De Maurício Mellone em setembro 9, 2014
Depois de percorrer diversos festivais de cinema pelo mundo (Espanha, França e Cuba) e dividir o prêmio de melhor filme do Festival de Cinema do Rio/2013 com O Lobo Atrás da Porta, De Menor acaba de estrear na cidade.
Filme de estreia da diretora paulista Caru Alves de Souza — que assina o roteiro ao lado de Fabio Meira—, retrata o trabalho de Helena, vivida por Rita Batata, uma defensora pública do Fórum de Santos que atua em casos de crianças e adolescentes presos pela polícia após cometerem crimes. O drama maior da jovem advogada é quando seu irmão Caio, de 17 anos, interpretado por Giovanni Gallo, é preso após participar de um assalto.
O filme tem início com Helena na praia, molhando os pés no mar; ela volta para casa e chama por Caio, que está no banho. Aos poucos o espectador percebe que se trata de dois irmãos que perderam os pais recentemente e tentam vender a casa, único bem deixado de herança. O laço de amor e cumplicidade entre os irmãos fica muito evidenciado.
Paralelamente, a trama mostra o dia a dia da jovem defensora pública, que nas audiências diante do juiz, interpretado por Caco Ciocler, tem de se contrapor ao promotor (Rui Ricardo Diaz), que aponta os crimes e delitos dos menores. Com sensibilidade, Helena procura contextualizar cada caso e apontar alternativas para as penas a serem impostas aos menores, geralmente com graves problemas dentro de casa (alcoolismo, drogas, violência e desestrutura familiar). Helena chega a procurar a mãe de um menor que furtou uma bicicleta (só para dar uma pedalada), tentando convencê-la a se reaproximar do filho.
Mas como diz o velho ditado — em casa de ferreiro, espeto é de pau —, Helena é surpreendida com o envolvimento de Caio num grave delito, em que num assalto a vítima é baleada. O garoto é preso e se nega a dizer a verdade até para a própria irmã. As convicções pessoais e profissionais de Helena são postas em xeque diante do caso de Caio.
De maneira delicada, De Menor discute uma questão que vira e mexe vem à tona: a redução da maioridade penal em casos de crimes hediondos. Em entrevista quando do lançamento do filme, a diretora é enfática:
“Ser a favor da redução da maioridade penal no Brasil é tratar a exceção como regra, é deixar de garantir os direitos dos adolescentes e, principalmente do adolescente pobre, para colocá-los na cadeia, que no nosso país é um grande depósito de gente”, argumenta Caru Alves de Souza.
Além de um roteiro enxuto e rico de possibilidades de reflexão, De Menor se destaca pela interpretação sensível de Rita Batata (premiada com melhor atriz no Festival de Marselha/França e no Cinemato de Cuiabá) e de Giovanni Gallo, que faz sua esteia no cinema, mas já é conhecido por sua atuação no premiado seriado da TV Cultura, Pedro & Bianca.
Fiquei extremamente sensibilizado com a delicadeza do filme, que marca a bela estreia da diretora em longa metragem (ela já dirigiu curtas e documentários para TV).
Foto: divulgação
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