Filme: Deixe a luz acesa, foto 1

Deixe a Luz Acesa: olhar profundo para a relação amorosa de Erik e Paul

De em fevereiro 11, 2013

Filme: Deixe a luz acesa, foto 1

Zachary Booth interpreta o advogado Paul, viciado em crack, que se apaixona pelo documentarista Erik, vivido com brilho por Thure Lindhardt

Uma relação amorosa contemporânea retratada em sua essência, sem pudor ou subterfúgios. Ou ainda, uma radiografia minuciosa sobre a vida de um casal, não importando se a união é entre um homem e uma mulher ou entre dois homens. Esta a proposta de Deixe a Luz Acesa (Keep the lights on) em que o diretor Ira Sachs, que divide o roteiro com o brasileiro Mauricio Zacharias, corajosamente expõe sua relação de mais de dez anos com Bill Clegg, que já havia contado sua versão da história no livro Retrato de um Viciado Quando Jovem (editado pela Cia. das Letras), sobre sua dependência química.
No filme, o espectador tem o papel de cúmplice de Erik, vivido de forma intensa por Thure Lindhardt: abandonado pelo namorado por telefone, o documentarista resolve refazer sua vida amorosa. Numa época pré-internet, Erik marca seus encontros por tele-sex; entre um e outro destes encontros fortuitos, ele cruza com Paul (Zachary Booth), um advogado que reluta em assumir sua homossexualidade, já que tinha uma namorada. O que poderia ser somente uma transa passageira, ganha outra dimensão, tanto que em pouco tempo Erik e Paul passam a viver juntos e convivem com os problemas comuns de qualquer relação, como ciúme, competitividade, insegurança e possessividade. No entanto, o envolvimento de Paul com o crack perturba decisivamente a relação do casal.

Filme: Deixe a luz acesa,  foto 2

Erik e Paul têm um romance por mais de dez anos


De forma didática, o filme marca bem o período em que desenrola o romance entre Erik e Paul: eles se conhecem em 1998, dois anos depois já moram num belo apartamento em Nova York e em 2003 o advogado mostra os primeiros sintomas de sua dependência química. A partir daí a droga passa a desarticular a vida de ambos: enquanto Erik debruça-se sobre seu projeto cinematográfico — documentário sobre um ativista gay nova-iorquino — Paul vive entre o mundo das drogas, a recuperação e constantes recaídas.
Em entrevista ao site do Festival Rio 2012, o roteirista brasileiro Mauricio Zacharias — que vive nos EUA há mais de vinte anos — confessa que produzir cinema de forma independente nos EUA também não é fácil:

 

“Acho que fazer cinema independente nos EUA não é muito diferente do que fazer daqui. Quando o filme é produzido por um estúdio, tem muita gente olhando o roteiro, muita gente dando opinião. Nesse caso, fomos somente eu, o diretor e o produtor conversando, tivemos muita liberdade. Com Deixe a Luz Acesa, apresentamos o roteiro para grandes estúdios, que acharam muito bom, mas não deixaram que seus atores participassem. As cenas de sexo e drogas são fortes, mas não poderia ser diferente quando se conta a história de um casal que viveu tanto tempo junto e de forma tão intensa”, afirma.

 

Filme: Deixe a luz acesa, foto 3

Thure Lindhardt cativa o espectador com sua interpretação visceral do cineasta Erik, alter ego do diretor Ira Sachs

Sem dúvida, há cenas fortes e chocantes, principalmente as que mostram Paul em estágio avançado da dependência. No entanto, o que mais me deixou perturbado no filme é que a trama é baseada num caso verídico. O não saber lidar com o viciado em crack é uma questão dos nossos dias e de difícil solução. E o olhar ácido para as relações afetivas, tanto hetero como homossexuais, também é provocante. Além de Erik e Paul, Claire (Julianne Nicholson) não consegue namorado fixo só porque quer ser mãe. Circunstâncias e questões, às vezes simples, impedem que as pessoas insistam e invistam na relação amorosa, mais profunda e verdadeira. Na relação de Erik e Paul, a verdade é fundamental, tanto que Paul numa cena pede que a luz da cabeceira da cama do casal fique acesa, numa metáfora da união deles: que tudo estivesse sempre às claras!
Como estou só há um bom tempo, saí da sala de cinema um tanto quanto angustiado. Mas convicto de que luto por uma relação aberta e sem sombras.

Fotos: divulgação


4 Comentários

Valeria

junho 16, 2017 @ 21:59

Resposta

Interessante.

Maurício Mellone

junho 19, 2017 @ 12:07

Resposta

Valeria,
obrigado pela visita
volte outras vezes
abr

Flavio

fevereiro 11, 2013 @ 23:32

Resposta

Mauricio, gostei em termos deste filme , pois mais uma vez sao abordados temas do submundo gay, como promiscuidade, busca do sexo pelo sexo, traiçoes , e com um final demasiado duro : incerteza, solidao e abandono !
Sei e concordo com sua visao da atualidade do tema e das dificuldades dramaticas de se resolver a questao do uso e do vicio do crack , mas ainda prefiro ver os casos menos densos de relacao e enxergar as possibilidades de casos que dao certo ! Visao de pisciano ? Abraçao !

Maurício Mellone

fevereiro 12, 2013 @ 15:58

Resposta

Flávio:
O enfoque da relação de Erik e Paul podia muito bem ser o da relação de Claire e o namorado negro, que não ficam
juntos porque não se entendem quanto à maternidade.
Os rapazes bem que tentaram (foram mais de 10 anos), mas o crack foi mais forte que o amor deles.
Não concordo que o filme retrata o submundo gay, já que traições, ciúme e possessividade
infelizmente permeiam toda e qualquer relacionamento, seja homo ou heterosexual.
Mas que a visão é dura, ácida e densa, isto concordamos totalmente. Talvez seja
intenção dos roteiristas provocarem reflexão aguda sobre os relacionamentos dos dias de hoje.
bjs e obrigado pela participação aqui. Volte outras vezes!

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