Crônica da Casa Assassinada: raios-X da tradicional família mineira

De em setembro 29, 2011

Cena com os personagens sentados à mesa da casa decadente

A cena inicial dá o tom do que se espera dos 90 minutos seguintes: na grande mesa da casa, mãe e filho fazem sexo, num misto de gozo, lágrima, paixão, dor, atração, repulsa, prazer e pecado. Impossível sair ileso da sala de espetáculo do SESC Vila Mariana depois de assistir à Crônica da Casa Assassinada, adaptação para o teatro de Dib Carneiro Neto do livro do mineiro Lúcio Cardoso, montagem do premiado diretor Gabriel Villela. O espetáculo é um olhar ácido e corrosivo para a tradicional família mineira, o que o aproxima muito da obra do sempre polêmico Nelson Rodrigues. Em diversos momentos da peça, lembrei-me de A Mulher Sem Pecado ou Álbum de Família, tal a radiografia que se faz dos Menezes, que poderia ser muito bem os Souza ou os Silva, pois a família brasileira é revisitada pelo autor:
“O livro do Lúcio Cardoso é um tratado psicológico, mais do que histórico, mas, claro, tem como pano de fundo a chamada história da vida privada brasileira, ao mostrar a crise financeira e moral de uma ex família abastada, em total decadência, no fim dos anos 50, no interiorzão de Minas Gerais. Isso retrata um pouco da história de muitas famílias brasileiras”, explica Dib Carneiro.
Com um elenco de 10 atores (Xuxa Lopes, Sergio Rufino, Flavio Tolezani, Pedro Henrique Moutinho, Rogério Romera, Maria do Carmo Soares, Letícia Teixeira, Cacá Toledo, Helio Souto Jr., Marco Furlan) e quatro indicações ao prêmio Shell do Rio — Gabriel Villela (direção e figurino), Marcio Vinicius (cenografia) e Domingos Quintiliano (iluminação), Crônica da Casa Assassinada é transposição para o palco de um livro composto de depoimentos, cartas e diários. De depoimento para a ação dramática, Dib e Villela optaram pela montagem em dois níveis: o da família aristocrática dentro da casa em decadência que se desestrutura com a chegada da libertária carioca Nina (vivida por Xuxa Lopes) e o outro nível, o da cidade que julga os atos dos Menezes e é representado pelo coro, um padre, um médico e um farmacêutico. O coro narra as ações da família.
As traições conjugais de Nina e da cunhada, o despudor do irmão homossexual e sua visão crítica da família, o ciúme entre irmãos e cunhados, o  sexo perverso e mal resolvido, o puritanismo religioso mineiro, enfim tudo vem à tona em cenas de uma plasticidade comovente. E num único cenário, na sala da casa decadente: cama, mesa e reza (a religião está arraigada na cultura mineira). Por isso que fiquei com a impressão que
Crônica da Casa Assassinada de Villela e Dib é um ‘Nelson Rodrigues mineiro’ mais corrosivo.

Xuxa Lopes vive a libertária Nina

Além de interpretação marcante de Xuxa Lopes como Nina, Sergio Rufino se destaca na pele do homossexual libertário, que mesmo reprimido pelo irmão é o mais lúcido da família por apontar as feridas de todos. E a montagem torna-se impactante graças à força da iluminação de Domingos Quintiliano, o figurino de Villela (a cena do parto é simbólica devido ao efeito da grande toalha) e o cenário de Marcio Vinicius — o público fica magnetizado na cena do giro do crucifixo em tamanho natural, com um sensual e provocante Cristo!

Fotografia: João Caldas


2 Comentários

Mario Viana

setembro 29, 2011 @ 19:40

Resposta

É mesmo uma bela montagem, Mauricio. Só acho que dura menos de 90 minutos, no máximo 65, 70 – o próprio Dib me falou e eu conferi… rs rs… A assessoria divulgou 90, mas exagerou.
Curiosidade: o Cristo é Helio Souto Jr., filho do lendário galã Helio Souto.

Maurício Mellone

setembro 30, 2011 @ 12:28

Resposta

Mario:
nessa concordamos! Mas não podia ser diferente,
o espetáculo é impactante mesmo! Não sabia q o Cristo é o filho do Hélio Souto!
E sobre a duração da peça, não pensei em minutar para saber o tempo exato!
obrigado por sua visita constante
abr

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