De Maurício Mellone em julho 1, 2025
Com texto e direção de Marcio Trinchinatto, o espetáculo Do Ré Mi Fu – o mundo fora de escala cumpre curta temporada, até o próximo dia 13 de julho, na sala Renée Gumiel, do Complexo Cultural Funarte. Trinchinatto ao lado de Renata Konsso apresentam seis pequenas histórias contemporâneas, de humor ácido e sarcástico, que demonstram a linha tênue entre civilidade e barbárie.
Os seis esquetes são independentes e trazem 12 personagens que discutem temas atuais como violência (tanto no mundo infantil como no adulto), abuso e assédio no meio profissional, homofobia, racismo e vingança. Mesmo que os temas mostrem o lado obscuro do ser humano, a dramaturgia ressalta a ironia das situações vividas tanto por crianças como adultos e idosos.
Com um cenário mínimo — um único móvel que se transforma de acordo com a cena —, o primeiro esquete, Vida & Vida, retrata o cotidiano de um casal de classe média em que ele, um alto executivo de uma grande empresa, vive para o trabalho e dá pouca atenção à esposa e quase nenhuma ao filho. Num jantar a dois, a mulher, no ápice das discussões e não suportando mais o descaso e a homofobia dele, revela que o filho deles é gay. Já a história seguinte, Flavio e Eduarda, mostra duas crianças brincando no recreio da escola; mais do que revelar o lúdico das relações infantis, o que sobressai é a rivalidade e o lado perverso delas.
A terceira situação, Entrevista de emprego, se passa num escritório, onde o dono da empresa recebe uma candidata a faxineira. No início da entrevista tudo se desenrola dentro dos padrões; no entanto, depois de ser contratada e no momento de fixarem o valor do salário, ela revela o verdadeiro motivo de ter se candidatado à vaga. Sua filha fora abusada pelo patrão e ela agora exige uma reparação. Na trama seguinte, Reunião de pais, as posições se invertem: um professor conversa com uma mãe, que exige que a filha volte a ser a protagonista da peça que ele está ensaiando. Depois de ouvir argumentos arrogantes e racistas, o professor se revolta e o embate entre eles é inevitável.
A quinta história, Paraíso, mostra são Pedro recebendo uma senhora que, ao saber que morreu, deseja entrar para o céu. Mas antes ele, lendo suas anotações, revela todo o passado nada abonador daquela mulher. O último esquete, Final Feliz, se passa num quarto de UTI: uma idosa, inconsciente, recebe a visita do velho companheiro, que faz um mea-culpa sobre suas atitudes no casamento; num determinado instante, ela acorda e eles põem a limpo a relação que tiveram. O desfecho é inesperado.
O destaque do espetáculo fica para a proposta dramatúrgica: histórias curtas e atuais, com diálogos incisivos, cortantes que provocam o espectador a rever suas posturas, já que os esquetes desvendam o lado sombrio do ser humano. Renata Konsso e Marcio Trinchinatto estão soltos em cena, em plena sintonia. Programe-se, a peça fica em cartaz só até o dia 13 de julho.
Roteiro:
Do Ré Mí Fu – o mundo fora de escala. Texto e direção: Marcio Trinchinatto. Elenco: Renata Konsso e Marcio Trinchinatto. Iluminação: Rodrigo Oliveira. Sonoplastia e projeções: Elis Lucas. Figurinos: Lilian Bonfim Atelier. Coreografia: Richard Brito. Cenografia: Evas Carreteiro. Fotografia: Willian Girarde.
Serviço:
Complexo Cultural Funarte SP/ Sala Renée Gumiel (53 lugares), Alameda Nothmann, 1058, tel 11 95078-3004. Horários: sexta e sábado às 20 e domingo às 18h30. Ingressos: R$ 60 e R$ 30. Venda: Sympla. Duração: 80 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 13 de julho.
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