sua profissão, sua verdadeira vocação, além que checar seus sentimentos amorosos, afetivos e sua visão de mundo. Mais do que um filme feminista, Laís em Como nossos pais toca em temas pungentes da sociedade contemporânea, como o papel da mulher e do homem na vida conjugal, além de ajudar a refletir sobre questões comportamentais como traição, fidelidade, ciúme, poliamor e relações homoafetivas.
Por tocar em temas tão íntimos, a diretora optou filmar principalmente em locações internas (o apartamento do casal, a casa e o jardim de Clarice), deixando as externas somente para cenas importantes para a narrativa, como o impessoal gabinete do senador, pai biológico de Rosa, vivido por Herson Capri e as cenas de Rosa e Pedro (Felipe Rocha), pai de um coleguinha de escola das filhas dela.
Além do roteiro bem articulado e a direção focada nos atores, o destaque do filme é mesmo para a performance e a sintonia entre Maria Ribeiro (o grande papel de sua carreira) e Clarisse Abujamra ( a cena final de sua personagem é emocionante). Vilhena também surpreende desempenhando as funções do pai do século XXI e Mautner encanta com sua pequena, mas fundamental participação. O filme é merecedor de todos os prêmios já recebidos e daqueles que ainda virão. E com filmes brasileiros é sempre bom ressaltar: vá assistir logo nas primeiras semanas para que a produção possa garantir mais tempo em cartaz.
Fotos: divulgação
4 Comentários
José Eduardo Pereira Lima
setembro 5, 2017 @ 19:37
PARABÉNS PELO NOVO FORMATO DO BLOG. PRINCIPALMENTE A DISPONIBILIDADE DOS ASSUNTOS NA HOME.
Maurício Mellone
setembro 6, 2017 @ 11:40
Zedu, querido:
fico muito feliz q vc tenha gostado no novo visual
do Favo, vc q é padrinho dele! rsrsr
Volte sempre
Obrigado
bjs
José Eduardo Pereira Lima
setembro 5, 2017 @ 19:36
Assisti hoje “Como nossos pais”, gostei muito, porém, achei os 15 minutos finais (após a morte da mãe, maravilhosamente interpretada pela Clarisse Abujamra) arrastadamente desnecessários. Tudo já havias sido dito, insinuado, graças ao roteiro – como você mesmo afirmou em sua resenha – bem articulado.
Locações e fotografia perfeitas e interpretações estupendas das duas – Maria Ribeiro e Clarice Abujamra.
Ontem, assisti ao “Bingo” e estou impactado até agora.
Maurício Mellone
setembro 6, 2017 @ 11:45
Zedu,
que ótimo saber q vc tb gostou do filme da
Laís Bodanzky. Clarisse e Maria estão realmente
maravilhosas!!!!
E o Bingo, é estarrecedora a história do palhaço
que gostaria de ter sido reconhecido por seu talento,
mas hje se ‘apresenta’ em cultos evangélicos…
Bjs e volte sempre, adoro compartilhar suas opiniões
com os demais ‘seguidores’ do Favo
Bjs