Mariana Muniz vive histórias de sete mulheres, extraídas do livro de Ezter Liu

Encantamento total! É o que o espetáculo Das Tripas – sete histórias (em cartaz no Teatro Sergio Cardoso) provoca no público. Num misto de dança e teatro, a atriz, bailarina e coreógrafa Mariana Muniz transporta para o palco sete contos que retratam o universo feminino. As histórias foram extraídas do livro Das tripas coração — vencedor do Prêmio Pernambuco de Literatura/2018 —de sua conterrânea, a pernambucana Ezter Liu.

Com direção de Clara Carvalho, o espetáculo em versão on line participou do Festival de Inverno do Grupo Tapa, em 2021. Nesta versão — em temporada relâmpago, últimas apresentações neste final de semana —, a atriz aprofunda as propostas cênicas:

“Assim como a autora escolhe criar uma narrativa sem vírgulas, acreditamos na força da tradução deste movimento literário em ação cênica, tirando da adversidade a sua força e atravessando os próprios limites para dizer o que precisa ser dito, num país onde o feminicídio é uma realidade muito cruel e que continua fazendo milhares de vítimas por minuto”, exclama Mariana Muniz.

Ezter Liu, autora dos contos retratados no palco

O livro de Ezter Liu contém 18 contos, todos escritos em prosa poética, com um eixo comum: o universo feminino. Solidão, maternidade não romantizada, introspecção, resiliência são alguns dos tópicos da obra. Ezter escreve desde a infância e hoje se divide entre a literatura e a polícia civil (é delegada). Confessa que seus contos vêm “da imaginação mesmo, já outros são mais empíricos, mas nada autobiograficamente descarado”.

Mariana Muniz usa e abusa dos cabelos para  compor as personagens

O espetáculo faz um recorte do livro e traz para o palco o que a diretora e a atriz definem como uma “construção coreográfica e teatral”. São histórias ficcionais e outras inspiradas na realidade. Temos desde a trajetória de Dona Rosa, que não sabe que vai morrer este ano e mora numa casa com bilhões de formigas, Geysiele com Y, a garota que sofre violência, Helena a esquecida, que anda com um cigarro apagado porque esqueceu o isqueiro e deseja saber quanto falta para esquecer Menelau, ou ainda a mulher que se sente Deus e a mulher que se torna parafuso.

Atuação que causa forte impacto

Com a iluminação de Wagner Pinto que pontua toda a narrativa, Mariana tem como elemento cênico apenas uma cadeira. Com a criativa movimentação de corpo e o uso inusitado das longas madeixas, a artista vai compondo o universo de cada uma daquelas mulheres. Depois de traçar o perfil delas todas, o final do espetáculo é surpreendente: sem uma única palavra, apenas com a coreografia e gestos, Mariana Muniz reproduz as sete mulheres novamente. Uma atuação deslumbrante. Assim, o espectador sai em estado de êxtase do teatro. Destaque ainda para o figurino de Marichilene Artisevskis e a trilha sonora de Mau Machado. Único senão: a temporada ser tão curta.

Roteiro:
Das Tripas- sete histórias. Texto: baseado no livro de Ezter Liu, Das Tripas Coração. Direção: Clara Carvalho.  Elenco: Mariana Muniz. Iluminação: Wagner Pinto. Espaço Cênico: Júlio Dojcsar. Trilha sonora: Mau Machado. Figurino: Marichilene Artisevskis. Fotografia: Cláudio Gimenez. Coordenação geral: Mariana Muniz e Cláudio Gimenez. Produção MoviCena Produções. Coordenação de Produção: Rafael Petri. Realização: Cia Mariana Muniz de Dança e Teatro e MoviCena Produções.
Serviço:
Teatro Sergio Cardoso, sala Paschoal Carlos Magno (143 lugares), Rua Rui Barbosa,153. Horários: sexta, sábado e domingo às 190h. Ingressos: R$40 e R$20. Vendas: Sympla. Duração: 60 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 16 de março.